terça-feira, 26 de abril de 2011

Um chá


Cheguei do trabalho ontem. Tarde Fria. Fui tomar um banho pra livrar a alma da fuligem das queixas do dia, e sempre são muitas, mais do que é capaz de imaginar. Quer ser minha "Sombra" durante um dia? Eu não seria cruel permitindo. Mas, também fui para o banho pra aquecer o corpo. Saí vestindo meu roupão de inverno, aveludado, marcado com minhas iniciais, do tempo do surto com o artista de cinema, que não queimei porque seria desperdício, é muito gostoso de usar. Fui até a cozinha. Coloquei a chaleira pra esquentar a água, que não deve entrar em ebulição, mas chegar às portas. Peguei uma das caixas de chá que ganhei. Uma pessoa querida, especial me deu. Abri a caixa escrita toda em Mandarim, vermelha. Nunca mais acharei esse chá se gostar dele, pensei. Não sei bem onde adquiriu pra me trazer. Fez a gentileza porque comentei da minha busca pelo chá que gostava e desapareceu do mercado: Real Bland! Era um chá preto. Lembro que dizia na embalagem: Tipo Assam e Orange Pekoe. Nunca mais achei uma marca de chá preto com estas duas características juntas. Do que pude descobrir parece que Tipo Assam significa que é da região de Assam - Índia e Orange Pekoe significa o tempo de secagem e torra. Encontrei há um tempo um substituto, também nacional, antigo, do tempo da minha avó (ela realmente usava): Tupi, caixinha amarela com o desenho de um índio - granel, caixinha vermelha - sachê, onde consta tipo orange pekoe, cujo sabor é bem próximo daquele favorito. Este da caixa vermelha escrita toda em Mandarim me deu dupla alegria: o sabor também muito próximo do favorito e ainda trazia boas lembranças da pessoa que me deu. A xícara também tem algo que evoca significados outros, tem a estampa estilizada de tulipas, flores lindas, de um colorido diverso, de uma terra especial. Com este conjunto - Roupão, chá e xícara - sentei-me no sofá da sala de TV e me senti abraçada pelo Roupão e aquecida pelo chá, bebendo lembranças saborosas e fortes. Servido (a)? Do chá. Lembranças? Sirva-se das suas. Das que forem tão boas quanto as minhas.


domingo, 24 de abril de 2011

Páscoa

Se Páscoa quer dizer vida nova
e se desejamos a todos isso
e recebemos votos dos outros
pra que isso aconteça em nossas vidas
temos que nos perguntar:
O que há de novo em minha vida?
Quais as perspectivas?


A coisa mais nova
e inusitada
foi uma sensação,
uma emoção forte
há poucos minutos
e escrevo ainda
sob o seu impacto:

um presente -
porque gratuito -
que encheu-me os olhos
há sete dias
quando chegou,
cheio de fitas
de cetim e de organdi,
de flores e de brilhos,
de cores e sabores,
de surpresas.

Guardei.
Abri,
toquei,
e lembrei
que há mais de 25 anos
não ganho uma coisa dessas.
Não se faz isso!
Provocar velhas emoções
novamente.

Também não dá
pra esperar as coisas novas chegarem,
as mudanças acontecerem,
é preciso dormir e acordar,
é preciso caminhar.
Mas apesar disso
coisas novas chegam
sem nosso esforço sim:
o novo minuto,
o novo dia,
a nova estação,
o novo sonho,
a nova alegria
um novo pedido,
uma nova tarefa,
uma nova informação.
Até novas pessoas!

sexta-feira, 22 de abril de 2011

A falta

Hoje é sexta-feira santa.
Hoje é dia da falta.
Dia de lembrar da falta.
Da falta do Filho do Homem.
Da falta de um caminho de volta pra Deus.
Da falta das coisas importantes.
Por isso dia de Jejum.

Deixamos faltar um pão
pra lembrar da falta de outro.

Mas há quem já sinta a falta
de muitas coisas todos os dias,
não havendo falta pra lembrar
porque é repetidamente vivida.

Há quem sinta falta crônica
de cultura,
de lazer,
de saúde,
de conhecimento,
de fé,
de bens,
de afeto.

