quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Perspectivas do mundo

Alguns têm uma perspectiva do mundo do sofá. Outros da janela. Outros da rua. Outros do céu. Outros da sarjeta. Alguns de todos esses lugares.
Alguns têm uma perspectiva de mundo dos livros lidos.
Alguns leem a vida dos outros.
Alguns vivem o que leem ou só o que leem.
Alguns só leem.
Alguns só vivem.
Alguns nem leem, nem vivem.
Alguns leem e vivem.
Eu sempre gostei das duas coisas integradas, circunscritas, permeáveis, a leitura e a vivência como temperos uma da outra.
E por mais que saiba que não é preciso por a mão no fogo pra saber que ele queima, tenho queimado a mão.
Talvez eu leia algo sobre curar queimaduras.
Talvez não encontre um médico.
Talvez sucumba apesar dessa leitura.
Talvez eu só esteja no processo da curvatura da vara, tendendo agora para outro lado até voltar ao centro.
Será que os livros explicam isso?
Será que a vida é mesmo isso?
A sua, a minha e a de todo mundo?
O que será o mundo?
O que li sobre ele?
O que vivi no pico da montanha e na sarjeta?
O que alguém já leu ou viveu?
Minha perspectiva tem se tornado cada vez mais humana e menos angelical.
Minha humanidade tem sobrevivido às letras mortas,
tomara minhas letras mortas sobrevivam à humanidade.
Tomara minhas perspectivas de mundo se dilatem ainda mais.
Tomara minhas leituras escrevam sempre nova história,
vivida, enriquecida, perfumada de realidades e fantasias,
e minhas idiossincrasias sirvam de luneta e de tinta de caneta
para ver além e escrever, o que talvez seja um dia
uma das perspectivas de mundo de alguém
que lê sentado no sofá.

