sábado, 23 de julho de 2011

Aos casais

Poucos casais vivem bem.

Porque pouco suportam (nos sentidos de ser capaz de segurar ou carregar o outro em certos momentos que o outro necessite e de tolerar um pouco do que no outro não é tão agradável assim).

Porque pouco se doam (tem homem e mulher que não sabe ainda o que agrada o outro e nem procura saber. E ainda pior é quando o homem ou a mulher sabe o que o outro gosta e não oferece, não faz, não se esforça, não tenta, não se supera, não quer aprender o que não sabe, e nesses casos as desculpas e justificativas são muitas, esquecendo que pra isso não tem perdão - estar na relação sem empenho, sem interesse, sem alimentá-la). 

Porque pouco sabem receber (digo isso porque tem homem e tem mulher que não sabe aproveitar o que ganha do outro, seja um bem material ou um gesto de carinho, não se permite sentir, degustar, desfrutar daquele momento em que o outro está lhe oferecendo seu melhor. O outro precisa do reforço positivo pra continuar fazendo aquele agrado, o outro precisa saber que você gosta do que ele fez, o outro precisa ver o brilho nos seus olhos com o que ele foi capaz de fazer, o outro merece essa recompensa. E se você não gosta de nada que o outro lhe oferece, o que você está fazendo na relação?).

Ou porque cada um dos dois faz isso em tempos e momentos diferentes.

Ou porque só um dos dois faz o que constrói um relacionamento bom e gostoso.

Ou porque têm perspectivas, sonhos, projeções diferentes e não afinaram as cordas do violão da vida. (É isso! Há muitos casais desafinados. E disso eu entendo...afinação. Um ou os dois quer que o relacionamento se harmonize sem ter que usar o ouvido. Sim! Para afinar um instrumento é preciso ouvir bem, ouvir muito, ouvir com cuidado e atenção. Depois é preciso ajustar o som, corrigir, a exemplo de um violão, apertando ou frouxando a tensão das cordas. E o curioso é que um instrumentista raramente se desfaz de seu instrumento, mesmo que ele não esteja "segurando" a afinação, a primeira coisa que pensa é em consertar e conservar. Haveria mais cuidado com um instrumento musical do que com um parceiro?).

Mas há casais que vivem bem.

Nem sempre na mesma casa.

Nem sempre numa relação assumida.

Nem sempre numa relação de mesmices, como a mesma idade, a mesma formação, a mesma religião, a mesma etnia, as mesmas preferências, a mesma renda, as mesmas posses.

Nem sempre aos olhos dos outros.

Nem sempre alegres ou saudáveis.

Nem sempre com  todas as necessidades básicas supridas.

Nem sempre profissionalmente e socialmente bem colocados.

Nem sempre com o acesso aos bens culturais que gostariam.

Nem sempre provocando melhorias sociais.

Mas sempre juntos! Alternando o olhar um para o outro e os dois para o mesmo ponto. Num exercício como diria Teilhard Chardin...de centração e descentração.

Mas sempre procurando fazer bem ao outro.

Mas sempre procurando corrigir o que não foi bom.

Mas sempre desenterrando pequenas gentilezas.

Mas sempre discernindo a hora de calar e de falar.

Mas sempre escolhendo o melhor jeito de fazer ou de dizer.

Mas sempre com a intenção de que tudo dê certo.

E é isso que será medido: o quanto amou. E amar é tudo aquilo que já postei em 12.07.10 com o título "Amar".

Não importa quantos anos durou. Importa quanto amou durante qualquer tempo.

O casal que vive bem ama muito.

E a gente sabe. A gente vê. A gente devia chegar perto e dar os parabéns.

Está no cenho, nos gestos, no tom de voz, na graça...isso mesmo...ela se enfeita...ele estufa o peito.

Aparências só?

Acredita que são só aparências mesmo?

O corpo fala, já dizia Pierre Weil. E eu acredito nisso.

Sim, casais que vivem bem ficam bem na foto a qualquer hora, vem de dentro o que modela o corpo.

Viva os casais que vivem bem, de qualquer geração, de qualquer classe econômica, de qualquer lugar, de qualquer tempo, de uma relação consumada ou sublimada, mas de uma relação que faz cada um dos dois crescer e dilatar até religar com o sagrado.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Uma sensação na pele

Aproveito de uma reportagem antiga (05.07.07) pra propor uma campanha.

