Toda atividade humana é originada ou tem por princípio um instinto (natureza inconsciente) ou a vontade (natureza reflexiva, livre e tendente ao bem).
1. NATUREZA DA VONTADE
1.1 A vontade é de natureza reflexiva: isto se diz porque conhece o fim a que tende, os meios de atingi-lo e as conseqüências desse fim.
1.2 A vontade é de natureza livre: isto se diz porque pode escolher entre os diferentes bens que a razão lhe propõe.
1.3 A vontade é tendente ao bem: isto porque só persegue o bem, o aspecto de bem que as coisas lhe apresentam.
2. ANÁLISE DO ATO VOLUNTÁRIO/LIVRE
O ato voluntário compreende 3 (três) fases:
2.1 Deliberação: momento em que se considera as alternativas, as razões pró e contra de cada uma delas. A vontade nesta fase, intervém, substituindo a atenção espontânea pela atenção refletida.
2.2 Decisão: momento em que se diz “eu quero”, em que se faz a escolha de um dos termos, de uma das alternativas e assim, encerra a deliberação. A vontade nesta fase é um ato positivo e refletido.
2.3 Execução: momento que se segue à escolha, em que se realiza a escolha. A vontade nesta fase põe em movimento as faculdades executivas, garante sua manutenção renovando a decisão inicial e repudiando as tendências instintivas que na deliberação se apresentaram e tentaram afastar a reflexão, a liberdade e a tendência ao bem.
3. ABULIAS/DOENÇAS DA VONTADE
3.1 Da Deliberação
3.1.1 Impulsividade: é o caso daqueles que são forçados a agir desta ou daquela forma pelo impulso, não conseguem refletir, portanto não são livres para querer.
3.1.2 Infinita deliberação/análise: é o caso dos que refletem demais, indefinidamente, levantam sem cessar os mesmos problemas, não conseguem resolver-se ou concluir a discussão.
3.2 Da Vontade
3.2.1 Veleidade/hesitação em decidir pelo que sabe que é melhor: é o caso dos que conseguem deliberar, saber o que é melhor, o que devem fazer, mas não conseguem querer fazê-lo. Ex. Sei que fumar faz mal, mas não decido parar.
3.3 Da Execução
3.3.1 Volubilidade/inconstância/fraqueza de manter a decisão/de realizá-la/de não abandoná-la: é o caso daqueles que escolhem, mas logo desistem, cedem às primeiras dificuldades, e até provocam essas dificuldades que assim os dispensará de ir até o fim de seu desejo.
3.3.2 A realização de uma escolha determinada apenas por uma obsessão quando deveria ser livre: é o caso daqueles que sofrem a ação de uma idéia fixa. A vontade neles está ausente, uma vez que a vontade consiste em ser senhor de sua escolha e não comandado por uma idéia repetitiva e constante.
3.3.3 A obstinação que, longe de significar força de vontade, é antes fruto de instintos de afirmação de si ou de contradição de outrem.
4. VONTADE LIVRE
É aquela escolha que substitui a obediência passiva às ordens dadas pela obediência às razões compreendidas.
5. EDUCAÇÀO DA VONTADE
5.1 Indireta: o que aperfeiçoa uma atividade humana repercute forçosamente nas outras.
5.1.1 Educação Física: os exercícios físicos exigem concentração de energia e contribuem para dar essas qualidades de resistência, de força, de sangue-frio, de coragem, de ousadia, que são as outras tantas manifestações da Vontade.
5.1.2 Educação Intelectual: o ato de vontade exige clareza e presteza no pensamento, e a ação será sempre tanto mais energicamente perseguida quanto melhor tenha sido preparada por uma reta razão e um juízo seguro. As convicções intelectuais profundas produzem normalmente as vontades fortes. Na origem de tudo que se faz de grande e de belo aqui na terra, há sempre poderosas paixões intelectuais.
5.2 Direta: o papel do educador aqui é esforçar-se para não incorrer em dois erros, o de ceder aos caprichos daquele a quem procura dar uma formação e o de reclamar uma obediência passiva.
5.2.1 Capricho: não passa de um impulso instintivo ao qual a criança não sabe, ou não quer opor-se. Cedendo sempre a suas fantasias, ensina-se-lhe a deixar-se dominar por eles, em lugar de ensinar a dominá-las. O capricho, em todas as idades é sinal de uma vontade frágil. Um homem enérgico controla sua impulsividade natural, sob pena de ser um joguete do determinismo interior das imagens.
5.2.2 Obediência passiva: A vontade é essencialmente uma atividade racional, e não se quer, verdadeiramente, senão aquilo que se conhece ou se compreende bem. É necessário aprender a obedecer, não tanto aquele que manda, quanto às razões de que é intérprete. É conveniente dedicar-se a compreender os motivos das ordens recebidas, desenvolvendo a atividade inteligente e pessoal. Desta forma se obedece, mas não passivamente, e sim às razòes agora compreendidas e aceitas - esta é a única obediência aceitável.
6. HÁBITO DA VONTADE
A Vontade pode, pelo exercício, adquirir facilidade e vigor. Para isso, pode ser útil impor-se a si mesmo atos ou tarefas difíceis. O exercício tonifica a vontade.
FONTE: JOLIVET, R. Curso de Filosofia. 16ª ed. Rio de Janeiro, Agir, 1986, p.206-212.
segunda-feira, 26 de julho de 2010
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