segunda-feira, 2 de julho de 2012

Mística e eros - A mística da união - Cap. I

1. A tradição espiritual (p. 15 a 27)

O autor nos traz a mística da união encontrada na obra dos padres gregos da Igreja.

- De Orígenes:  Orígenes serve-se da linguagem do Cântico dos Cânticos para exprimir a experiência mística pela qual Deus quer unir-se à alma humana. O amor celebrado no Cântico dos Cânticos é aquele "entre o casal de esposos ou enamorados que sempre estão dominados pelo desejo de aproximação e ternura e pelo impulso à união". (Köpf, p. 62) Foi assim que Orígenes desenvolveu uma mística esponsal, em que está em jogo o tornar-se uno com Deus na alma. Ele usa como recurso a linguagem erótica a fim de poder tornar compreensível a nossa relação com Deus  e fundiu a mística do amor à mística da união.

- De Evágrio Pôntico: a comtemplação como caminho espiritual, da contemplação da natureza (criação) e de Deus trino. A contemplação não leva a nada menos que ao mundo;... pois vê o mundo como ele realmente é, toca a essência de todas as coisas. Contemplação significa deixar para trás todo pensamento e imagem, toda representação e sentimento e para além do pensar e do sentir, unir-se a Deus. De repente tudo se esclarece. Percebo que tudo é bom; Entro em contato com o mistério que está por detrás de cada coisa, com o fundamento do ser, entro em contato com Deus mesmo. Tudo é bom, tudo é perpassado por Deus. Deus É.

- De John Eudes Bamberger: "Vejo Deus nas coisas, reconheço o criador na criação..."

- De De Mello: "Vivo a realidade no seu verdadeiro ser...sem deformá-la através das lentes dos meus preconceitos e desejos. Nesta atitude de consciência pura, em cada coisa entro em contato com Deus mesmo, fundamento misterioso de todo ser.

- De Gregório de Nissa: O ser humano tende a Deus. Deus mesmo feriu o ser humano com o seu amor. Em consequência, o ser humano, uma vez ferido de amor, abre-se para procurar este Deus até que consiga unir-se a ele. Trata-se de um amor erótico que impele o ser humano a buscar Deus de modo apaixonado, assim como a namorada do Cântico dos Cânticos procura o namorado, um amor transbordante de desejo, próprio porém de um desejo sem corporificação que sempre de novo ultrapassa o amor entre um homem e uma mulher.

- De Dioniso Areopagita: Deus só se mostra na obscuridade. "Tu, porém, ó caro Timóteo, tu que seriamente te afadigas por ordem à visão mística, abandona as percepções e tudo quanto não é e quanto é , e aspira não por força da consciência a tornar-te uno - pelo quanto te é possível - àquele que ultrapassa todo ser e conhecer."

- De São Bento: Ele se relaciona com o mundo de modo a reconhecer nele Deus mesmo. O mundo torna-se espelho da glória de Deus. Deus e mundo não estão separados; além do mais, o mundo torna-se permeado por Deus e Deus pode ser compreendido através do mundo. No êxtase São Bento funde-se à criação. É esta a mesma experiência que nós ardentemente desejamos alcançar na sexualidade, a fim de crescermos para além de nós mesmos e tornar-nos um com o fundamento de todo ser. O desejo de união, de fusão, impregna tanto a experiência sexual quanto a mística. Quanto mais encontramos a nós mesmos, quanto mais conhecemos e aceitamos a nossa humanidade, a nossa "terrenidade", a nossa humildade, tanto mais entramos em Deus, tanto mais alto subimos a escada em direção a Deus. A escada para Deus tem início na tensão entre corpo e alma, entre eros e mística. Não omitindo o corpo e a sexualidade, iremos a Deus, exatamente por intermédio deles.

2. Mística e psicologia transpessoal (p. 27 a 48)

O autor nos traz a mística da união e liberdade do ser humano encontrada na psicologia transpessoal.

- De Abraham Maslow: Ao lado dos desejos que motivam a pessoa - segurança, posse, poder, pertença, valor próprio, realização de si - também se enumeram os metadesejos - verdade, bondade, ampliação de consciência, unidade consigo mesmo e com Deus, autotranscendência. Fala da experiência culminante que compara com a experiência mística: "O ser humano acessa ao absoluto, torna-se uma só realidade com ele, ainda que isso aconteça apenas por um breve instante". Podemos fazer uma tal experiência culminante/mística (1) no nascimento de um bebê, (2) no diálogo com um amigo, (3) no mergulho na música, (4) na fusão sexual com o parceiro ou, (5) nos despertamos para uma pura tomada de consciência. A experiência culminante tem sempre a ver com êxtase. Ultrapassamos a limitação da nossa percepção e nos tornamos uma só realidade com o mistério do ser na sua totalidade.

