sábado, 20 de novembro de 2010

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Black Label

Hoje foi o dia do duplo Black Label.
Quase debutando de novo num destilado.
Muitos anos desprezando-o.
Era preciso.
Era útil.
Eu queria.
Eu gostei.
De desprezá-lo?
De prová-lo?
Ora! Acaso não me conhece?
Não! Não mesmo!
Decididamente não!
Está rindo?!
Acha que estou blefando.
Sobre não me conhecer?
Não.
Sobre desprezar ou provar um destilado.
Você não me conhecer
é uma certeza e uma obrigação afirmar,
portanto, não pode ser conteúdo de blefe.
É tão bom descobrir a natureza mutável que temos.
Você pode ter sido gente boa até aqui e de repente...
...desvia desse percurso.
Você pode ter sido gente perdida até aqui e de repente...
...se encontra.
Você pode ter sido gente ruim até aqui e de repente...
...perde esse rumo.
Você pode, inclusive, ter sido as três coisas e de repente...
...continua sendo.
Você pode ter sido pequeno, grande,
em latitude, longitude e profundidade.
Você pode ter sido indulgente, misericordioso,
ou tirano, insolente.
Você pode ter sido uma linha reta ou quase.
Você pode ter sido volupioso ou instável.
Você pode temer e amar.
Pode até temer amar.
Pode arriscar a mão no fogo.
Pode, então, perder o jogo.
Pode quase tudo,
até não amar.
Mas pode conter a volubilidade
mesmo que sutil?
Pode conter a imagem de constância?
Pode decidir?
E o que decidiu ontem,
pode decidir hoje e amanhã
ou nunca mais.
Mas pode não decidir.
Eu decido:
quem sou,
o alcance da minha visão
e não aceitar grilhões
que não os meus
com os quais criei algum laço afetivo
de criador para criatura.
Decido:
jogar fora
essa criatura
quando está
sem vida,
sem sentido,
sem razão.
Decido:
ser míope
só orgânica,
ser monogâmica,
e filha de teutões.
Mas cá com meus botões
nem míope queria ser
pra enxergar bem a poligamia
tão longe de mim,
a hierarquia tão perto de mim,
o fluxo de um jardim
que nunca pára de florir.
Quem diria
que destilar faz bem
e não só à cana?
Que se separe o que sou
do que querem que eu seja
e que o sabor só conheça
o degustador treinado,
refinado,
digno,
meu preferido,
o sábio,
o vivido.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Amor incondicional

Dei-me conta há uns meses atrás de que construímos, eu e ele, uma intimidade, uma ligação, uma unidade que nada ou pouquíssimo se efetivou no campo das idéias ou no campo dos sentimentos ou no campo da corporeidade.

Ora, mas se não se estabeleceu nestas dimensões não é humano, visto que a humanidade é a complexa interligação destas naturezas: matéria racional (inteligência analítica e sintética), matéria sensível (intuição, percepção, emoção e sentimentos), matéria volitiva (escolha), matéria biológica(anatomia e fisiologia), matéria relacional (intrapessoal ou centração e interpessoal ou descentralização), matéria espiritual (transcendência).

De que relação estamos tratando então?

Da minha relação com ele. Uma relação entre seres inteiros, não fracionados ou segmentados em algumas dimensões apenas. Uma relação puramente de querer bem, independente de qualquer idéia sobre as coisas; de qualquer emoção ou sentimento vivido; de qualquer proximidade ou distância física; de qualquer atitude; de qualquer limitação temporal.

A minha relação com ele - a nossa relação - começou pela instância comum e necessária à condição humana, que é a de estar frente à frente, de falar e ouvir, de trocar um olhar, de cumprimentar com um aperto de mão seguido às vezes até de um abraço mecânico.

Isto se repetiu muitas vezes.

Tantas vezes se repetiu quantas nos comprometemos um com o outro, de que mesmo sendo só isso, isso nos daríamos: por-se de frente, falar, ouvir, apertar a mão, olhar e abraçar instintivamente, podendo acontecer o conjunto todo num encontro, parte dele ou uma só das ações.

