quarta-feira, 18 de maio de 2011

Gostos e Personalidade - o que dizem as pesquisas? (um bom Estado da Arte)

Pesquisas sobre "Preferências estéticas e traços de peronalidade" apresentadas na revista "Mente Cérebro" ano XVII, nº 220, da Editora Duetto, sob o título "Diga-me do que gosta e direi quem você é!" assinada por Christiane Gelitz, jogou luzes sobre o fato de eu sempre gostar de arte, qualquer uma, seja plástica (desenho, pintura, escultura...), música, dança, fotografia, teatro, cinema e, ainda, em cada uma delas, gostar de alguns estilos mais que outros, ou ainda, o fato de preferir esta ou aquela atividade. As pesquisas mostram que "aquilo de que gostamos "naturalmente" é uma questão de tipologia, não de capacidade cognitiva". Vamos a elas.

1. Uma das pesquisas é de 2009, do psicólogo Chamorro-Premuzik, da Universidade de Londres (Inglaterra), realizada por meio de teste on-line, com 90.000 pessoas entre 13 e 90 anos, às quais foi orientado avaliar 24 pinturas de quatro estilos (cubista, renascentista, impressionista, temas japoneses) e, em seguida, responder um questionário que avaliava os cinco grandes fatores da personalidade (abertura a novas experiências, extroversão, instabilidade emocional ou neuroticismo, amabilidade, conscienciosidade), resultando que:
- quem se interessa mais por imagens impressionistas tem em sua personalidade traços predominantes de "amabilidade" e "conscienciosidade" e pontuação baixa em "abertura a novas experiências";
- quem se interessa mais por imagens cubistas tem em sua personalidade traços predominantes de "extroversão";
- quem se interessa mais por imagens renascentistas (clássicas) teve pouca pontuação em "abertura para a novas experiências";
- quem se interessa mais por arte abstrata, expressionismo, surrealismo ou pop art tem em sua personalidade traços predominantes de "abertura a novas experiências".

2. Outra pesquisa é de 2005, do psicólogo Sam Gosling, da Universidade do Texas (EUA), realizada com voluntários a observar quartos de desconhecidos para posteriormente opinar sobre a personalidade do proprietário, isto porque defende que as pessoas deixam marcas no ambiente e nós as usamos para criar a imagem de uma pessoa em nossa mente. A pesquisa resultou que:
- quem acumula uma grande quantidade de jornais, livros, CDs (diversidade) cria uma imagem na mente das pessoas de ser alguém com traço predominante de personalidade de "abertura para as novas experiências";
- que os traços predominantes de personalidade são inferidos nào pela quantidade de material de leitura, mas sim pelo tipo das publicações;
- Histórias em quadrinhos, livros sobre música  e filosofia revelam muito pouco sobre a personalidade dos seus proprietários;
- Volumes de arte, psicologia, poesia e revistas noticiosas costumam ser lidas por pessoas com traço predominante de personalidade de "abertura para as novas experiências" e "conscienciosidade";
- quem prefere conteúdo humorístico e político cria uma imagem na mente das pessoas de ser alguém com traço de personalidade mais conservador.

3. A pesquisa semelhante de 2004, dos psicólogos Nicola Schutte e John malouff, da Universidade de New England (Austrália), com mais de 200 estudantes, atráves de um questionário que avaliava os cinco fatores de personalidade em relação a seus gostos literários, resultou que:
- quem prefere ler os clássicos da literatura e a seção cultural de revistas e jornais fizeram mais pontos no quesito "abertura a novas experiências";
- quem preefere ler publicações científicas também fez alta pontuação no quesito "abertura a novas experiências"e ainda no quesito "conscienciosidade";
- quem prefere ler romances e  revistas de fofocas (água com açúcar) pontuaram acima da média em "extroversão" e menos no fator "abertura a novas experiências";

4. Estudo semelhante feito em 2005, pelos pesquisadores Gerbert Kraaykamp, da Universidade de Nijmegen, e Koen Vvan Eijck, hoje da Universidade Erasmus (Holanda), através de entrevista com 3.500 homens e mulheres, entre 18 e 70 anos, de vários grupos sociais, levantou a relação dos fatores de personalidade com os gostos por atividades culturais e de lazer, resultando que:
- quem frequenta mais eventos culturais, tem mais interesse por teatro, prefere ouvir música clássica e canções de ídolos pop, assiste a filmes "comerciais" com a intenção de se divertir, evita assistir filmes e ler livros excessivamente românticos, descreve-se como "aberto a novas experiências";
- quem prefere filmes e livros excessivamente românticos declarou-se "emocionalmente instável";