- De Roberto Assagioli: O estado de consciência da pessoa normal é, em geral de sono. Estamos impregnados pelas ilusões que temos sobre o mundo e sobre nós mesmos. Somos com frequência "vítimas dos fantasmas interiores, de dependências e complicações" (Assagioli, 1992, p. 103). A libertação torna-se possível quando aprendemos "a observar a comédia humana do alto e de uma certa distância, evitando emaranhar-mo-nos por demais emocionalmente. ...e descobrimos em nós o verdadeiro ser, o qual é livre do poder dos nossos pensamentos e sentimentos, é livre também das expectativas e das pretensões que os outros nos atribuem. Acredita na possibilidade de que a energia sexual possa ser convertida em espiritual. Para isso primeiro a energia sexual deve ser transformada em emocional. Depois, "num grau mais elevado, chega-se à sublimação das emoções pessoais num amor espiritual em outras essências e para Deus. ...transformando o amor humano em religioso". (Idem p. 243). A sublimação acontece somente se "não se tenta reprimir as energias subordinadas ou sufocá-las com comportamentos hostis"; no entanto, "se oferece toda imaginável possibilidade de exprimir-se às energias mais altas. Não se trata de amar menos, mas de amar melhor". (Idem, p. 244). Concorda com São João da Cruz: "Só um amor muito elevado está em condições de derrotar um baixo". (Idem, p. 242). Cita Schopenhauer, para quem o despertar da sexualidade traz sempre claramente consigo também uma energia espiritual "Nos dias e nas noites em que a tendência à voluptuosidade chega ao máximo da sua potência... é então que as energias espirituais estão no seu máximo... prontas para a mais alta atividade". (Idem, p. 243) Para Assagioli é de todo natural que os místicos, querendo amar a Deus apaixonadamente, ao mesmo tempo também seguissem as pegadas das próprias energias sexuais. E é também compreensível, que o amor místico conheça "reflexos semelhantes ao amor humano". (Idem, p. 306) "Por isso os místicos falam de núpcias místicas... Também aqui encontramos sempre as mesmas propriedades do amor: a sede de completude, a união e, em seguida, a projeção, a expressão do amor" (Idem, p. 306) a serviço das pessoas.

- De Ken Wilber: Na mística unimo-nos a Deus e somos unificados em Deus no fundo da alma. Wilber vê a experiência mística da meditação como caminho para o audesenvolvimento pessoal e chama-o de "des-identificação" de pensamentos e sentimentos, de desejos e problemas, para conhecer a sua verdadeira essência, premissa importante para sua libertação. Os nossos desejos e necessidades são apenas compensações substitutivas para a consciência da unidade do todo.

- De Walsh: Aquele que experimenta Deus no mais profundo da própria alma, a este gradualmente empalidecem "hábitos insuportáveis e necessidades aparentemente irrepetíveis".

- De Fadiman: A realização mais importante da psicologia está em mostrar à pessoa que ela "é mais que uma individualidade".

- De Vaughan: A autotranscendência não é feita como qualquer coisa de puramente individualista, pois ela cria uma nova relação com o mundo e com todos os seres humanos. "Aqui nós nos experimentamos não mais como isolados, mas como parte de um todo maior, como estando ligados com tudo, em profundidade e como uma relação contínua".

- De James Bugental: A base da terapia transpessoal é conduzir a pessoa à própria pátria interior - espaço do puro silêncio - onde experimento Deus, um santuário onde posso sentir-me em casa, onde sou amado, espaço de calor e ternura, de amor e de misericórdia.


- De Marscha Sinetar: Descreve místicos que vivem no mundo e nele vivem seu desejo de infinito. Um marceneiro: "Há uma constante em minha vida, quero dizer, este desejo que tudo abraça, esta aspiração de permanecer ligado com a unidade do universo. Uma senhora: "Às vezes sinto-me como que em êxtase. Imagino estar enamorada pela primeira vez...Posso sentir este sentimento de amor que emerge da minha interioridade e se espalha e irradia em tudo.


- De Mello, jesuíta indiano: Mística significa que nós despertamos e estamos em contato com a verdadeira realidade. Eros, amor é que dá força para a união com a realidade, com Deus, portanto, para a mística. Todos os místicos descrevem a sua experiência do vir-a-ser uno com Deus como puro amor.


A mística da união não é tanto confirmada por um amor concreto a uma determinada pessoa, mas pelo sentimento profundo de amor. Tudo no ser humano é amor. O amor escorre através do seu corpo e da sua alma e transforma toda a pessoa. O amor é mais que sentimento, é puro ser.


3. Mística e modelo erótico em Peter Schellenbaum (p. 48-56)

O autor nos traz a mística da união pela libertação das identificações com o próprio eu.

- O modelo erótico se apresenta pelos caminhos da meditação que implica deixar acontecer, não opor-se, não dividir-se, conscientemente relaxar para alcançar a serenidade que é renunciar àquilo que a vontade isolada quer e aceitar aquilo que deve acontecer, estar disponível, deixar-se envolver pelo real e segui-lo.

- Descobre-se um amor novo que ama o todo, incluindo cada contradição.

- A relação entre mística e eros é perceptível na capacidade do indivíduo de entregar-se à corrente e à energia da vida e do amor, de escapar à captura do próprio eu e de acreditar na vida.

- Mística consiste em tornar-se uno com o mundo e com o seu fundamento, isto é, com Deus, que é puro amor e cujo amor estamos em condições de sentir à medida que nos entregamos a ele.

- Somente se sentirmos o amor em nós, estaremos em condições de amar o próximo sem exaurir-nos.

- No modelo erótico encontramos aquele Deus que nos protege incondicionalmente.

- A mística é a experiência do amor divino que quer encarnar-se em nós, e que já está em nós, que se espalha pelo nosso corpo e o vivifica.

- A mística é uma nova capacidade relacional, a capacidade de relacionar-se com outras pessoas e com a criação de um modo amoroso e provar, através do modelo erótico, sempre mais o prazer deste amor, a alegria do amor.

- Entregar-se ao amor acontece quando seguimos as pegadas da energia do amor no nosso corpo.

- Desse modo, podemos pensar que a força da paixão sexual pode impelir nos místicos o amor a Deus.

- A mística nos faz experimentar a vida divina não apenas em nós mesmos, mas também em cada pessoa e em toda criação.

- Sempre quando começam a fluir em nós o amor e energia de vida, temos o pressentimento de algo divino como plenitude de vida, daquele Deus que faz estremecer também o nosso corpo.

- A mística é o caminho para uma vida mais intensa, porque ela quer colocar-nos em contato com a verdadeira realidade.

4. Mística e criança divina em John Bradshaw (p. 56-62)
(em construção)

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