À falta de Deus
veio a ressurreição.

E à falta dessas coisas humanas todas?

Há quem nunca tenha Páscoa
porque nunca essas faltas são supridas.

Há quem use como Páscoa no dia-a-dia
o jogo de Pollyanna, hipnose ou terapia.

Há quem use como Páscoa no dia-a-dia
Limbitrol, Prozac ou Sertralina.

Há quem use como Páscoa no dia-a-dia
a bebida, o cigarro ou a cocaína.

Há quem use como Páscoa no dia-a-dia
os livros, a arte ou a endorfina.

A todos faltam coisas importantes
que não podem ser supridas por si mesmos.

A todos faltam coisas importantes
que os outros poderiam ajudar a suprir.

A todos faltam coisas importantes
que muitos esperam suprir no descanso eterno.

A todos faltam coisas importantes
que suprimos como, quando e quanto podemos.

Alguém ainda quer contar com alguém?
Alguém ainda poderá contar com alguém?

Alguém presume como viver sem a falta?
Alguém se dá conta do que não lhe falta?

Agradeça.
"...o que falta cega p'ro que já se tem". (Paralamas do Sucesso)

* Veja a postagem "É lindo o gesto de se oferecer" de 02.03.11.

As delicadezas serão sempre lembradas

Uma vez recebi um slide por e-mail com a frase dizendo que
"podemos esquecer o que nos disseram e o que nos fizeram, mas jamais como nos fizeram sentir".

É assim que lembro de algumas pessoas...com a grata sensação de ter sido olhada, respeitada, valorizada, compreendida, percebida, considerada existente, portanto, viva.

Mas também lembro de algumas pessoas...com a desagradável sensação de ter sido ignorada, desrespeitada, desvalorizada, incompreendida, despercebida, considerada não-existente, portanto, morta.

Guardo, porém, o que me interessa, o que vale a pena, o que agrega, o que constrói, o que dignifica, o que significa que há gente boa no mundo, gente gentil, elegante, sincera, delicada, perspicaz, educada, civilizada, altruísta, crescida, amadurecida, "vivida", "fina", querida, merecedora de toda retribuição por sua grandeza.

Obrigada aos humanos que cruzaram meu caminho com sutilezas, com sensibilidade, com atitudes elevadas - todas características que disfarçam o que se tem receio de dizer...amorosidade!

Obrigada pelo reflexo do rosto Divino! Se pudesse nominar sem ferir aos outros o faria, mas não quero eu perder a bondade. Cada um sabe o bem que me fez sentir, meus olhos, sorriso e gestos não conseguiram conter a expressão do que veio impetuosamente tantas vezes como resposta do meu "coração" - palavra desgastada, órgão mal cuidado, simbolismo ainda carregado de poder de comunicação pra dizer dos sentimentos, das emoções, dos impactos, dos traumas e das curas, do que nos faz humanos, do que nunca se esquece, do que já tentei me livrar, do que aprendi a ressignificar, do que tenho feito tesouro em caixinhas com anotações, pra registrar uma história de amorosas migalhas de um pão que vai mantendo a vida até o banquete eterno chegar.

Lua linda!

Hoje ao sair de casa à noite, deparei-me com a lua no céu iluminadíssima, segundo dia de lua cheia.
Alguém, em algum lugar talvez também perceba esta beleza e se sinta atraído a admirar, contemplar, e como um lobo sinta-se impelido a uivar.
Quem ouvirá?
Os loucos.
Os lunáticos.
Os românticos.
Os andarilhos.
Os vigias.
Os insones.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

A Generosidade de um homem

"A generosidade de um homem é proporcional ao seu desejo ou à sua culpa".
(Madame Berthe Legrand - Cafetina - personagem da atriz Tônia Carrero nos primeiros episódios da novela Senhora do Destino, exibida na Rede Globo de Comunicação - TV aberta)

É bom ouvir alguns "vilões" das histórias. Nas suas falas esconde-se, muitas vezes, sabedoria, de gente vivida, de gente sofrida, de gente forte, de gente sem frescura, de gente observadora, de gente que aprendeu sem querer, de gente roubada, de gente reconstruída, de gente seletiva, de gente que acredita, de gente franca, de gente que se humanizou, de gente que se santificou.

