segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Pelo direito de sentir dor e ser saudável psiquicamente

Incrível como algumas pessoas têm dificuldade de encarar, de aceitar que alguém às vezes não está bem. Sua angústia e ansiedade em fazer o outro ficar bem, não é só, ou nem tanto preocupação com essa pessoa, mas sim consigo mesmas. É. Se o outro fica mal a maioria das pessoas não sabe o que fazer, não aguenta e nem sabe que deve respeitar. A alta modernidade trouxe uma regra imperativa de que todos têm que ser felizes o tempo todo a qualquer custo e, consequentemente, se alguém não está feliz, mesmo tendo motivo...é um "dramático", "derrotista", "fraco", "nada estrategista", "depressivo"...
Ora, ora, ora! Mais um pouquinho e quando falecer um filho os pais farão uma festa de arromba no lugar do velório pra dizer que dor é coisa de despreparados e que sabem enfrentar bem os momentos "ruins".
Engraçado, Freud já falou disso há mais de cem anos atrás...sobre a negação como mecanismo de defesa.
Muitos negam estar em momento "ruim" porque não aguentam sua dor. Outros assumem, encaram de frente, corajosamente, admitindo para si e para os outros, mas aí entre esses outros há os que querem negar a real existência dos problemas alheios, não permitindo que a pessoa fale deles ou sobrepondo a eles os seus - e este é outro comportamento cômico e bizarro que venho percebendo, o da "competição de desgraça", ora, se alguém se dá o direito de ter problema e falar deles, há quem ouça e logo queira superar, relatando ter problemas maiores, e se não são fazem ser pela retórica.
Negar o problema do outro ou competir em tamanho de desgraça, igualmente, é fugir da realidade do outro, é fechar-se em si mesmo, é reduzir sua visão à distância do seu umbigo, é proteger-se na incapacidade de diferenciar a vida do outro da sua.
Pessoas resolvidas sabem ouvir o outro, aceitar quem ele é, o que está sentindo, o que pensa, suas dificuldades, seus limites e, ressalta na hora certa e na dose certa suas potencialidades, não cobra, oferece, não condena, liberta, não foge, fica, não finge, respeita, não se robotiza, se humaniza, não quer estar certo, quer ser bom, não pesa, alivia.
Mas muitas vezes é quem já está pesado que consola o lev(iano)e.
E essa é outra situação cômica e bizarra.


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