5. Estudo feito pelo pesquisador Adrian Furnham em 2001, com base na teoria dos anos 1970 de que as "preferências estéticas" estão relacionadas com a "busca por sensações" (sensation seeking), descrita pelo psicólogo Marvin Zuckerman, da Universidade de Delaware (EUA) - que define os Sensation seekers como pessoas que não suportam a monotonia e o tédio, e anseiam por estímulos buscando-os em experiências intensas e/ou arriscadas, mostrou que pessoas com esse comportamento:
- tenderiam a gostar de arte abstrata, pop art e surrealismo e rejeitar pinturas representativas;
- não se agradam com motivos visuais tradicionais e amenos que lhes despertariam estímulos demasiados sutis, enquanto a ambiguidade e a confusão gerada pelas imagens abstratas os satisfariam;
- preferem em geral ouvir rock e composições clássicas;
- rejeitam trilhas sonoras de filmes e canticos religiosos;
- consegue relaxar melhor com as batidas de Marilyn manson ou com free jazz;

6. A pesquisa de 2006, novamente de Sam Gosling agora com o psicólogo Peter Rentfrow, da Universidade de Cambridge (Inglaterra), através de participantes que ouviram as dez músicas preferidas de pessoas que não conheciam, para delas tirarem conclusões, mostrou que:
- a primeira impressão intuitiva frequentemente está correta;
- o acerto de conclusões foi maior quanto aos fatores de personalidade "abertura a novas experiências"e "extroversão";
- os ouvintes de estilo "intenso e rebelde" se descreveram como pessoas "abertas as novas experiências";
- os ouvintes do tipo de música "reflexivo e complexo" são os abertos e politicamente liberais;
- os ouvintes de estilo "rítmico e dinâmico" são "extrovertidos";
- os ouvintes de estilo "convencional e alegre" são extrovertidos mas também afáveis, conscientes de suas responsabilidades e conservadoras.

7.  Uma pesquisa similar de 2008, coordenada por Marc Delsing, da Universidade de Utrecht (Holanda), com mais de 7.000 adolescentes holandeses entre 12 e 16 anos, através de enquete sobre o consumo de drogas e estilos musicais, concluiu que:
- na Holanda, os adolescentes ouvintes de jazz e clássico se descreveram mais frequentemente como "emocionalmente instáveis".
-  na juventude poucos adolescentes mudaram seu gosto, e com o aumento da idade ele foi se tornando mais sólido;
- jovens extrovertidos se distanciavam cada vez mais, com o passar dos anos, do rock e do punk, voltando-se para o pop e o urban;

8. Um estudo realizado em 2008, pelo psicólogo Hasan Tekman, da Universidade de Uladag (Turquia), descobriu:
- um quinto estilo musical - música folclórica turca, cujos fãs se destacavam principalmente pela "amabilidade", "conscienciosidade" acima da média e leve tendência ao "neuroticismo";
- a predileção pela música intensa e rebelde apareceu associada nos "abertos para novas experiências;
- a predileção pela música reflexiva e complexa"apareceu associada nos de cárater menos afável;

9. Um estudo de Richard Zweigenharft, do Guilford College (EUA), através de entrevistas com 83 estudantes universitários descobriu relações entre os gêneros musicais e várias refinadas facetas da personalidade:
- os ouvintes de funk se consideram corajosos, pouco organizados e menos disciplinados que os outros;
- fãs de heavy metal e de ópera aparentemente compartilham a característica da desorganização;
- amantes do rap e do hip-hop confessam "falta de disciplina", "descrevem-se como "impulsivos" e "àvidos por experiências", são "sociáveis" e "abertos a questionamentos";
- uma queda por música gospel foi associada a uma grande "abertura para novas experiências" e se adequam mais aos ouvintes de jazz, música folclórica e world music;
- a preferência por cânticos religiosos mostra tendência à rigidez em relação às próprias crenças e opiniões e têm mais elementos em comum com adeptos do country e pop;

10. Outro estudo dos pesquisadores Adrian C. North, da Universidade de Leicester e David J. Hargreaves, da Universidade de Roehampton (Inglaterra), através de enquete realizada com mais de 2.500 pessoas entre 18 e 60 anos, identificou o típico estilo de vida de diversos grupos sociais e suas preferências musicais:
- fãs de musicais são os que se comportam  de forma mais exemplar, evitam álcool e drogas, respeitam leis e costumam se engajar em causas pelo bem-estar coletivo ou de minorias;
- a queda pela música clássica, jazz, blues e ópera indica, em geral, diploma universitário e é característica das classes média ou alta;
- ouvintes de hip-hop ou de dancefloor são os mais transgressores: muitos usam drogas e mais da metade já cometeu algum crime.

