segunda-feira, 30 de maio de 2011

Os homens que não amavam as mulheres

Este é o título do livro de Stieg Larsson e também do filme dirigido por Niels Arden Oplev lançado em 2009.
Há menos de dois anos recebi a indicação deste livro por um jornalista na internet, juntamente com a indicação de outro que já li e gostei muito.
Hoje acabei assistindo o filme antes de ler o livro - não venço ler tudo que me interessa no tempo que gostaria.
Em geral os homens não amam as mulheres. Ou melhor, vamos abrandar isso, em geral os homens mais desejam do que amam as mulheres. Talvez fique melhor assim, em geral os homens não sabem amar as mulheres. Melhor não dar parecer, alguém que se sinta ferido logo dirá que não posso generalizar.
A história é recheada de violência sexual - estupros seguidos ou não de assassinatos. Mas se é recheada de crimes é recheadas de vítimas também. Pouca vingança até. Mas o bonito é perceber que contra a história de vida, contra a programação mental, algumas mulheres sobreviventes ainda guardam algo bonito dentro de si e mais surpreendente ainda é ver que elas ainda se dispõem a dar um pouquinho dessa coisa bonita para um homem.
Talvez os homens maus não tenham conseguido macular a imagem de todos os outros. Talvez as mulheres que sobreviveram só o conseguiram por dissociarem aqueles homens dos outros todos.
E esta dissociação/diferenciação me faz lembrar a Teoria do Equilíbrio de Fritz Heider, já explicada aqui numa postagem sobre os Fenômenos da Interação Humana - formação de atração entre as pessoas.
É um filme bem dinâmico, investigativo, com algumas cenas fortes, com saldo tanto negativo quanto positivo de sensações. Prefiro aqui falar do saldo positivo. Da cura. Do quanto a alma de uma mulher pode ficar leve quando ela se sente amada por um homem. Do que uma mulher é capaz de fazer pra retribuir o amor recebido de um homem. Do quanto o amor é maior que a decepção (E é bem esse o termo usado no filme para se referir ao que o criminoso provoca nas vítimas e com o que ele se deleita e se compraz - a decepção).
Em escala menor de violência e de criminalidade, visito às vezes o submundo e vejo esse mesmo prazer no gênero masculino - inebriar, encantar e causar decepção.
Façamos justiça, assim como eu "visito" o submundo e não faço parte dele, há outros que da mesma forma encontro lá, mas não são de lá. E há entre os pervertidos, ou doentes, os mal educados, os sórdidos, os que guardam algo bom dentro de si e só precisam de alguém que os ame de verdade para que sintam-se à vontade de externar o que trancafiaram a sete chaves por medo, por terem sido traídos em sua confiança uma vez, feridos em sua dignidade.
Todo agressor é antes uma vítima de alguém e, de si mesmo depois das feridas abertas.
Prefiro ver assim do que pensar como o senso comum de que alguns optam livremente por fazer o mal. Soaria como aberração da natureza.
E não posso esquecer das aulas de Psicologia da Educação na minha graduação com o Pe. Miguel, graduado em cinco áreas diferentes: Matemática, Direito, Biologia, Filosofia e Teologia, quando ele explicava que o ser humano tem a tendência para o bem e tudo que ele escolhe é sob o aspecto de bem que a coisa se lhe apresenta, que o mal é a negação do bem, e que o ser humano não conseguiria escolher o nada, exceto o bem, por isso quando mata, é vendo no ato algo de bom, é com este enfoque que mata, se visse a negação do bem no ato não o cometeria. É portanto uma falha no processo decisório, falha na primeira fase do Ato Livre, que é o conhecer, o analisar. O ser humano fica cego, vê apenas uma parte da realidade, vê apenas que vai se ver livre de um problema, por isso mata. Não vê que deixará de promover a vida.
Os homens que não amam as mulheres falham, portanto, intelectualmente, na fase do conhecer, do analisar, do ver o todo.
Os homens que não amam as mulheres só vêem o seu prazer, fatiam a realidade, desconsideram a interação, o sistema, a rede que é a vida humana, o Universo, a criação e o Criador.
Os homens que não amam as mulheres foram vítimas, não foram suficientemente amados, respeitados em sua dignidade?
Os homens que não amam as mulheres têm doenças psíquicas sem tratamento - problemas físicos, químicos ou elétricos cerebrais, ou ainda problemas emocionais?
Os homens que não amam as mulheres aprenderam com uma cultura que prega a preponderância de um gênero sobre o outro?
Os homens que não amam as mulheres podem ser recuperados? No sentido do filme, do estuprador, diz a ciência que não e que por isso deve viver recluso.
Mas, e os homens que mostram não amarem as mulheres em grau menor de violência?
Precisam de amor.
Amor!
Acolhimento de alma. E isso pouco se faz com palavras. Amor é atitude. Amor é cuidado. Amor é dar. Amor é Ver o outro. Amor é deixar o outro ser.
E o mesmo professor dizia em outra de suas aulas..."ninguém dá o que não tem."
Se os homens não amam as mulheres, talvez seja porque as mulheres não amam os homens.
Precisamos todos reaprender a amar. Precisamos não ter medo. Precisamos em toda situação olhar para o outro com ternura, com deslumbre, como quem descobriu o tesouro ou quer descobrir. Como quem respeita o valor desse tesouro.
Mas só consegue isso quem conhece o tesouro que é o ser humano.
Então fica a sugestão: que tal crescer em sabedoria e conhecer mais da natureza humana, dos seus gêneros inclusive?
Afinal quem não conhece seu próprio negócio está fadado ao fracasso, à falência do seu empreendimento.
Penso que a vida humana é o nosso maior empreendimento.
Aos homens que sabem amar as mulheres, deixo a minha reverência, curvo minha espinha, baixo minha cabeça, não para submeter-me, mas para reconhecer por um instante ao menos sua grandeza e agradecer por mim e por todas nós.
E como diz a propaganda da Coca-Cola, os bons são mais. rs



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