Pensemos na frase acima e na relação de uma esposa e seu esposo.
Poderá a esposa amorosa receber muito do esposo
acreditando ser obra do seu imenso desejo por ela
e ao contrário ser obra exclusivamente da culpa,
ou, vice-versa.
Como ter clareza?
Investigando?
Algum teste?
Nenhum.
Talvez a saída não seja ter clareza
da motivação menor
dessa grande generosidade do outro.
A saída da dúvida
está em mudar o olhar
para a motivação maior do outro,
para a motivação anterior
ao seu ato de dar com generosidade,
e não mais para o possível desejo ou culpa,
isto tem valor pequeno
diante do que elucida de fato
a equação do amor nessa situação:
ora, da parte dele
a motivação imediata
e superficial
seria por uma coisa ou outra:
desejo ou culpa,
que pouco importam,
porque sua motivação anterior
não tem mesmo origem nele
seria fruto de uma só coisa -
- do quanto ela o amou,
do quanto ela o fez se sentir amado.
Como se tanto o esposo desejoso ou infiel
ficasse preso a ação indelével do amor dela,
sendo compelido a retribuir
independente da sua condição
de homem ou anjo caído.
Assim, alguns permanecem
amando como podem,
como sabem,
como lhes resta,
simplesmente
porque se sentem compelidos,
jamais se sentiram tão amados assim.
Pode mudar a forma da generosidade,
mas ela está lá,
como um sinal
daquilo que ela o fez sentir um dia.
A esposa que ama incondicionalmente
sempre terá de volta
generosidade!
Do Homem e/ou do Anjo Caído.
Daquele que a deseja e/ou daquele que algum mal lhe fez.

