Eu o conheci há 23 anos. Eu era estagiária num dos "S" onde ele era professor de Desenho Técnico. De repente no hall da entidade uma exposição de suas telas. Percebi logo que era nada acadêmico. Que tinha personalidade aquela assinatura. Ele tinha um sorriso tímido, típico dos grandes artistas. Uma noite o diretor da Unidade promoveu um de seus jantares para os funcionários...lembro do cardápio...lasanha verde e Gengiskan...Renato no violão, outra pessoa e eu também...cantávamos Iolanda do Chico Buarque e como todo músico nos olhávamos pra sincronizar os tempos e as mudanças de posição no violão. Os olhos azuis dele nesta hora fizeram eu parar de tocar e interrompê-lo pra dizer que "com esses olhos azuis me olhando não dá"...rs. Coisas de quem já tinha tomado umas cervejas. Coisas de quem era muito inocente ainda. Nada mais que isso, mas claro que às voltas todos imaginaram muitas coisas, principalmente os que costumam julgar os outros por si mesmos, ou melhor, que costumam julgar as intenções dos outros por suas más intenções. O fato acabou sendo divertido. Kotowey caiu na risada, eu também e todos por conveniência...rs. Mais tarde veio uma canja para nos resgatar as forças, já tínhamos tocado e cantado muito. Anos depois, em 1992, eu já era Coordenadora de Cursos em outro "S", convidei-o para ministrar um Curso de Desenho Artístico do qual fiz parte da turma com outros conhecidos, a turma tinha 18 alunos. Foram 5 meses com 3 aulas semanais de 3 horas. Renato Kotowey aplicou naquele curso, trazendo para Ponta Grossa um conhecimento de vanguarda, o método "Desenhando com o lado direito do cérebro" de Betty Edwards. Quando essa entidade comemorou 50 anos no Estado do Paraná ele foi um dos artistas pontagrossenses que convidamos para retratar os serviços da entidade. Uma de suas telas, retratou a cozinheira "Chica" escolhendo feijão no balcão do restaurante, a outra tela retratou uma aluna na aula de jazz. A exposição dos trabalhos seguiria itinerante pelas Unidades do Estado, mas quando ficou na Direção Regional em Curitiba, o Diretor Regional de então, escolheu a tela do Renato Kotowey com a cena do cotidiano ato de "escolher feijão" para ficar em sua sala. Este diretor conhecia arte e sabia da preciosidade diante dos seus olhos. Ainda preciso descobrir se a tela ficou na entidade ou seguiu com o diretor. Desejo imensamente que esteja protegida e exposta para que outros possam desfrutar da beleza daquela composição. Com o Kotowey aprendi um novo olhar para o mundo, para as coisas, para as formas, para as cores, para as sombras, para a luz, para os planos da perspectiva, para o recorte e enquadramento de uma cena, para a composição de uma obra, para o que é arte e o que não é, para os contornos do academicismo e o traço livre e leve do artista. Muitos anos mais tarde, acompanhei de longe quando uma amiga convidou-o a fazer uma retratação do Mosteiro da Ressurreição à pedido do Abade que muito conhece de arte também, aliás os monges sempre desenvolvem sua dimensão artística. Este trabalho do Kotowey foi apresentado à comunidade numa exposição. Foi a penúltima vez que o vi. E fiquei muito feliz por participar deste momento em que um artista de verdade tinha seu reconhecimento. No ano passado o vi pela última vez. Lugar inusitado como tinha que ser com um artista, estávamos ao lado da banca de tomates do Supermercado Tozetto do Jardim Carvalho. Ali contou-me da sua vitória sobre uma doença. Fiquei tranquila e feliz ao saber que tínhamos ainda a oportunidade de beber da sua arte e do seu conhecimento sobre ela. Na semana passada insisti com minha filha que ela deveria ter umas aulas com o Kotowey para aprimorar e aprender dicas de como dar ares de arte aos desenhos que faz e que já são bons. Não houve tempo suficiente para isso. Quem o conheceu pessoalmente e pode aprender com ele teve sorte. Agora é só admirar o que produziu. Tenho uma sensação de quem tem um tesouro, a lembrança de conviver, mesmo que pouco, com um grande artista. Por isso hoje Ponta Grossa ficou menor. E o paraíso ficou maior.
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Renato irmão, amigo querido meio impertinente as vezes, mas que sempre me ouvia e me entendia agora não tem mais, agora nada sei veio o vento e levou voce de mim.........................
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