11. Um estudo de 2010, coordenado por Juul Mulder, da Universidade de Utrecht, sobre as preferências musicais e uso de drogas de 7.000 adolescentes revelou:
- adeptos de punk/hardcore, techno e reggae consumiam mais drogas, em comparação com fãs de música mainstream, pop e clássica.

12. Uma pesquisa de 2009, coordenada por Valorie Salimpoor, da Universidade McGill (Canadá), investigou como os sentimentos de êxtase musical se manifestam no corpo, através de audição de dois tipos de músicas - as preferidas e neutras, e revelou:
- o sentimento de exaltação que surgiu em determinados momentos ao ouvir as composições preferidas estava intimamente associado à excitação autônoma - aumento da condutividade da pele, da frequência respiratória e cardíaca, enquanto a pressào sanguínea e temperatura corporal baixavam.

13. Em 2005, os neurocientistas Daniel J. Levitin, da Universidade McGill, e Vinod Menon, da Universidade Standford (EUA),  descreveram o que ocorre no cérebro com os sentimentos de êxtase musical:
- ao apreciarmos uma música, a atividade de uma rede neuronal também ativa com outras emoções positivas se altera: a área tegmentar ventral intermedeia a interação entre o núcleo accumbens, o hipotálamo e a ínsula, que regulam as reações vegetativas descritas.

14. Em 2002, o médico Eckart Altenmüller, diretor do Instituto de Fisiologia Musical da Universidade de Hannover (Alemanha) demonstrou a área do cérebro estimulada pela música:
- a apreciação musical está associada a uma atividade claramente mais intensa no córtex cerebral esquerdo;
- os sentimentos negativos têm uma base no hemisfério direito.

15. Pesquisa de 1999, coordenada pela neuropsicóloga Anne J. Blood, da Universidade McGill (EUA), demonstrou porque determinadas peças musicais nos entusiasmam mais que outras:
- quanto mais dissonâncias os pesquisadores adicionavam a uma peça musical composta por eles, menos ele agradava os voluntários do estudo e mais forte era a circulaçào sanguínea em certas regiões do hemisfério direito;
- se nossa música preferida provoca um arrepio na espinha, isso se reflete, por outro lado , nas estruturas límbicas ventrais que se tornam ativas também durante o consumo de chocolate.
- a maioria experimenta o estado de êxtase musical principalmente quando soam as melodias harmônicas das chamadas popsongs.
- um sensation seeker precisa de uma excitação mais intensa de seus nervos para atingir seu melhor nível de estimulação;
- pessoas com maior abertura para novas experiências precisam de estímulos mais complexos.

16. Um estudo de 2009, de Charmorro-Premuzic e seus colegas investigam mais a fundo o sentido e o objetivo de ato de ouvir música e reforçam a teoria anterior demosntrando que:
- pessoas mais abertas com frequência usam suas músicas preferidas para estimulação intelectual;
- pessoas contemporâneas extrovertidas usam suas músicas preferidas como distração;
- neuróticos usam suas músicas preferidas para a regulação emocional.


As constantes mudanças de culturas locais e de épocas impedem de certa forma a construção de um "manual" que desvende as preferências estéticas, exceto se for constantemente reescrito e em diversas localidades.

Tivemos aqui um bom exemplo de GAVETINHAS DA PSICOLOGIA!
Onde me encaixo hoje?
Onde eu me encaixei ontem?
Onde eu me encaixarei amanhã?

Que bom que as gavetinhas não têm chaves, assim posso mudar a cada minuto.
Essa é a minha natureza!
Essa é a sua natureza!
Essa é a nossa natureza humana - mutável!

Mas entendi algumas coisas em mim com esse levantamento de Estado da Arte sobre gostos e personalidade. Espero que sirva a você também.


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