1. Diálogo é palavra. Palavra verdadeira é a interação de ação e reflexão, de maneira que sem ação é palavreria, verbalismo, blábláblá e sem reflexão é ativismo.
2. “Diálogo é palavra verdadeira, que é trabalho, que é práxis, é transformar o mundo, dizer a palavra não é privilégio de alguns homens, mas direito de todos os homens”.
3. Diálogo não é depositar idéias de um sujeito no outro; não é troca de idéias a serem consumidas pelos permutantes; não é discussão guerreira, polêmica, entre sujeitos que não aspiram a comprometer-se com a pronúncia do mundo, nem a buscar a verdade, mas a impor a sua.
4. A conquista implícita no diálogo é a do mundo pelos sujeitos dialógicos, não a de um pelo outro. Conquista do mundo para a libertação dos homens.
5. O diálogo só é possível se há profundo amor ao mundo e aos homens, porque é ato de coragem, de compromisso com sua libertação.
6. O diálogo só é possível se há humildade. Como posso dialogar, se alieno a ignorância, isto é, se a vejo sempre no outro, nunca em mim? Se me admito como um homem diferente, virtuoso por herança, diante dos outros, meros “isto”, em quem não reconheço outros eu? Se me sinto participante de um gueto de homens puros, donos da verdade e do saber, para quem todos os que estão fora são “essa gente”, ou são “nativos inferiores”? Se parto de que a pronúncia do mundo é tarefa de homens seletos e que a presença das massas na história é sinal de sua deterioração que devo evitar? Se me fecho a contribuição dos outros, que jamais reconheço, e até me sinto ofendido com ela? Se temo a superação e se, só em pensar nela, sofro e definho? O diálogo é lugar de encontro, onde não há ignorantes absolutos, nem sábios absolutos: há homens que, em comunhão, buscam saber mais.
7. O diálogo só é possível se há uma intensa fé nos homens, no seu poder de fazer e de refazer, de criar e recriar, fé na sua vocação de ser mais, que não é privilégio de alguns eleitos, mas direito dos homens.
8. O diálogo fundado no Amor, na humildade e na fé nos homens se faz numa relação horizontal, em que a confiança é a conseqüência óbvia e implica o testemunho que um sujeito dá aos outros de suas reais e concretas intenções, assim como a confiança deixa de existir se o sujeito fala em humanismo e nega os homens.
9. O diálogo só é possível se há esperança, o que leva o homem a uma eterna busca de justiça, de ser mais.
10. O diálogo só é possível se há um pensar crítico, que reconhece uma inquebrantável solidariedade entre mundo – homens, que concebe a realidade como processo, como um constante devenir.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17ªed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987, p.77 a 83.
quarta-feira, 21 de julho de 2010
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