sábado, 14 de julho de 2012

O que somos capazes de amar

Não reclame. Não critique. Não fique triste. Não fique mudo. Não cobre.
Elogie. Seja imparcial. Fique feliz com as coisas. Seja comunicativo. Só agradeça.
Seja tolerante com a intolerância. Não sinta falta de nada. Ponha um sorriso nos lábios.
Use colírio pra fazer brilhar os olhos.
É mais barato do que ver o desconforto de quem não suporta descobrir que você não é Deus.
Você não importa. Só o outro importa.
Cuide dele, da sua alegria, garanta sua tranquilidade, sua paz, seu sossêgo, sua euforia, sua vitória, seu ego inflado, sua autoconfiança.
Você terá amigos para sempre, dependentes para sempre, até que você seja vivente.
Depois dirão que você foi uma pessoa rara.
Jamais terão coragem de macular a imagem de quem os elevou tanto.
Não está bom?
Não reclame.
É o que temos.
Pegar ou largar.
Vai ter coragem?
Pegar é sorrir com as migalhas.
Largar é arriscar as migalhas pelo incerto
de um dia alguém
ser forte o suficiente
para aceitar que você não é
o Deus que ele queria que fosse.
Eu diria mesmo,
improvável,
coisa daquelas
que se chamam milagres.
Ah! Mas se você tem fé
do tamanho de um grão de mostarda
aparecerá quem lhe faça
primeiro derreter,
amolecer,
duvidar até,
depois se convencer
pra enfim
abandonar-se
nos braços desse outro tão incomum,
que talvez tenha aprendido
o mesmo jogo,
aquele,
em que só o outro importa.
E aí a dúvida volta
pra corroer a fé,
pra lhe devolver
a solidez,
a firmeza,
a certeza cruel
de que
você não importa,
de que é só um jogo,
onde o prêmio
são as migalhas
de uns para os outros
- aquela porção divina de cada um -
o resto imperfeito nunca interessa.
Não insista.
Aprenda logo:
Migalhas ou nada.
Afinal,
você também não suporta
descobrir que o outro não é Deus.
Então,
vai comprar o colírio?


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