Este é o título do livro que acabo de ler e ainda o estou "ruminando" como dizia um amigo meu, isto no sentido de que ainda é preciso "mastigá-lo" de novo e depois mais uma vez e outra na tentativa de mais absorver seus conceitos, assimilar, internalizar a ponto de descobrir caminhos para viver a integração entre Mística e Eros.
O autor do livro, Anselm Grün, OSB, monge e sacerdote benedito, é nascido em 1945 (acho que ter mais idade conta muito em algumas situações), doutor em Teologia, assessor espiritual e autor de vários livros como: "O céu começa em você", "Se quiser experimentar Deus", "Cada pessoa tem um anjo", O céu começa em você", "Os sonhos no caminho espiritual".
A tradução me parece dificultar a compreensão em alguns pontos ou é o texto original que não é tão claro. No entanto, temos que agradecer o que temos em mãos, algo necessário e sobre o que quase nada se lê, ouve ou se discute, constitui o tema do livro, antes, uma angústia velada que encontra nele muito alívio e entendimento. O autor fala de que os místicos que escrevem suas experiências têm um grande problema em achar as melhores palavras para se exprimir. Talvez more aí a causa de algumas dificuldades que encontrei na leitura.
O que apresento aqui é um resumo do texto do autor, recortes pinçados na verdade.
O livro nos propõe vencer a dicotomia corpo e alma, sexualidade e amor a Deus, e mais do que isto, aprender dos místicos que "a sexualidade é uma fonte de espiritualidade e que o eros tem a tarefa de conduzir a pessoa a tornar-se uma só realidade com Deus."(p. 1 e 2).
Comecemos por rever o que é mística e o que é eros.
Mística (p. 1 - 10)
Diversos são os conceitos. Abaixo segue alguns apresentados na obra, alguns de maior complexidade que outros, mais amplos:
1. Mística equivale à espiritualidade.
2. Refere-se somente à experiências extraordinárias de Deus.
3. "tornar-se uno pela pessoa (pela sua consciência) com um princípio divino". (Bierwaltes, 1987, p. 39).
4. "a tomada de consciência direta da presença do divino"e...o fenômeno originário de maior intensidade e da interioridade mais vital" (L. Richter, RGG, p. 1237).
5. "A experiência mística é um evento cognitivo e/ou de amor entre o ser humano e Deus, orientado ao mistério, dificilmente comunicável, derradeiramente inefável, experimentado pelo ser humano como gratuito e como dom de uma uniào com Deus, sem esforço". (Haas, 1989, p.43).
6. Na mística nào está em jogo uma assimilaçào de Deus (homoiosis), mas de tornar-se uno com ele (henosis)". "O místico nunca é idealista, mas realista". (Struve, 1981, p.124). Nào está em questào a perfeiçào, mas a realidade.
7. A mística consiste em estar desperto e atento: "A meu ver a mística consiste em estar atentos nào aos porquês muito distantes, mas às raízes vitais das coisas e pessoas totalmente próximas a nós...". (Roeck, 1991, p.88).
8. O termo deriva do adjetivo grego mystikos, correlato ao verbo myo, que quer dizer fechar os olhos e a boca para a transformação interior num mistério, e do verbo myeo, significando introdução aos mistérios.
8.1 Platão desenvolve uma mística filosófica "onde se une a ascese do espírito à visào espiritual mais alta e verdadeira, através do erotismo". (Haas, 1989, p.29).
8.2 A filosofia neoplatônica compreende a mística nào mais em nível cultural, mas espiritual. A mística é conhecimento de uma verdade envolta pelo mistério. Ela se refere ao ocultamento do divino fundamento do ser, que pode ser interiorizado somente por aquele que se separa da multidão, abrindo-se para Deus pela ascese e pela meditação. (Wulf, 1963, p.182)
Considerando a história da mística, temos dois tipos diferentes de mística:
1. Uma está em unir-se a Deus no fundo da própria alma - mística da essência.
2. Outra é a mística do amor.
A síntese integradora dos dois tipos é mais realista: para a mística do tornar-se uno está em jogo o amor a Deus que plenifica o nosso mais profundo desejo, assim como, para a mística do amor está em jogo o tornar-se uno e fundir-se com o amado.
Esta síntese nos libera da impressão de que a mística tem sempre a ver com experiências extraordinárias e com piedosas efusões da alma, além de também libertar da tentadora oposição de alguns teólogos entre uma mística do tu e outra do ser. Na tradição cristã o que se vê é a presença de ambas polaridades:
1. A procura de Deus por parte do amante, o debruçar-se para o amado e;
2. Tornar-se uno com Deus no fundo da minha alma.
Eros (p. 10 - 11)
Também de Eros temos diversos conceitos, que seguem abaixo:
1. Na mitologia grega ora temos que eros é o primeiro dos deuses e une os opostos.
2. Ora nos mitos gregos eros é um garotinho selvagem, independentemente de idade ou classe social, fere o coração dos seres humanos.
3. Para Platão eros é "um ser intermediário entre mortais e imortais".
4. Jung fala da escala erótica das quatro mulheres: Eva, Helena, Maria e Sofia (Jung, 1973, §210), sendo:
4.1 Eva: a mãe originária.
4.2 Helena: eros como predominância sexual, sobre um plano estético e romântico.
4.3 Maria: "eleva o eros à devoção religiosa e depois o espiritualiza".
4.4 Sofia: representa a sabedoria de eros; "revela uma espiritualização de Helena, portanto, de eros simplesmente". Portanto, eros é mais que sexualidade.
Portanto, eros é mais que sexualidade.
"Eros está numa relação com a sexualidade, porém não coincide com ela...Eros pode penetrar a sexualidade, humanizá-la, porém, em definitivo, a supera. É um 'potencial energético' (P.K. Kurz) que não apenas produz atração sexual, mas põe também a pessoaem relação com a língua, o mundo, a natureza, a profissão e os grupos sociais, com a arte. Na ausência de eros, dificilmente dar-se-á uma religião que toque e comova o coração" (Stoeckle, 1988, p. 332s.)
Quando falamos de Mística e Eros, eros:
- pode ser a força motriz - Eva - que nos conduz a unir-nos a Deus.
- pode agredir-nos e ferir-nos - Helena - principalmente como o adolescente selvagem da mitologia grega.
- segundo Sócrates, tem "em si o impulso para a salvação e a cura - Maria.
- é energia psíquica que nos estimula porque se trata de crescer - Sofia - nos abrir a procura do belo e do mais belo, da verdade.
Segundo o Simpósio de Platão, com o qual podemos perceber que a escala erótica de Jung se relaciona:
- eros é o deus que cria, o espírito criativo do homem - Eva.
- eros é aquele impulso em nós que nos faz desejar a uniào com uma outra pessoa num amor sexual ou de outra forma - Helena.
- eros é o desejo pela totalidade, pelo sentido, pela integração" - Maria.
- eros desperta em nós o desejo de saber, faz-nos procurar apaixonadamente a união com a verdade - Sofia. (Müller, 1989, p. 65)
Eros como desejo de fusão com o amado e como procura da verdadeira vida nos impulsiona sempre de novo para:
- o caminho espiritual
- nos tornar unos com Deus
- crescermos além de nós mesmos e podermos respousar no êxtase de amor em Deus.
Mística e Eros (p. 12 a 13)
A ligação da Mística e Eros tem valor para todos, celibatários ou não, que queiram viver a sexualidade de tal modo que, transcendendo-a, possam chegar a Deus.
Referência:
GRÜN, A.; RIEDL, G. Mística e eros. Curitiba: Lyra Editorial, 2002. p. 1 - 13.
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
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