Interessante, pode acontecer só de se por frente à frente e isto basta. Pode acontecer só de ouvir e isso basta. Pode acontecer só de falar e isso basta. Pode acontecer só de olhar e isso basta.

Hoje, estamos tão mais perto no espaço geográfico, mas tão menos fisicamente, porém, muito mais ontologicamente. A distância que o passado nos impôs fez crescer raízes, alongá-las e tramá-las para interligar-nos. Cresceram fortes e indestrutíveis. Nosso ser se comunica sem precisar dos canais convencionais.

Nosso ser está um com o outro de uma forma que corpo algum seria capaz de estar ou mostrar, que pensamento algum conseguiria conceber ou explicar, que sentimento algum conseguiria despertar ou externar tal qual acontece conosco.

Fusão?

Não!

Individualidades que se encontram, mistérios que se reverenciam, intensidades que se absorvem, seres particulares que trocam sutilezas, vontades que se respeitam, intelectos que se compreendem, corpos que se protegem, necessidades que se transformam, riquezas que se doam, fontes que se saciam, divindades que convivem, humores que se divertem, assim somos nós - eu e ele - sempre dois seres distintos em interação.

De todas as pessoas que já passaram pela minha vida, ele é o mais fiel, o mais paradoxalmente comedido e impactante, o mais comprometido comigo, o mais gratuito, o único que me sacia, o único por quem me encantei, o único capaz de me suportar, aquele que ora é o espelho divino e ora é a própria divindade, aquele que ora deixa ir e ora chama e protege.

Beijos, abraços, carícias, olhares, toques sedutores...nada disso é corpóreo...nossa tangência é de uma forma tão pura, porém não se enganem, nada tem de etérea ou angelical, bastante humana por sinal, mas toda simbólica, aliás o simbolismo é potencialmente globalizador do que se pensa, sente e quer, é potencialmente realizador, é potencialmente satisfatório...é instrumento que eu e ele habilmente utilizamos para nos completar.

Diante dele sossego, nada mais espero, é plenitude, o perdão não é necessário.

Diante dele extasio e me disciplino. Convulsiono e estabilizo. Movo e sou movida. Vivo e faço viver.

Nossa experiência - a minha e a dele - já é eterna. Inquestionável. Pouco ou nada compreendida pelos que não adentraram nesse mundo de sutilezas da alma.

"Quem tem ouvidos para ouvir que ouça" (Mc.4,9).