O quanto amamos

Pelo que seremos julgados?
Pelo que seremos salvos?
Se é que a divindade maior realmente pensa nisso como um futuro.
Se é que já não fomos julgados.
Ouvi falar que já fomos salvos.
Do que?
E quem concorreu ao prêmio?
Que prêmio ganhamos e não sabemos?
Havia cupons?
Havia bilhetes?
Uma numeração para sorteio?
Ao que tudo indica
todos nós fomos premiados.
Todos nós somos felizardos.
Todos nós podemos brindar.
Só precisamos comparecer à festa
apresentando a ficha cumulativa.
Que ficha é essa?
Conhece ficha médica?
Em que seu médico anota, resumidamente,
seu quadro clínico cada vez que o consulta,
registrando o que você fez ou não,
como fez o tratamento e os resultados?
Bem igual.
Um histórico!
Ouvi dizer que nele será avaliado
o quanto amamos.
O "quanto" aqui,
sem menção do como,
faz este segundo atributo parecer
que está implícito, tácito,
como se amar só tivesse um jeito
e o que fará diferença
é só mesmo o quanto.
Como se mede isso?
Talvez pela gratuidade
do que recebemos.
Talvez pela busca repetida
que o outro faz
da nossa presença,
do nosso olhar,
da nossa voz,
das nossas palavras,
dos nossos gestos.
Talvez nós nunca saibamos
quanto amamos.
Talvez o outro nunca nos diga
com palavras.
Mas sempre dirá
na atitude de busca.
Quando alguém quer
estar perto de nós,
sem termos jogado,
prometido fantasias,
ameaçado ou chantageado,
continuamos não sabendo
o quanto o amamos,
mas sabemos que o outro
sentiu-se muito amado.
Nosso prêmio por isso?
Uma festa de casamento
à moda antiga - me disse um padre amigo,
como as do tempo dos nossos avós
(eu lembro do casamento da minha madrinha - foi assim),
em que a festa era preparada
pela família e amigos
por dias
e durava também
alguns dias,
acontecia na casa da família,
todos sentados à mesma mesa
comprida,
todos comendo e bebendo juntos,
sorrindo, dançando, comemorando,
servindo e desfrutando
ao mesmo tempo.
Assim ele descreveu o paraíso.
Desde então adorei saber
que já fui salva
e cuido sempre
da minha ficha cumulativa
pra que esteja preenchida
com registros grifados
de muito amor!
Amo as pessoas.
As que merecem
e as que não merecem.
As que souberam receber
e as que não souberam.
As que retribuiram
e as que não.
As que retribuiram com flores
(e literalmente recebi algumas,
mas duas extraordinariamente
cultivadas e exuberantes, raras,
uma delas de um perfume
que me faria ressuscitar)
e as que retribuiram com punhal
(e figurativamente recebi alguns).
Amo as pessoas.
As que doentes ou não,
olharam nos meus olhos
e deram o que são.
As que por um segundo
ou por todo o tempo que nos conhecemos
foram intensas e verdadeiras.
As que me emocionaram
ou me fizeram pensar
ou as duas coisas.
As que tiveram cuidado
e as que não se preocuparam.
As que me fizeram crescer
por bem ou por mal.
As que mentiram pra si mesmas
e as que deixei acreditar que me enganavam
ou as que mentiram pra mim
e de fato me iludiram.
As que me fizeram descer ao submundo
e as que me elevaram ao cume da montanha.
As que me ouviram
e as que me calaram.
As que fugiram
e as que se aproximaram.
As que condenaram
e as condenadas.
As violentas
e as falsamente mansas.
As de quase todas as origens étnicas.
As com vontade de crescer.
As que Deus julgar
que carecem da minha forma de amar:
intensa,
ingênua,
desmedida,
emotiva e racional,
sensível e  objetiva,
humana e divina.
As que carecem
de amor.
Amo as pessoas!
Como posso.
Quanto posso.
Quando posso.
Onde posso.
Porque posso.
Para me esvaziar.
Para ver.
Para sentir.
Para insistir.
Para retribuir.
Para contar
um dia aos netos
que amar vale à pena
quando guardamos
e de novo nos emocionamos
só com o que houve de bom
mesmo lembrando de tudo.
Aos que amei...
aos que me amaram...
aos que amarei...
aos que me amarão...
ao que amo...
e ao que me ama...
festaremos na eternidade:
brindando com sorriso,
dançando com leveza,
degustando com prazer,
conversando com intimidade,
silenciando com afeto,
abraçando com liberdade,
sem despedidas.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Fenômenos da Interação Humana - Processo Decisório

Em nossa vida quotidiana estamos constantemente tomando decisões. Algumas são muito importantes, como por exemplo decidir onde vamos morar, que emprego vamos procurar, com quais pessoas queremos nos casar, etc. Outras são mais triviais, tais como escolher um cinema para ir, um restaurante onde comer ou a roupa que vamos vestir. Seja como for, a vida nos apresenta, com enorme freqüência, situações em que temos que escolher uma entre duas ou mais alternativas.

           Em psicologia, um misto de aspectos racionais e emocionais é considerado no processo decisório. Nossas decisões têm conseqüências importantes, tanto para nós mesmos como para outros eventualmente atingidos por elas. Sendo assim, justifica-se o interesse da psicologia pelo fenômeno. Embora, à primeira vista, o processo decisório pareça estar limitado exclusivamente ao plano pessoal, é compreensível o interesse da psicologia social pelo assunto, pois nossas decisões são também influenciadas pelo que os outros pensarão delas e, ademais, o fato de vivermos em sociedade e de nossas decisões serem públicas faz com que o pensamento que as precede seja um “pensamento social” e, portanto, de interesse da psicologia social.

1.    Fases psicológicas do processo decisório

a)    A fase pré-decisional do processo decisório. Nesta fase, a pessoa considera objetivamente os prós e os contras das alternativas e as avalia cuidadosamente. É quando nos sentimos em condições de decidir, isto é, quando tivermos coletado informações suficientes que nos permitissem optar.

b)    A fase de tomada de decisão propriamente dita.. Quando faço a escolha.

c)    A fase pós-decisional , onde as avaliações dos prós e contras das alternativas consideradas deixa de ser racional e objetiva e passa a ser emocional e tendenciosa no sentido de justificar a alternativa escolhida.