Observe na foto abaixo a postura do macaco, o aninhamento, o aconchego. Ele sabe que não é a mãe? Claro que sabe. Não há calor. Não há movimento. Não há emissão de som. Mas há uma sensação na pele de toque suave, agradável, sutil, mesmo que não o segure, não o agarre, não o enlace. E mesmo sem calor, sem movimento e sem enlace, só pelo toque suave ele busca de novo, ele se agarra.

Quem desconhece essa sensação deveria ficar sozinho uns dias e depois disso experimentar o toque da pelúcia, para além de entender a situação racionalmente poder entendê-la empiricamente. Com isto consegueria imaginar melhor o que passsam crianças, jovens, adultos e idosos em situação de abandono, quer em instituições sociais ou pior, também em suas próprias casas.

A campanha é simples e você já deduziu: "Dê um bichinho de pelúcia a alguém", há sempre uma carência de afeto a ser suprida em algum momento da vida". Isto é pouco frente ao calor humano que lhe é devido e não lhe chega, mas ameniza a ausência. Diriam os céticos que isto é palhativo, é panaceia, é engodo. Como queiram, mas antes experimentem na própria carne.

As creches, os hospitais, os asilos, as salas de espera, as salas de atendimento de alunos em escolas, as salas e os quartos de toda casa deveriam estar recheados de bichinhos de pelúcia, à disposição, para todo e qualquer momento, principalmente nestes tempos de alta modernidade, em que o risco de "reclusão individual patológica" (expressão por mim cunhada quando construía a dissertação de Mestrado) se faz bastante presente.

Se não é a solução, e de fato não, assim como em alguns casos de câncer a quimioterapia e a radioterapia não são, mas apenas prolongam a vida, também o toque suave da pelúcia pode prolongar a vida até que se tenha outra chance de afeto real, através da palavra, do olhar, da empostação e flexão de voz, do toque de pele humana, do abraço.

À propósito, seres humanos têm se utilizado da relação com animais domésticos durante essa espera, eu ainda prefiro os de pelúcia, até porque o risco de provocarem crises alérgicas diminuiu muito com a carcterística de "laváveis".
"Nada substitui o talento" dizia a propaganda do prêmio da Rede Globo "Profissionais do ano" aos melhores publicitários e, assim também os bichinhos de pelúcia não substituem o afeto, a campanha é só um caminho para ele, é um alerta para a falta dele.

Foto
Ali, um filhote de macaco-aranha, foi encaminhado para o Hospital Veterinário do Zoológico de Sapucaia do Sul (RS) depois de ser rejeitado pela mãe. Ele tem 7 meses e é "criado artificialmente" na unidade. Segundo o veterinário Claudio Giacomini, Ali fica agarrado a um bicho de pelúcia para se sentir protegido. "É a referência dele. Se tivesse a mãe, ele estaria agarrado a ela", afirma (Foto: Miro de Souza/ Ag. RBS)
Fonte: http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL64260-5598,00.html

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Tributo aos educadores

Depois de um episódio de sofrer a ação de extrema falta de civilidade de uma pessoa no trabalho, exorcisei os demônios que me convulsionavam, pegando a estrada à noite, aliás, toda bem sinalizada como requer a modernidade para conforto e segurança da vida humana, e acelerando nos melhores pontos, pra desfrutar calmamente da sinuosidade de outros, enquanto ouvia Rock Light. O destino era a luz no ponto de fuga, que curiosamente coincidia com um lugar que abrigou por algum tempo uma pessoa altamente civilizada, excessivamente perspicaz e visionária, extremamente objetiva e firme, equilibradíssima, amorosa apesar de raramente afetuosa. Acho que fui procurar "colo", como se o lugar guardasse a essência dessa pessoa. Bastou o tempo relativamente rápido de ir e vir, sem parada alguma, para destilar o veneno acumulado no fígado. E aí foi possível pensar no reverso da moeda, no avesso daquela situação inadmissível de deselegância, de selvageria, de curta visão, de ignorância, de descontrole, de amoralidade, de mediocridade a que me obriguei ficar por um tempo.
Não posso deixar de lembrar o que disse-me o ex-marido advogado uma vez, que eu devia fazer o curso de Direito e trabalhar com tribunal de júri, não perderia um. Acho que levei a sério isso sem entrar oficialmente para o campo de trabalho jurídico, mas sim no campo dos embates quaisquer que se nos apresentam, e são muitos no exercício da minha profissão. E fazer um leão que ruge miar como um gatinho demanda muita energia, coisa que salário algum paga, mas paga ao menos a dose pra aliviar o dia...rs.
O reverso do desrespeito, do desconhecimento, da falta de delicadeza com os profissionais da educação, tentei expressar no texto que segue, validando o precioso trabalho do educador, dando-lhe o justo feedback.

