terça-feira, 5 de abril de 2011

Fenômenos da Interação Humana - Processo Decisório

Em nossa vida quotidiana estamos constantemente tomando decisões. Algumas são muito importantes, como por exemplo decidir onde vamos morar, que emprego vamos procurar, com quais pessoas queremos nos casar, etc. Outras são mais triviais, tais como escolher um cinema para ir, um restaurante onde comer ou a roupa que vamos vestir. Seja como for, a vida nos apresenta, com enorme freqüência, situações em que temos que escolher uma entre duas ou mais alternativas.

           Em psicologia, um misto de aspectos racionais e emocionais é considerado no processo decisório. Nossas decisões têm conseqüências importantes, tanto para nós mesmos como para outros eventualmente atingidos por elas. Sendo assim, justifica-se o interesse da psicologia pelo fenômeno. Embora, à primeira vista, o processo decisório pareça estar limitado exclusivamente ao plano pessoal, é compreensível o interesse da psicologia social pelo assunto, pois nossas decisões são também influenciadas pelo que os outros pensarão delas e, ademais, o fato de vivermos em sociedade e de nossas decisões serem públicas faz com que o pensamento que as precede seja um “pensamento social” e, portanto, de interesse da psicologia social.

1.    Fases psicológicas do processo decisório

a)    A fase pré-decisional do processo decisório. Nesta fase, a pessoa considera objetivamente os prós e os contras das alternativas e as avalia cuidadosamente. É quando nos sentimos em condições de decidir, isto é, quando tivermos coletado informações suficientes que nos permitissem optar.

b)    A fase de tomada de decisão propriamente dita.. Quando faço a escolha.

c)    A fase pós-decisional , onde as avaliações dos prós e contras das alternativas consideradas deixa de ser racional e objetiva e passa a ser emocional e tendenciosa no sentido de justificar a alternativa escolhida.

2. Conflitos Pré-decisionais

O processo decisório é, via de regra, um processo penoso, pois é sempre precedido por uma situação de conflito, a qual, ao ser tomada a decisão, não se extingue completamente, de vez que existem aspectos positivos nas alternativas rejeitadas e negativas na escolhida. Daí o estado de dissonância cognitiva e a conseqüente necessidade de tentarmos eliminá-la ou, pelo menos, reduzí-la.

           Quanto maior o conflito pré-decisional, maior a motivação a reduzir a dissonância após a decisão. Kurt Lewin, um dos maiores psicólogos sociais de todos os tempos, classificou os conflitos em três tipos: aproximação-aproximação, aproximação-evitamento e evitamento-evitamento. O primeiro tipo (aproximação-aproximação) ocorre quando nos confrontamos com duas alternativas atraentes e temos que optar por uma delas. É o caso por exemplo de termos que decidir entre dois bons empregos, entre dois programas para as férias, entre dois excelentes restaurantes, etc. Esse tipo de conflito é relativamente fácil de resolver, e a dissonância que a ele se segue é fácil de sereliminada ou reduzida. O segundo tipo de conflito é o conflito aproximação-evitamento. Neste, as alternativas possuem aspectos positivos e negativos. Tal tipo de conflito ocorre, por exemplo, quando desejamos uma coisa cara. Outro tipo de conflito é o evitamento-evitamento, quando temos que nos decidir por uma entre duas alternativas desagradáveis. É o caso, por exemplo, de Ter que aturar um patrão indesejável ou perder o emprego; de Ter que suportar um apartamento desconfortável e barato ou mudar-se para um melhor porém muito caro. Nestes casos, a dissonância é intensa e a redução da mesma difícil, mas necessária.

3.    Decisão individual e decisão em grupo

Vários estudos demonstraram que as decisões grupais são, via de regra, mais arriscadas que as decisões individuais. Algumas explicações são apresentadas para isso. Uma delas é que, em graupo, difunde-se a responsabilidade, isto é, torna-se fácil para cada membro sentir-se menos responsável, pois o grupo, e não cada um de seus membros, é o responsável pela decisão. Se a mesma se mostra equivocada, cada um dos membros se defende atribuindo ao grupo, e não a si, a responsabilidade pelo erro.

Outra explicação geralmente oferecida para o fato de as decisões grupais serem mais ousadas que as individuais é o fato de prevalecer entre nós uma norma de valorização do risco e da audácia. Num grupo, é mais fácil obter-se apoio social para esta norma e daí a maior freqüência de decisões grupais arriscadas.

Muitas vezes, os grupos tomam decisões muito inadequadas.

Em todos os casos analisados por Janis, as decisões equivocadas foram tomadas por grupos cujos membros, ao invés de atentarem às evidências que as várias situações lhes apresentavam, preferiram uma atmosfera falsa, autop-reforçadora, que lhes satisfaziam o ego, à custa de total desprezo pelos dados de realidade.

Em sua análise dos grandes fiascos históricos decorrentes de decisões grupais inadequadas, Janis salienta que todos eles possuem, pelo menos, seis características comuns, a saber:

1.    o grupo limita sua decisão a umas poucas alternativas, sem se preocupar com a consideração de todo o espectro possível de alternativas viáveis;

2.     o grupo se nega a reavaliar o curso de ação originalmente tomado pela maioria de seus membros;

3.    o grupo negligencia alternativas inicialmente avaliadas como insatisfatórias pela maioria, dedicando pouco ou nenhum tempo à consideração de possíveis formas de corrigir eventuais falhas das alternativas desprezadas;

4.     os membros não se preocupam em obter informações de pessoas competentes que não pertençam ao grupo, numa supervalorização da capacidade de seus membros e desprezo por contribuições daquelas pessoas não pertencentes ao grupo;

5.    tendenciosidade seletiva, isto é, viés na percepção de informação contrária ao curso de ação preferido; e

6.    os membros dedicam pouco tempo à consideração de fatores tais como inércia burocrática e possível sabotagem na execução do plano decidido, deixando assim de tomar precauções para enfrentar tais eventualidades.

Fonte:

RODRIGUES, A. Psicologia social para principiantes. 17ª ed. Petrópolis: Vozes, 1996, p. 43-49.

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