sábado, 2 de outubro de 2010

Uma frase inusitada da sétima arte

Filme: Instinto Secreto
Frase inusitada de um personagem: "Não se cresce como mulher enquanto não tiver ao menos um homem canalha na vida."
Achou pesado isso?
Duvida?
Concorda?
Depende?
É até válido, mas não seria necessário?
Pode-se crescer como mulher de outras formas? Sem passar pela ação de um canalha?
Que tipo de crescimento um homem canalha pode proporcionar a uma mulher?
Realmente um homem canalha na vida de uma mulher provoca-lhe crescimento?
O que é crescimento?
O que é ser um homem canalha?
O que é ser uma mulher?
Há mulheres canalhas?
O que é a canalhisse?
E os homens não-canalhas, o que são?
Bem, parece que estamos ouvindo falar de mocinhas e vilões.
Parece que estamos ouvindo uma expressão do velho e bom dualismo "bem e mal".
Parece que estamos ouvindo algo com tom de revanche do "sexo frágil".
O que nos parece também, ao ouvir essa afirmação do personagem, é que só se cresce com o mal. É isso mesmo?
É preciso conhecer o mal pra valorizar o bem?
E entre o bem e o mal, há alguma outra coisa?
Eles nunca estão juntos?
E depois de sofrer a ação do mal dá pra ficar com algo bom? Isso não é um paradoxo?
Mas se é possível crescer com o mal, o mal não é tão mal assim, não é mesmo?
Ou se transforma em bem o que era mal como compensação? Isso é válido? Quanto disso é válido? Quanto disso é possível ao ser humano? Quanto disso seria possível a uma mulher?
Seria bom então que os homens fossem sempre canalhas com as mulheres para que elas crescessem?
É isso que tem acontecido?
Sim? Ou não?
Estaria faltando mulheres canalhas na vida dos homens para que eles crescessem também?
Eles seriam capazes de crescer com mulheres canalhas como as mulheres cresceriam com homens canalhas? Ou a natureza do homem é diferente e isto não dá resultado com eles?
Canalhas ou não, crescer é preciso. Crescer é imperativo. Crescer é bom.
Opa! Crescer é bom?
Se crescer é ser mais, ser maior, parece uma idéia boa.
Mas, que "mais" é esse e que "maior" é esse?
Mais o que?
Maior em que?
Se for pra ser mais gente, penso que é bom.
Se for pra ser mais desconfiado e medroso, penso que não é bom.
Se for pra ser mais livre, sendo mais racional e menos dominado pelas emoções, parece que é bom crescer.
Mas é esse mesmo o caminho melhor?
Quem sabe?
Para umas talvez?
E para as outras como seria?
Dá pra pensar em outro assunto que esse está muito duvidoso?
rs Dá sim.
Dá pra pensar por exemplo em não crescer. rs
Opa! Síndrome de Peter Pan. rsrs
Esse fica para outro dia. rs

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Com o óculos do Humanismo

Para quem trabalha/convive com gente!

Nossas ações estão sempre ligadas, são sempre baseadas, decorrem sempre de princípios...e princípios...

...são como filtros ou lentes, através das quais vemos a realidade.
...compoem os valores que acreditamos, que assumimos na prática.
...quando os conhecemos com clareza, quando os escolhemos livremente, nos tornam coerentes e os defendemos independente do momento e do lugar.

O referencial que agora proponho para servir de lente através da qual olharemos para as pessoas com quem trabalhamos/convivemos, é o Humanismo, e ainda com o tratamento que essa "lente" recebeu para oferecer-nos um diferencial, que é o Humanismo Cristão, que se nos apresentará a partir de vários pensadores:

1. Jesus Cristo
- que trata o homem como pessoa (dotado de inteligência, liberdade, vontade, responsabilidade);
- dá particular atenção aos marginalizados da sociedade: pobres, escravos, mulheres, crianças, prostitutas, etc.;
- que conhece os outros pelo nome. Ex. zaqueu, Mª Madalena. Os evangelhos são a única história da Antiguidade em que os pobres e humildes tornam-se protagonistas ao lado do personagem principal;
- que anuncia a libertação do homem. a) Interior - dos instintos, das paixões, das servidões espirituais, das maldades e dos ódios, dos pecados. b) Exterior - da escravidão da opressão, da discriminação social, da injustiça, do legalismo, do medo e até da morte.
- que prega o Amor a Deus e ao próximo. Amor que é:
. interioridade: nasce no coração;
. universalidade: dirige-se a todos, inclusive os inimigos;
. delicadeza e generosidade: age heroicamente em favor do próximo, evitando as mínimas ofensas;
. exterioridade: expressa-se nas obras e pelas obras.

2. Santo Agostinho (354 - 430)
- o homem é interioridade: o que constitui campo de exploração e fonte de inquietudes;
- o homem é transcendência: busca continuamente algo que o supera e transcende - Deus.

3. Santo Tomás de Aquino (1225 - 1274)
- o homem é matéria e espírito: um ser indivisível. Está submetido às leis da matéria - temporalidade, espacialidade, opacidade, pluralidade, etc. e às leis do espírito - imaterialidade, atemporalidade, universalidade, imortalidade;
- o homem é dotado de inteligência e por isso é elevado à dignidade de pessoa, ser superior a qualquer outro;
- a pessoa é um fim em si mesmo, que por isso nunca pode ser instrumentalizada, usada como meio, pela sua racionalidade;
- à disposição da pessoa devem estar todos os bens. A propriedade privada se admite pela questão de ter alguém que a administre para conservação, aumento e distribuição, sim, porque o uso dos bens é comum a todos que deles precisam.

