domingo, 18 de julho de 2010

Nada suave hoje

"Diabo do Inferno"!!! Essa é uma das formas que uso pra exorcizar, mas quem não me ouviu dizer não consegue imaginar, dimensionar com que força isso sai das entranhas. Como uma nota forte a ser emitida pelas cordas vocais, é preciso que o diafragma contraia e expulse o ar com precisão de ataque para não atrasar, para não falhar, para ser impactante e, neste caso, mais precisamente, para "vomitar" o que incomoda dentro.

Às vezes, é necessário usar outra forma de exorcizar em sequência, dizendo um sonoro "Mas que merda"!!! , o que só funciona se for com o sotaque peculiar dos cariocas...em que o mas vira mais e o "r" fica carregado, acentuado porque a língua bate mais atrás no palato.

Tudo isso pra espantar os medos, as tentativas refinadas de autosabotagem, a covardia e até a quase paralisia confortável que impede de ir adiante naquilo que se quer, que se sonha e para o que se exercitou tanto ao longo da vida - amar de corpo e alma! Mas a questão do medo não é essa.

Não há medo em amar de corpo e alma, amar por inteiro, amar verdadeiramente até às últimas consequências, amar para sempre.

O medo imobilizador é...dizer quem sou a quem é tão grande, tão forte, tão capaz, tão criterioso, tão desnudo, tão livre, tão firme, tão surpreendente, tão avassalador, tão intenso e tão sutil.

"Tenho medo de lhe dizer quem sou porque, se eu lhe disser quem sou, você pode não gostar, e isso é tudo que tenho." (Powell, 2001)

Já me expus algumas poucas vezes, mas não foi fácil perceber em algumas delas a indiferença, o descaso, ou o não gostar mesmo. Por outro lado, deveria me alimentar das experiências de ter sido vista, acolhida, querida, mas a insegurança toma conta quando o outro é importante demais.

"Se você for honesto comigo, me contar suas vitórias e fracassos, sofrimentos e alegrias, isso vai me ajudar a encarar minhas próprias coisas e a me tornar uma pessoa inteira." (Powell, 2001)

Curioso perceber que sempre usei a ferramenta da franqueza primeiro, pra abrir caminhos verdadeiros com as pessoas, mas agora vejo que ela não oferece garantia como o autor prometia e eu acreditava, porque agora sou eu a sofrer a ação da franqueza do outro e mesmo sabendo que é o único caminho da inteireza, está difícil "abrir o jogo" das minhas coisas, uma vez que o outro é quem mais quero perto, quem passei a admirar, quem valorizo muito, quem me é caro, quem acabei deixando se agigantar perto de mim, porque vejo além da sua humanidade também o sagrado que habita nele.

Será preciso enfrentar meu medo - o único e real problema, empecilho ou força contrária - pra conviver feliz fazendo feliz. Quando, e se isto for superado, não haverá nada e ninguém capaz de se interpor e impedir o que nos é direito - a felicidade de amar e ser amado...na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a eternidade nos leve.

"Senhor Jesus Cristo
tende piedade de mim!"


Referência:
POWELL, j. Por que tenho medo de lhe dizer quem sou? 19ª ed. Belo Horizonte: Crescer, 2001, p.11 e 100.

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