quinta-feira, 22 de julho de 2010

Diálogo - Parte 2 - Uma visão psicológica

1. “O diálogo está centrado na comunicação ou no compartilhar de emoções...Seu objetivo não é resolver problemas, trocar idéias, fazer escolhas, dar e receber conselhos, fazer planos ou raciocinar sobre qualquer coisa. Tudo isso pertence ao terreno da discussão. O diálogo efetivo é um pré-requisito absolutamente essencial para discussões produtivas”

2. A suposição implícita no diálogo é que todos os sentimentos são reações muito naturais resultantes de inúmeras influências presentes ao longo de toda uma vida. Tais sentimentos podem ser estimulados por outra pessoa, mas nunca causados por ela. Não há problema em sentirmos o que quer que seja. O único perigo real ocorre quando ignoramos, negamos ou nos recusamos a expressar nossos sentimentos.

3. O diálogo verdadeiro caracteriza-se por um sentido de colaboração e não de competição. Ele só acontece quando há uma simples troca de sentimentos sem qualquer tentativa de analisar, racionalizar ou atribuir responsabilidades por estes sentimentos.

4. As pessoas que tentam dialogar devem, antes de qualquer coisa, escutar seus próprios motivos e podem considerar três possibilidades: a) Ventilação é a necessidade de colocar “para fora” emoções que possam ter se acumulado dentro de nós. A necessidade ocasional de tal ventilação é compreensível, mas ninguém quer ser usado sempre como um depósito de lixo ou como uma toalha de enxugar lágrimas. b) Manipulação é um modo ardiloso de pressionar o outro a satisfazer minhas necessidades. Quem ama pergunta, apenas: “O que eu posso fazer por você? O que é que você precisa que eu seja?” Quem manipula pergunta: “O que é que você pode fazer por mim?”. C) Comunicação é compartilhar seu verdadeiro eu e isto acontece quando se compartilha sentimentos.

5. O diálogo requer um ato de determinação: vou confiar em você. Não posso ter certeza. Talvez você me desaponte. Mas eu vou arriscar, vou lhe revelar meus sentimentos mais profundos porque quero lhe oferecer o que tenho de mais precioso...

6. A força da comunicação está na habilidade que a pessoa tem de ser totalmente honesta e totalmente cordial ao mesmo tempo. É verdade que um dos princípios essenciais do diálogo é que as emoções devem ser relatadas no momento em que estão sendo experienciadas e para a pessoa para a qual são dirigidas, ainda assim, a cordialidade deve estar presente em qualquer forma de comunicação.

7. Há outra maneira comum pela qual os julgamentos aparecem e destroem o diálogo – é quando acredito que você causou minhas emoções. O julgamento representa a morte para o diálogo verdadeiro. Além disso, os julgamentos que somos tentados a fazer geralmente envolvem uma crítica indireta e destrutiva que é fatal para as atitudes de auto-aceitação, auto-estima e auto-celebração do outro. E quando essas atitudes desaparecem, o amor se perde.

8. A disposição para o diálogo consiste, em resumo, no seguinte: Quero que você me conheça. Entro no diálogo à procura de compreensão mútua, e não à procura de Vitória.

9. No diálogo, a pessoa que fala deve, antes de qualquer coisa, tentar sentir suas emoções o mais profundamente possível. Isso a leva a descrevê-las de uma forma tão acurada que, quem escuta se torna capaz de sintonizar essas emoções.

10. A comunicação total pode ser dividida em três partes: a) Uma descrição resumida das influências físicas e subjetivas que podem estar afetando o seu estado emocional. Ex. “Estou muito cansado...” b) Os acontecimentos específicos do dia que estimularam as emoções que vão ser reveladas. Ex. “Eu vi esse filme e...” c) As emoções propriamente ditas.

11. Escutar, no diálogo, é prestar mais atenção aos significados do que às palavras. É ouvir mais com o coração do que com a cabeça. O diálogo em si é mais uma viagem do coração do que da cabeça.

12. Podemos suprimir a comunicação do outro também de maneira verbal ou não-verbal, e provavelmente fazemos isto quando nos sentimos ameaçados pelo diálogo. Posso dizer alguma coisa irônica ou destrutiva, ou posso sabotar sua comunicação de modos sutis e não-verbais. Posso bocejar, olhar para o relógio, apertar os dentes, franzir os olhos, levantar as sobrancelhas, recostar-me na cadeira, mudar o volume ou o tom de minha voz. Estarei me comunicando através de “sinais codificados”, e você saberá que há algo errado.

13. A questão mais espinhosa sobre o diálogo refere-se às emoções negativas. O que faço quando me sinto hostil em relação a você?

14. A maioria dos rompimentos que minam o diálogo se origina no que chamei de um “espírito ferido” e este pode recuperar sua saúde quase milagrosamente, através de algo quase mágico, um pedido simples, mas sincero: “Me perdoa?”.

15. Quando o diálogo é interrompido, o amor morre e nascem o ressentimento e o ódio. Mas o diálogo pode ressuscitar um relacionamento morto. Na verdade, este é o milagre do diálogo.


POWELL, J. O segredo do amor eterno. 2ª ed. Belo Horizonte: Crescer, 1988, p.123-188.

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