4. Kierkegaard (1813 - 1855, dinamarquês, luterano, existencialista cristão - a existência precede a essência)
- o homem singular vale mais que a espécie;
- o homem só é ele mesmo, só é singular, real e autêntico perante Deus e isso só é possível mergulhando em si mesmo e entrando em relação com o Outro (Deus no caso), o poder que o criou.

5. Gabriel Marcel (1889 - 1973, francês, autor e crítico teatral)
- o homem pode viver em 2 (dois) planos: o do ter e o do ser.
- O plano do ter é o plano da objetividade, problematicidade e da técnica, portanto, da alienação e do desespero;
- o plano do ser é o plano da subjetividade, da intimidade, das experiências pessoais e indizíveis em que o homem se reencontra a si mesmo, vive sua existência autêntica, realiza suas potencialidades;
- o homem se realiza como singular, original, no recolhimento, no mergulho em si mesmo, onde ele não encontra só a si ou ao Outro (Deus), mas também os outros e é através dos outros que vislumbra Deus. Ser é "Ser Com"o outro.

6. Teilhard Chardin (1881 - 1955, francês, padre jesuíta)
- o homem é portador da evolução - essa força que move o mundo para formas sempre superiores de ser, de vida, de consciência;
- o homem é portador da energia criadora de Deus, é chamado a ser mais que instrumento, mas prolongamento vivo do poder criador de Deus, construir com Deus este mundo em evolução;
- o homem é o produto mais complexo, mais conscientizado da evolução;
- a evolução de que o homem é portador terá um termo final, chamado Ômega - que é o encontro entre a humanidade e Deus/Cristo, ou parusia, ou fim do mundo. É, pois, o Ômega a origem de toda a energia evolutiva.

Referência:

NOGARE, P. D. Humanismos e anti-humanismos: introdução à antropologia filosófica. 10ª ed. Vozes. Petrópolis, 1985, p. 43-53; 117-139; 168-189.

Psicopatia 2 - Programa Sem censura - Ana Beatriz B. Silva

Entrevista com a médica psiquiatra e escritora Dra. Ana Beatriz Silva sobre psicopatas, tema do livro de sua autoria Mentes Perigosas: o psicopata mora ao lado. 2ª Parte
Programa: Sem Censura - TVE Brasil
Apresentação: Leda Nagle
Participação: Gloria Perez
Exibido em 06/11/2008

sábado, 25 de setembro de 2010

Fada madrinha

O que faz uma fada madrinha nas histórias infantis?

Transforma o feio em belo, o pobre em rico, o pequeno em grande, o fraco em forte, o sonho em realidade, o proibido em permitido, o que não existe em algo que existe. Como o sapo em príncipe. A borralheira em Cinderela. A abóbora em carruagem. Os ratos em cavalos. O baile em dança. As diferenças em encantamento. O nada em paixão, a paixão em nada e o novo nada em afeto.

Já dei status de homem a desacreditados. Já fiz crescer estaturas. Já fiz dormir plebeu e acordar Rei. Já desfibrilei corações que tinham desistido. Já aliviei altas temperaturas. Já aqueci terra fria. Já perfumei histórias que cheiravam mal. Já maquiei personagens para melhor convencerem o público. Já simplifiquei o complicado. Já sofistiquei o simplista. Já fiz andar o estagnado.

Isso é lindo! Isso é maravilhoso! Isso é prazeroso! Mas isso cansa!

Já desejei sair do livro de histórias infantis, mas é sina bater a varinha mágica, encantar, dar um final feliz e recomeçar.

Quero uma fada madrinha pra mim!