sábado, 10 de setembro de 2011

Falha congênita

Hoje eu vi os olhos da aberração!
Vi o condenado que abrigava esses olhos.
Mas você não vai saber reconhecê-lo.
Você não conhece.
Você não sabe.
Você dá outro nome para esses olhos.
E parecem sempre doces.
Aliás você não gostaria de saber.
E eu nem lhe desejo que conheça.
Conhecer esses olhos é descobrir que alguns nascem condenados.
Condenados a nunca sentir o que o outro sente.
Castrados da empatia.
Incapacitados de aprender a se por no lugar do outro emocionalmente.
Mas extremamente hábeis intelectualmente para forjar todo e qualquer sentimento.
Não fossem perversos, poderiam servir bem à dramaturgia.
Não fossem perversos, poderiam servir bem à medicina.
À primeira, por exigir perfeita simulação das emoções humanas.
À segunda, por exigir extrema objetividade para cuidar da tão delicada e frágil vida humana.
Eu, que já tinha experimentado as manobras ardilosas de algumas dessas aberrações ao longo do tempo, na forma de homem e na forma de mulher, ainda assim não percebi de imediato quando este se me apresentou.
Mas as experiências foram acendendo as luzes de alerta.
Em dois meses foi possível fechar o "diagnóstico" e à duras penas, abandonar a proximidade.
Medida de sobrevivência, de proteção e objetivamente de abandono também.
Não há o que fazer para "salvar", para "curar", para "corrigir", para alterar o quadro clínico inorgânico de um psicopata antissocial.
A ciência ainda não descobriu a saída.
As últimas investigações se debruçam sobre o sistema límbico e a possibilidade de "ligá-lo", de "acioná-lo", de "startizá-lo" e quem sabe assim transformar essas aberrações em gente.
Não estou falando de deformação física.
Estou falando de deformação da personalidade, ou melhor, impossibilidade de formação.
Muito mais difícil de perceber.
Muito mais desconhecida.
Muito mais negada.
Muito mais à vontade, portanto, em meio ao desconhecimento, para deleitar-se com os feitos.
São pessoas aparentemente dóceis, aparentemente generosas, aparentemente gentis, aparentemente corretas, aparentemente sensíveis.
Mas são ao mesmo tempo sedutoras, manipuladoras, criativas, perspicazes, rápidas, habilidosas com as palavras principalmente na construção de histórias, e notem...as histórias são sempre mal explicadas, há sempre falhas nas justificativas de seus atos, caem frequentemente em contradição, e quando cobradas pela incoerência "engatam" nova tentativa de explicar por meio de outra história mal construída,  e se "pegas" e cobradas novamente sobre a incoerência, vão dissimulando, seduzindo, ou saindo de cena.
Geralmente seu comportamento é manso na maior parte do tempo, sua voz é muitas vezes suave, lança sempre mão da manobra de presentear e "agradar" com coisas e/ou elogios o escolhido para a dominação e usurpação. E os desavisados caem sempre na rede desses astutos, por carência, pouca instrução e/ou pouco discernimento. Até por acharem "feio" pensar "mal" dos outros.
Algumas pessoas acham que eu vejo coisas que não existem...rs. Algumas pessoas quando eu falo disso, estampam nos seus olhos que acham meu comentário improcedente, exagerado ou até descabido, seus olhos dizem que estão questionando meu conhecimento do assunto.
Não é preciso ter um CRP ou CRM pra conhecer, pra saber, pra entender, pra perceber as características presentes numa pessoa.
Basta que você tenha sofrido a convivência com um portador e lido um pouquinho sobre o quadro clínico preocupado em efetivamente conhecer para precaver-se.
Não se iluda, você já cruzou com alguém assim.
Sabe aquela pessoa de quem você se refere dizendo..."ela é ruim!", "ela faz tudo e qualquer coisa pra conseguir o que quer, é inescrupulosa!", "ela age sempre sorrateiramente!", "ela vive a dar golpes!", "ela engana bem!", "ela vai levar os pais à loucura!", "ela nunca construiu nada!", "ela sempre se aproveita dos outros!" (qualquer semelhança com alguns políticos é mera coincidência...rs.)... a probabilidade dela ter personalidade antissocial é bem grande.
Entenda e abandone o estereótipo de que psicopata antissocial é sempre um assassino. Alguns são assassinos, outros não, isto no sentido denotativo, porque no sentido conotativo todos são assassinos por matarem aos poucos a confiança e a tranquilidade daqueles que com eles convivem.
Não se superestime quanto a saber lidar com uma pessoa dessas.
Só há dois caminhos: abandoná-la a própria sorte e assim permitir que siga a vida prejudicando os outros ou "derrubá-la" numa cama com psicotrópicos para evitar que cause prejuízos de toda ordem (leia-se material, financeira, social, emocional) a outrem. A segunda opção é consideravelmente recomendável, por ir além da própria proteção e estender-se à proteção da sociedade.
Pais e mães façam um esforço de não superprotegerem esses filhos e não negarem-se a enxergar os fatos como eles são para que possam intervir antes que os danos sejam graves e muitos. Sim. Vocês podem ter gerado uma pessoa dessas.
Não sejamos ingênuos, ignorantes desta realidade humana. É fato. Existe. E muito mais ao nosso redor do que imaginamos ou gostaríamos. Eu hoje tenho clareza de ao menos seis pessoas dessas terem cruzado meu caminho, algumas por muitos anos, outras de passagem, mas sei que outras virão.
Admitam a possibilidade antes que sejam uma das vítimas.
Muitas vezes as perdas e danos são irreparáveis.
E quando existirem, que isto não seja por negligência sua com o conhecimento e a autoproteção.
A sua vida é respondabilidade primeiramente sua. Cuide dela. Proteja-se. Identifique. Aja nestes casos em duas direções, a sua e a da sociedade, mas sempre de forma a proteger e evitar novas investidas do psicopata que sempre pensará, planejará e agirá somente para obter para si status/poder, prazer ou dinheiro.
Você já emprestou muito dinheiro e várias vezes à mesma pessoa?
Você já foi exibido ao lado dessa pessoa uma ou várias vezes para conferir-lhe empréstimo da sua reputação e valor na comunidade?
Você já foi seduzido a atender os caprichos compulsivos de alguém?
Cuidado!
Investigue.
Seja objetivo.
Seja assertivo.
Sob pena de você não ser capaz de dimensionar o mal que um ser humano é capaz quando seu sistema límbico não funciona adequadamente e sofrer as consequências disso.
Agora vou tomar um banho para lavar os olhos do que vi, tomar água para limpar o organismo do veneno que as lembranças intoxicaram, depois ouvir música agradável que me traz boas recordações, preparar uma comida com aromas e têmperos pra perfumar a alma enquanto repõe o fluxo energético do corpo.
Esta é uma das estratégias para depurarmos o impacto de coisas ruins.
Os olhos que eu vi desviaram-se uma, duas, três vezes, mas não conseguiram desviar pela quarta vez ao meu olhar fixo que os prendeu, que os amarrou. Com isto o fiz lembrar da história enganosa em que me envolveu, e isto é o máximo possível - fazê-lo lembrar, porque suas funções cognitivas funcionam muito bem geralmente (atenção, memória, raciocínio lógico, planejamento...), o que não funciona é a sensibilidade, a emotividade. Logo, as armas não devem ser desta natureza, seriam ineficazes. O que o atinge é apenas o físico e o cognitivo. Era necessário deixar claro que eu o vi, que eu sei, que eu conheço, que eu não sou alvo fácil, que ele é que foi descoberto e por isso está fragilizado.
Como saber que a arma cognitiva funcionou?
Ele foge!
Ele olha pra você.
Ele sorri pra você.
Ele cumprimenta você.
Mas ele fica perturbado (cognitivamente e não emocionalmente), inquieto e "cria" uma fuga rápida e nobre.
Ele se foi, mas ele sabe que dele mesmo não pode fugir.
Isso o faz um condenado.
O que o criador quer com essa criatura?
Deixar-nos mais espertos? Desconfiados? Ensinar-nos o que? Fazer-nos sentir privilegiados? Estimular-nos a pesquisar e descobrir o gatilho e a cura?
      

