segunda-feira, 17 de maio de 2010

A gangorra

Essa imagem nos lembra o sobe e desce de acordo com o impulso e o peso colocado em cada extremidade, em cada lado da barra presa a um eixo central.

É assim que um bipolar ou pantímico vive seus dias e noites, oscilando entre a depressão e a euforia. Isso para o não tratado adequadamente, ou exposto a elementos sabidamente depressores ou estimulantes, ou que livremente escolhe deixar a gangorra guiá-lo sem qualquer controle pessoal porque acredita não ser possível.

Às vezes, o pantímico (bipolar) não é percebido devidamente, é mal avaliado, julgado erroneamente pelo caráter, quando a questão é química cerebral - hormônios, neurotransmissores - apenas.

Há tratamento, há controle, há equilíbrio e estabilidade de humor possível, porém, não se exponha ao vinho, ao chocolate ou às coisas belas...rs...pode exigir demais do seu autocontrole....rs.

Bem, usando a lógica formal...se todo ser humano experimenta o sobe e desce das emoções na vida; se experimentar o sobe e desce de emoções é sintoma do transtorno de humor pantímico; logo, eu sendo ser humano, sou pantímica. Certo? Em termos sim, em termos não. Faltou um detalhe na segunda premissa a ser acrescido após a palavra emoções: "com prejuízos significativos na vida pessoal".

O que diferencia o sobe e desce considerado normal, do considerado transtorno, são os prejuízos por conta dessa oscilação emocional.

Se essa oscilação estiver dificultando seu desempenho no trabalho, no estudo, nas relações pessoais, é bom preocupar-se e procurar ajuda de um psiquiatra ou neurologista qualificado e especialista no assunto, preferencialmente com histórico de tratamento na perspectiva de colocar o paciente "em pé", pró-ativo, em ação, e não em situação de mais instabilidade. Quero dizer com isso...fuja dos profissionais que favorecem seu afastamento do trabalho, dos estudos e outras responsabilidades por longo tempo (este é o problema), a menos que você intencionalmente deseje isso, aí a muleta desse "temeroso" tratamento terá serventia.

Há muitos que desconhecem ser portadores do transtorno pantímico, antigamente chamado de transtorno psicótico maníaco-depressivo e também chamado de transtorno bipolar.

Há também os que sabem ser portadores e negam-se a tratamento.

Há ainda os que sabem ser portadores do transtorno e servem-se dele para obter ganhos secundários, como a atenção de alguém ou alguns em especial, ou até alguma benesse no trabalho ou em casa.

Há também os que sabem ser portadores, iniciam tratamento e o abandonam antes do controle ser estabelecido.

Há por fim, os que foram acusados, maldosamente, por muitos anos, de terem reação desproporcional à realidade (o que pode configurar büllying ou assédio moral até), e que internalizaram, aceitaram ser portadores do transtorno pantímico sem avaliar devidamente as circunstâncias que provocaram ou provocam seu desequilíbrio reacional, o que evidencia que há grandes possibilidades das reações desproporcionais de alguém serem causadas ou desencadeadas por patologia social/ambiental/cultural, além da patologia propriamente pessoal.

Há, portanto, ambientes "pantimicogênicos", ou seja, geradores de transtorno pantímico nas pessoas.

Neste caso, quem deve ser tratado? A pessoa ou seu ambiente?

Ora, se determinado estímulo luminoso faz com que a pessoa semi-serre ou feche totalmente os olhos, onde está o problema de não poder enxergar? No estímulo luminoso ou nos olhos da pessoa que tem uma limitação natural de suportar aquela intensidade de luz? Como resolver? É possível ampliar a capacidade dos olhos de alguém de suportar estímulo luminoso? Convém aos olhos? Ou é inteligente reduzir a intensidade do estímulo luminoso?

Analogamente, temos que perguntar...é possível ampliar a capacidade de alguém suportar adversidades, provocações, ameaças, desafios para níveis sem limites? Ou é inteligente reduzir a intensidade dos estímulos desestabilizadores, concomitantemente, com o exercício pessoal de aprender a dessensibilizar as ameaças?

Como podemos ver, a sociedade, e nela alguns de nós, diante de problemas procuram as explicações e soluções mais simplistas e que tirem dos próprios ombros as responsabilidades e as depositem nos ombros de alguém, como se esse alguém fosse bode expiatório das insanidades sociais.

Lembremos que este é o caso de alguns diagnósticos, não todos, mas que deve ser levado em conta antes de definir a origem do problema.

Fora isso, ver tudo colorido, sentir tudo vibrar, perceber tudo como fácil e possível, é uma das maravilhas deste transtorno. Já, ver tudo em tons de cinza, perder as forças, ver dificuldade e impossibilidade em tudo, além de efetivamente obter prejuízos afetivos, econômicos, sociais e até físicos, é a face mais dolorosa, sangrenta até, do transtorno pantímico.

Aos que levianamente se imputam o transtorno seduzidos pelas suas maravilhas, desejando inclusive que seja possível "comprá-lo" num balcão qualquer, não esqueçam que tem o outro lado da moeda e que não gostariam, o dos prejuízos.

Lembro agora de um ditado popular, que ouvi há muitos anos de um colega de trabalho: "Só olham a pinga que eu tomo e não olham os tombos que eu levo." Isto vale para quem tem admirado o transtorno bipolar (ou pantímico - termo citado por Diogo Lara, psiquiatra gaúcho, autor do livro: "Temperamento forte e bipolaridade").

Lembrem-se, por favor, os que vivem na gangorra..."há um eixo central que possibilita o equilíbrio das extremidades." É possível sofrer menos com isso.

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