Caríssimos Professores, Educadores,
boa noite!
Começarei por comentar esta forma de tratamento que gosto de usar, e em especial com vocês...”Caríssimos”. Talvez para alguns gere até uma desconfiança...”Será que é costume dela usar? Será que ela está sendo sutilmente irônica? Será que ela é assim superlativa, "hiperbólica", exagerada? Será que aprendeu nos livros, achou “chique” e resolveu figurar de “letrada”? Será que realmente ela me acha uma pessoa cara?
Qualquer coisa que eu diga, só se tornará verdade pra você se você sentir, perceber, constatar coerência entre o que eu lhe digo e o que lhe faço no dia-a-dia. Bem, espero mesmo que em nosso cotidiano, em nosso sempre pouco convívio, eu consiga ser coerente com o que de fato quero dizer com “Caríssimos”:
                                             VOCÊ É UMA PESSOA IMPORTANTÍSSIMA!
Primeiro porque é gente. E isso basta. E isso é suficiente para justificar o “caríssimos”.
Mas há outros motivos:
- VOCÊ SE FAZ LUZ NO FUNDO DO TÚNEL DA IGNORÂNCIA!
- VOCÊ É UM GIGANTE EMOCIONALMENTE, SUPERANDO-SE DIARIAMENTE NA CAPACIDADE DE AUTOCONTROLE, COMPREENSÃO E RECONDUÇÃO DOS NÍVEIS DE CIVILIDADE, MUITAS VEZES EM DECLÍNIO À SUA VOLTA.
- VOCÊ ABRAÇOU, APAIXONADO (A) O ÚNICO CAMINHO DE SUCESSO E DE FELICIDADE REAL, O DA EVOLUÇÃO, DO CRESCIMENTO, EM TODOS OS SENTIDOS. Como sei que é apaixonado (a) pela evolução e crescimento? Simples. Você quer que outros sigam o mesmo caminho...por isso é educador...não consegue guardar só pra você o que sabe, o que vislumbra.
- VOCÊ MOVE A HUMANIDADE PARA FRENTE E PARA CIMA, E COM SEU HUMANISMO CRISTÃO OU NÃO, DÁ À GERAÇÃO MAIS NOVA OUTRAS POSSIBILIDADES DE VISÃO DE MUNDO QUE NÃO APENAS A MERCANTILISTA, A DO INDIVIDUALISMO, A DA EXPLORAÇÃO, A EGOCENTRISTA, A UTILITARISTA, A IMEDIATISTA, A REDUCIONISTA. Você sabe “usar as coisas” e “amar as pessoas”.
- VOCÊ TEM O PODER DE SOBREVOAR AS SITUAÇÕES MEDÍOCRES CRIADAS POR QUEM TEM POR HORIZONTE APENAS SEU UMBIGO; VER LONGE AS GRANDEZAS A SEREM ALCANÇADAS E; INCANSÁVEL E ESTRATEGICAMENTE FAZER ALÇAR VÔO OS DE ALMA LEVE E SEDENTOS DE CONHECIMENTO.
- VOCÊ SE FAZ PRÓ-ATIVO (A) ONDE E QUANDO HAJA UMA SITUAÇÃO EXIGINDO DIREÇÃO, MOVIMENTO, RESULTADOS.
- VOCÊ NÃO TEM SIDO RESPEITADO (A) E VALORIZADO (A) DE FORMA JUSTA POR GRANDE PARTE DA SOCIEDADE E TEM SUPORTADO ATÉ CONDIÇÕES FINANCEIRAS E MATERIAIS AQUÉM DO QUE OUTRA PROFISSÃO PODERIA PROPORCIONAR, PELO IDEAL DE UM MUNDO MELHOR.
- VOCÊ É UM EQUILIBRISTA, SEMPRE FAZENDO TUDO DAR CERTO, APESAR DE TANTOS EMPECILHOS E REVESES.
- VOCÊ RESISTE À TENTAÇÃO E ÍMPETO DE EXPLICAR O VALOR DE SEU TRABALHO, OU QUANDO O FAZ, É SEMPRE COM A DEVIDA AUTORIDADE E INDIGNAÇÃO DE QUEM ESPERAVA QUE O OUTRO JÁ SOUBESSE.
- VOCÊ NÃO SE VENDE, NÃO NEGOCIA PRINCÍPIOS, VALORES, NÃO PERMITE QUE AVILTEM SUA INTEGRIDADE, FAZ-SE RESPEITAR E “EXPULSA OS VENDILHÕES DO TEMPLO” QUE SONHAM E TENTAM TRANSFORMAR A ESCOLA EM CASA DE COMÉRCIO ONDE POSSAM COMPRAR PARA SEUS FILHOS  APROVAÇÕES, PRIVILÉGIOS, PERMISSIVIDADE E COM AMEAÇAS ESCRACHADAS OU SUTIS. Esses só sabem “amar as coisas” e “usar as pessoas”.
Depois desse começo quero apenas dizer: só mais alguns dias e você professor (a) terá as merecidas férias, para que recupere as energias, as crenças, as perspectivas, os sonhos.
Desejo que a vida lhe presenteie com tudo que há de bom, de belo, de verdadeiro porque você merece receber multiplicado o que dá.
Eu lhe agradeço pelo mundo melhor de amanhã.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Comunhão humano-divina