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Aprendizagem direta e indireta

Enquanto diretamente aprendo sobre Direito - Previdenciário, Administrativo, Constitucional; Língua Portuguesa de novo; Raciocínio Lógico outra vez; Noções de Administração; Conhecimentos Matemáticos; indiretamente aprendo sobre desumanização, sobre limites, sobre neuroses, sobre injustiça social, sobre "energiatomia" (neologismo pra indicar incisão na energia), sobre cultura objetivante em detrimento da cultura subjetivante, sobre priorização, sobre impossibilidade humana, sobre o poder do ginseng e da cafeína, da indiferença e do descaso alheio, sobre a imperatividade dos modelos de infância como o da inquietude, sobre ganhar o pão com  o "suor" do rosto e com o "sangue" da alma, sobre vale quanto pesa, sobre a tão comum incapacidade empática - típica dos psicopatas antissociais (sem cura ainda), sobre incapacidade pessoal de planejamento, sobre volubilidade, sobre ineficiência e ineficácia, sobre doenças da vontade - menos a obstinação e a procrastinação, sobre excitabilidade excessiva para a vida e a incapacidade corpórea de correspondência, sobre estar e não estar numa situação ou estar em duas ao mesmo tempo, sobre estar no mundo e não ser do mundo (não estou falando de esquizofrenia), sobre preferir ter menor consciência para menos impacientar-se, sobre subutilização das competências humanas, sobre estratégias suicidas de uma organização de pessoas ou de uma delas, sobre a preciosidade do sono e a incrível ineficácia da ciência para suprí-lo com alguma droga, sobre o mérito do pão e a concessão da migalha, sobre a resistência a servir-se do que sobra, sobre isto poder significar sintoma da megalomania típica de um quadro clínico psíquico específico ou não, sobre experiência de exaustão, sobre ensimesmamento próprio e alheio em crescimento exponencial, sobre generosidade rara mas possível, sobre presentes que surgem, sobre desfrutar o que é possível, sobre se agarrar ao que se tem, sobre rever todos os valores em função das contingências e necessidades básicas, sobre o jogo da Pollyana não ser de todo mal ou enganoso, sobre ser feliz apesar de, sobre sempre querer mais, sobre ter sede insaciável de absoluto, sobre reconhecer a perfeição de algumas atitudes, sobre superação mesmo que isto arranque um riso irônico de mim mesma, sobre lutar  em vão, sobre esperar a morte chegar com os ares da falsa nobreza de quem finge não se cansar, sobre minha incapacidade de tergiversar para sobreviver ou mesmo para morrer. Por isso ainda vou atrás de outras aprendizagens diretas, mais comuns, mais aceitáveis, mais louváveis, mais óbvias, mais úteis, mais pragmáticas agora. Ah! Antes tivesse eu escolhido melhor - a aprendizagem direta a ser realizada em outros tempos. Quero dizer com isso que poderia ter sido uma aprendizagem que gerasse mais rentabilidade, afinal, tanto estudo, tanto saber para pouca justiça quanto ao retorno do empenho. E como se espera deste blog algo mais picante, não posso deixar de dizer que teria sido sobejamente melhor dedicar-me à aprendizagem direta da sofisticação da arte de Maria Madalena, que na pior das hipoteses garantiria um prazer mais palpável e não tão etéreo, tão somente intelectual. Acredita que penso mesmo nisso? Não? Apenas coisa da idade: escrachar as possibilidades já que as realidades são insuficientes, insatisfatórias, incapazes de arrancar um riso, mesmo que irônico. E a ironia é a arte dos fracos, mesmo que momentaneamente.  Livra-me Deus, então, dessa fraqueza, dai-me a força para não brincar com coisa séria ou dai-me alguma coisa que não seja séria pra eu poder brincar um pouco e ficar leve como os infantes despreocupados e esperançosos. E pra quem não entendeu nada, vou traduzir: muitas horas de trabalho não reconhecido e mal pago, acrescidas de muitas horas de estudo pra concurso, pra tentar ao menos ser bem paga e com isso dar-me o que gosto e mereço. No meio desse processo, impossível não "ler" a realidade das relações humanas, das minhas relações humanas. Não gostei dos dois últimos períodos do texto, tiram toda a graça da dúvida, da pergunta, da investigação, mas satisfazem o leitor mais desatento, menos perspicaz ou, tão somente que não me conhece ou não me acompanha neste momento (sinta-se desculpado). Então, hoje darei uma chance a esse, mas registro que prefiro a incógnita gerando infinitas possibilidades de interpretação. Generosidade? Não mesmo. Acho que é só mais uma forma de acentuar o escracho da vida.