2. Conflitos Pré-decisionais

O processo decisório é, via de regra, um processo penoso, pois é sempre precedido por uma situação de conflito, a qual, ao ser tomada a decisão, não se extingue completamente, de vez que existem aspectos positivos nas alternativas rejeitadas e negativas na escolhida. Daí o estado de dissonância cognitiva e a conseqüente necessidade de tentarmos eliminá-la ou, pelo menos, reduzí-la.

           Quanto maior o conflito pré-decisional, maior a motivação a reduzir a dissonância após a decisão. Kurt Lewin, um dos maiores psicólogos sociais de todos os tempos, classificou os conflitos em três tipos: aproximação-aproximação, aproximação-evitamento e evitamento-evitamento. O primeiro tipo (aproximação-aproximação) ocorre quando nos confrontamos com duas alternativas atraentes e temos que optar por uma delas. É o caso por exemplo de termos que decidir entre dois bons empregos, entre dois programas para as férias, entre dois excelentes restaurantes, etc. Esse tipo de conflito é relativamente fácil de resolver, e a dissonância que a ele se segue é fácil de sereliminada ou reduzida. O segundo tipo de conflito é o conflito aproximação-evitamento. Neste, as alternativas possuem aspectos positivos e negativos. Tal tipo de conflito ocorre, por exemplo, quando desejamos uma coisa cara. Outro tipo de conflito é o evitamento-evitamento, quando temos que nos decidir por uma entre duas alternativas desagradáveis. É o caso, por exemplo, de Ter que aturar um patrão indesejável ou perder o emprego; de Ter que suportar um apartamento desconfortável e barato ou mudar-se para um melhor porém muito caro. Nestes casos, a dissonância é intensa e a redução da mesma difícil, mas necessária.

3.    Decisão individual e decisão em grupo

Vários estudos demonstraram que as decisões grupais são, via de regra, mais arriscadas que as decisões individuais. Algumas explicações são apresentadas para isso. Uma delas é que, em graupo, difunde-se a responsabilidade, isto é, torna-se fácil para cada membro sentir-se menos responsável, pois o grupo, e não cada um de seus membros, é o responsável pela decisão. Se a mesma se mostra equivocada, cada um dos membros se defende atribuindo ao grupo, e não a si, a responsabilidade pelo erro.

Outra explicação geralmente oferecida para o fato de as decisões grupais serem mais ousadas que as individuais é o fato de prevalecer entre nós uma norma de valorização do risco e da audácia. Num grupo, é mais fácil obter-se apoio social para esta norma e daí a maior freqüência de decisões grupais arriscadas.

Muitas vezes, os grupos tomam decisões muito inadequadas.

Em todos os casos analisados por Janis, as decisões equivocadas foram tomadas por grupos cujos membros, ao invés de atentarem às evidências que as várias situações lhes apresentavam, preferiram uma atmosfera falsa, autop-reforçadora, que lhes satisfaziam o ego, à custa de total desprezo pelos dados de realidade.

Em sua análise dos grandes fiascos históricos decorrentes de decisões grupais inadequadas, Janis salienta que todos eles possuem, pelo menos, seis características comuns, a saber:

1.    o grupo limita sua decisão a umas poucas alternativas, sem se preocupar com a consideração de todo o espectro possível de alternativas viáveis;

2.     o grupo se nega a reavaliar o curso de ação originalmente tomado pela maioria de seus membros;

3.    o grupo negligencia alternativas inicialmente avaliadas como insatisfatórias pela maioria, dedicando pouco ou nenhum tempo à consideração de possíveis formas de corrigir eventuais falhas das alternativas desprezadas;

4.     os membros não se preocupam em obter informações de pessoas competentes que não pertençam ao grupo, numa supervalorização da capacidade de seus membros e desprezo por contribuições daquelas pessoas não pertencentes ao grupo;

5.    tendenciosidade seletiva, isto é, viés na percepção de informação contrária ao curso de ação preferido; e

6.    os membros dedicam pouco tempo à consideração de fatores tais como inércia burocrática e possível sabotagem na execução do plano decidido, deixando assim de tomar precauções para enfrentar tais eventualidades.

