Após um dia que pareceu noite escura, uso da oração do coração, a oração que se torna permanente e que tem me acompanhado desde as férias de janeiro quando enfim li o livro do Peregrino Russo (indicado a mim há mais de 25 anos no Mosteiro da Ressurreição - tudo tem seu tempo) para restaurar, "segurar", garantir minha saúde psíquica e espiritual. A oração é simples, curta, rápida e eficiente, porque fica no inconsciente - aquele que verdadeiramente toma as decisões de como agir e nos move (é ilusão pré-científica pensar que agimos movidos pela consciência). Repete-se a frase: "Senhor Jesus Cristo, tende piedade de mim"! Mas não é uma repetição de qualquer jeito.
Há duas técnicas recomendáveis para maior eficácia, ou seja, para que ela se torne permanente. Primeira técnica: A repetição deve ser ritmada com as batidas do "cuore" - coração. Coloca-se o polegar sobre o punho oposto e a cada pulso sentido pronuncia-se em pensamento as palavras da frase... "Senhor / Jesus Cristo / tende / piedade / de mim". Desta forma as palavras entram na corrente sanguínea e passam a fazer parte do fluxo da vida, desta forma o inconsciente grava e passa a repetir sozinho mesmo quando estamos atentos a outras coisas do dia-a-dia. Segunda técnica: A repetição deve ser ritmada com a respiração. Ao inspirar o ar pronuncia-se em pensamento metade da frase, ao expirar a outra metade. "Senhor Jesus Cristo / tende piedade de mim"! Da mesma forma as palavras se internalizam, se incorporam à atividade vital da respiração e movem todo nosso ser.
Esta oração tem o poder de conter ações compulsivas, ou melhor, transformá-las em compulsões que não afetem terceiros. A explicação disso é simples, por analogia...compulsão é impulso repetitivo para determinada coisa/idéia/pessoa/ação e a oração do Peregrino Russo também é repetição, logo, se foco na repeticão da oração o impulso de repetição é mantido mas muda o objeto da compulsão, o alvo da repetição, com isto o impulso vai se abrandando, minimizando, silenciando porque foi vivido, saciado em sua ação, afinal houve a repetição e o objeto perseguido pelo impulso deixa de ser tão importante assim.
Enquanto rezo a oração, também rememoro minhas raízes, meu eu sadio, minha história feliz de quedas e elevações, de perdas e ganhos, de erros e acertos e me alimento de tudo que houve e há de bom em minha vida, em minhas ações para com os outros e dos outros para comigo. Guardo o que me fizeram de bom. Guardo como me fizeram o bem. Guardo quem me fez bem. Uso o método da "diferenciação" proposto por Fritz Heider (psicólogo das Relações Humanas), em que relevo o que não me agrada para conviver com o que me agrada. (Não confundir com o jogo do contente da Pollyanna, porque esta negava a parte que não lhe agradava, aqui não se nega, admite-se e releva-se, deixa-se de lado por escolha).
Quando fiz a TIP - Terapia de Integração Pessoal, curei-me de muitas coisas (não todas), mas uma delas foi da concepcão negativa de homem, isto se deu quando recuperei do inconsciente a memória de uma situação com meu primo na infância, em que eu não conseguia fazer uma manobra com a bicicleta e ele me ajudou a conseguir. A complementaridade do masculino e feminino naquele momento, a ajuda deliberada dele, a satisfação minha em conseguir realizar a manobra com a ajuda dele ficou estampada em meu rosto num sorriso livre e solto. Esta imagem, esta cena, me alimenta até hoje de que é possível a complementaridade, a cumplicidade, a felicidade. Isto me alimenta até hoje de que somos bons, homens e mulheres juntos, de que sou uma pessoa boa, de que o outro é bom... e isto até as raias da suposta ingenuidade.
O que pode fazer parecer a muitos falta de malícia minha, fragilidade, insensatez e até doença, pode também, na base, na verdade, na essência significar que me nego a agir como o "bando da alimentação" (da obra Fernão Capelo Gaivota, Richard Bach); que me nego, embora às vezes seja inevitável, à simplesmente reagir; que prefiro agir livremente por amor, por querer bem, por querer compartilhar e não vencer, por querer caminhar lado a lado, por querer olhar junto na mesma direção, por querer ver crescer, por querer ver caminhar para frente, sempre.
Rezar a oração do Peregrino Russo me devolve o equilíbrio, a saúde, a paz...
...de quem ama independentemente de ser amada;
...de quem quer ser amada sim e por alguém em especial, de forma especial, mas aceita se não é, porque amo gratuitamente, não como num balcão de negócios;
...de quem sabe que se o outro não me ama como eu gostaría, "talvez" me ame como pode;
...de quem não se deixa manipular, determinar pelas ações dos outros sempre, mas consegue às vezes decidir livremente amar mesmo quando tudo parece desfavorável;
...de quem ama sendo capaz de deixar o outro livre para ir, mesmo o querendo perto. E as pessoas em minha vida estão sempre indo;
...de quem se ama ainda o suficiente para não se permitir afetar, desestruturar, machucar por outrem durante muito tempo;
...de quem não desiste de aprender a "manobra" do amor, a exemplo da manobra da bicicleta (acima), com quem estiver disposto a ajudar-me deliberadamente.
Obrigada my Lord! Obrigada my God! Obrigada pelos que me amam como podem!
terça-feira, 31 de agosto de 2010
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