segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Um papelão

Não confundam o papelão conotativo com o denotativo.

Ora, o papelão no sentido denotativo é um material utilíssimo, de grande aplicabilidade porque envolve, protege e é leve.

O papelão que motivou esta escrita, deve ser lido no sentido conotativo e pejorativo.
Pegue-se os pontos fracos do material (a estrutura e natureza pouco resistente; a grande porosidade que lhe faz frágil diante de qualquer sinal de umidade; a estética nada suficiente para adornar, apenas para embrulhar), aplique-os a um determinado ser e assim temos alguém inútil, de nenhuma aplicabilidade porque não sabe, não pode e não quer  envolver de forma a congregar; porque expõe-se e expõe quem deveria proteger; e porque diante de uma chuva de argumentos sólidos fica pesado e sobrecarrega.


Um homem adulto infantilizado pela sua resistência de enfrentamento a um não, a uma frustração...é um homem papelão;
Um homem adulto infantilizado pelo seu fascínio do status, cujo título declarado ainda não conquistou e por isso mesmo (os realmente titulados têm fascínio tão somente pelo conhecimento);
Um homem adulto infantilizado pelo seu apelo ao sentimentalismo quando lhe faltam argumentos lógicos;
Um homem adulto infantilizado pela sua alteração, para cima, de volume de voz; pelo bater os pés, pela verbalização do "não vou, não quero, não faço";
Um homem adulto infantilizado pela sua lógica mercantilista do "toma lá - da cá" das relações de negócio;
Um homem adulto infantilizado pela sua falta de visão panorâmica e projetiva da situação;
Um homem adulto infantilizado pelo seu "mito" de que mulheres se intimidam diante de uma figura masculina, de alta estatura física e grotesca;
Um homem adulto infantilizado pela sua falta de delicadeza e finesse no trato com o (a) outro (a);
Um homem adulto infantilizado pela sua arrogância e prepotência de julgar-se no direito de interferir na gerência que compete ao outro;
Um homem adulto infantilizado pela sua baixa auto-estima;
Um homem adulto infantilizado por suas insinuações vazias e desprovidas de conhecimento da causa;
Um homem adulto infantilizado pela projeção de suas deficiências profissionais sobre os outros;
Um homem adulto infantilizado pela sua falsa idéia de que a educação de seus filhos é um bem negociável;
Um homem adulto infantilizado pela sua omissão da tarefa paterna de fazer crescer, amadurecer;
Um homem adulto infantilizado pela sua falta de treino da assertividade na resolução de conflitos;

Um homem papelão!

Que podia não ter se exposto à chuva de argumentos lógicos e científicos, tampouco tentado infrutiferamente manter-se rígido e inflexível em sua posição;
Que podia ter se aberto ao diálogo;
Que podia ter aceitado o não ao seu pedido, por uma questão de inteligência e civilidade, mas antes ainda por uma questão de maturidade psicológica;
Que podia ter respeitado o papel, a função de um educador tanto quanto se respeita o papel, a função de um médico, de um advogado, de um macumbeiro, de um cabeleireiro;
Que perdeu a máscara e a oportunidade de exercitar seu próprio crescimento.

Um homem papelão é um homem adulto infantilizado que se quer longe, não por suas solicitações, mas pela sua incapacidade de compreensão da realidade, pelo seu embotamento reflexivo, pela sua ironia, pela sua fraqueza moral de tentar colocar palavras na boca de outrem na tentativa vã de mudar o foco das atenções.
Aliás, quando as palavras não são possíveis, os olhos podem fazer calar com muito mais precisão e força do que se imagina.
O homem papelão não conseguiu ficar olhando para os olhos da interlocutora e ler neles o quanto ele era diminuto naquele momento.
O homem papelão deslizou no sofá abaixando sua estatura, abrandou a voz, baixou o olhar quando viu na sua interlocutora os olhos decepcionados com sua infantilidade.
O homem papelão perdeu sua oportunidade de elevar-se, de apoiar-se, de ser mais e melhor.
O homem papelão é assim, se agarra ao pouco que tem e nada multiplica, nada cresce, nada avança, nada agrega, se destrói.

O homem papelão custa à sua interlocutora horas caríssimas de atendimento efetivo a quem de direito - a geração nova, esta sim, aberta, reflexiva, lógica, àvida de novas visões, não abdica de seu direito de pensar, de experimentar, de rever, de questionar, de contrapor, mas também de ouvir, de dialogar, exceto quando é conduzida e modelada por posturas rígidas e inflexíveis de seus progenitores ou até outros adultos infantilizados que pretenciosamente rogam a si o papel de "modelos".
O homem papelão é um ladrão, do tempo de efetivo trabalho criativo-organizacional de sua interlocutora.
O homem papelão precisava ser aqui caracterizado para ser identificado mais facilmente no dia-a-dia e neutralizado.

Oh!
Que maldade neste texto!
Que dureza!
Que acidez!

Não.
Isto é revolta!
Isto é indignação!
Isto é sensibilidade!
Isto é saudável!
O desabafo é indício de que ainda não se instalou na interlocutora do homem papelão a síndrome de bounout...rsrs.

E viva o mirante conquistado e os outros acima que hão de vir!

Nenhum comentário:

Postar um comentário