Fonte:

RODRIGUES, A. Psicologia social para principiantes. 17ª ed. Petrópolis: Vozes, 1996, p. 43-49.

Fenômenos da Interação Humana - Agressividade e Altruísmo

Podemos definir comportamento agressivo como qualquer comportamento cuja finalidade é causar dano a outrem.

A condição para se determinar e considerar o ato agressivo, não é só o dano causado a outrem e sim, estabelecer se houve “causalidade pessoal” (intencionalidade) ou “impessoal” (devido a fatores que escapam à “vontade” do agente). Mesmo sem dano a outrem, alguns atos podem ser considerados agressivos, quando houve intenção e algo interrompeu a seqüência de atos que conduziram ao dano desejado. Só será considerada agressividade quando houver a intenção (causalidade pessoal). E o poder legítimo e de informação, exercido sobre alguém para que este pratique o ato agressivo? Neste caso, discute-se a co-responsabilidade do agente e do superior que deu a ordem. A discussão é de ordem ética, jurídica e psicológica.

Sobre a origem do comportamento agressivo, em outras épocas, acreditou-se que alguns possuíam o “instinto” agressivo. Hoje, considera-se o comportamento agressivo como resultado de várias causas, sejam psicológicas, neurológicas, sociológicas, ambientais entre outras.

Dentre as causas psicológicas, aparecem:

-          Aprendizagem: educação dada pelos pais, que só atendem o pedido de um filho quando ele é agressivo ou, que repreendem agressivamente os maus comportamentos do filho em vez de repreender com firmeza. Como se aprende por imitação, há uma discussão sobre o efeito de filmes e programas de televisão com cenas de violência. Uns dizem que influencia negativamente, outros dizem que serve de “catarse” - simbolicamente a pessoa se imagina sendo agressiva como personagem da TV e assim evita a agressividade real.

-          Fatores situacionais: frustração, provocação, perda.

 Outras causas são apontadas:

-          Distúrbios neurológicos: grave lesão cerebral, ausência ou excesso de certas substâncias químicas no cérebro, ou seja, neurotransmissores e outras;

-          Sociológicas: pobreza, opressão, cultura delinqüente, injustiça social;

-          Ambientais: bebida alcoólica, tráfico e, consumo de drogas.  

  Quanto ao comportamento altruísta, dizemos daquele que visa causar bem a outrem sem expectativa de retribuição, no entanto, uma ação que gera bem a outrem independente da vontade do agente, não pode ser considerada altruísta, pois falta o elemento da intenção.

  Das causas apontadas para o comportamento altruísta, surgem: a aprendizagem (igualmente à agressividade) e, principalmente o fator situacional, como no caso de estarmos diante de alguém em perigo, é mais provável que façamos alguma coisa para ajudar se estivermos sozinhos, pois em grupo há difusão de responsabilidade, e um deixa para o outro tomar a iniciativa.

  Na sociedade capitalista torna-se cada vez mais rara a ação altruísta, visto que os indivíduos são estimulados e conduzidos à competição e à satisfação de seus interesses pessoais, bem como, a dar apenas na medida em que recebermos em troca. O altruísmo há que ser desenvolvido, estimulado nos professores, com o objetivo de provocar e acompanhar a sua evolução, num movimento que se inicia na centração do homem em si mesmo e depois, pela descentração, torna-o capaz de transcender a si mesmo para ir até o outro.

“Quer isso dizer, em primeira aproximação, que não podemos progredir até os limites de nós mesmos sem sair de nós mesmos, unindo-nos aos outros, de modo a desenvolver por essa união um acréscimo de consciência – em conformidade à grande Lei de Complexidade”.  (CHARDIN, 1978: p.81).

Fontes:

RODRIGUES, A. Psicologia social para principiantes. 17ª ed. Petrópolis: Vozes, 1996, p. 91-97.

CHARDIN, T. Mundo, Homem e Deus. 2ª ed. São Paulo: Cultrix, 1980, p.81.


Um ano de sucesso - Abril



TRABALHO EM EQUIPE
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Sozinhos podemos fazer tão pouco, juntos podemos fazer tanto.

HELEN KELLER