Todas as comunhões que estabelecemos com as pessoas, ou tentamos estabelecer, são expressões da busca da única comunhão que sacia, que completa, que é plena, a comunhão com o Absoluto. Quando conseguimos estabelecer comunhão com alguém, experimentamos um pouquinho do que é a comunhão com Deus, mas como somos imperfeitos, queremos mais, e de novo, e tudo, e continuamos procurando. Essa é, então, a nossa chance de não nos satisfazendo com o outro, encontrarmos Deus no pão e no vinho.

Sacramento da Comunhão




Fonte:
http://www.youtube.com/watch?v=mK-2D3qo-f8

domingo, 3 de julho de 2011

Os últimos dias

Meu purgatório é molhado, frio e escuro, tal qual os últimos dias.
Opa! Onde estou?
Pagando dívidas? Fazendo novas?
Vivi muitos anos sem dever coisa alguma
e acabei por pagar a conta dos outros.
Agora tenho feito eu alguns "cachorros".
Será que pra eu entender aqueles (aqueles outros)?
Será que pra aqueles se entenderem?
Será que pra eu cortar minhas falsas asas?
Será que me contaminei?
Será que limpei as lentes do meu óculos?
Será que ainda vou ter direito a um dia seco, quente e iluminado de sol?
Faço tudo por isso, ainda.
Mas preciso de luz, de calor, de ordem, de cor, de intensidade, de segurança, de profundidade, de vibração, de brilho, de sonho, de conquista, de espaço, de movimento, de repouso, de dividir o pão, de beber o mesmo vinho, de construir conhecimento, de beleza, de confiança, de colo...de absoluto...Absoluto...Esse...Esse que é tudo...que é maior...mais forte...mais sábio...mais afetuoso...mais belo...mais presente...mais fiel...mais humano...e mais divino...Esse...que olha pra mim...que me vê...que me abraça...que ri comigo...que me segura firme...que me encoraja...que não me larga...e que não me prende...que me quer saltitante...que me tira os óculos...que me chama pra festa...que me espera...que me atrai...que me recebe...que me deixa ir... e que me tem sempre de volta...que me satisfaz...que me suporta...que me inspira...que me faz leve...que me quer...que me respeita...que é explícito...que é corajoso...que me afaga...que me corrige...sem me machucar...que sempre vou amar...que sempre vou buscar...que sempre vou encontrar...em cada um que for um pouquinho do Absoluto...um pouquinho amoroso...um pouquinho verdadeiro...um pouquinho belo...um pouquinho bom...um pouquinho Deus.