domingo, 12 de junho de 2011

Autoridade de um líder

Assumir um cargo é relativamente fácil se comparado com a construção da autoridade pessoal. Ser investido legitimamente de poder é mais fácil do que sua autoridade ser reconhecida.

Sirvo-me do livro “Comunidade, lugar do perdão e da festa”, escrito por um canadense – Jean Vanier - que fundou a “Arche” - comunidade para acolher deficientes mentais, em Trosly-Breuil – França, depois de se ter doutorado em Filosofia e ensinado na Universidade de Toronto. A comunidade cresceu e espalhou-se por vários países na Europa, Índia, América do Norte, América Central, África.


Capítulo V – Autoridade e outros dons


A autoridade é muito importante, pois o crescimento da comunidade depende, em grande parte, do modo como ela é exercida. O chefe numa comunidade não tem todas as luzes; sua função, pelo contrário, é ajudar cada membro a ser ele mesmo e a exercer seus dons próprios, para o bem de todos.
Falando de autoridade nestas páginas, não falo unicamente do “grande chefe” de uma comunidade, mas de cada um daqueles que tem autoridade sobre alguém.

1. Uma missão que vem de Deus
O responsável por uma comunidade, e qualquer responsável, recebeu uma missão que lhe foi confiada quer pela comunidade que o elegeu, quer pelo superior que o nomeou. Deve prestar-lhe contas.
Mas recebeu-a também de Deus. Não se pode assumir uma responsabilidade, em relação a outras pessoas, sem uma ajuda de Deus “pois, diz S. Paulo, só existe poder em Deus e toda a autoridade foi instituída por Deus” (Rm 13,1). Toda autoridade recebida de Deus, como missão, deve voltar para Deus, a quem é preciso prestar contas. Isto é a pequenez e grandeza da autoridade humana.
De fato a autoridade é para a liberdade e o crescimento das pessoas. É uma obra de amor.
Deus vem sempre em socorro daquele que tem autoridade se ele for humilde e procurar ser servo da verdade.

Reflexão:
- Minhas ações como "Líder" têm respeitado a liberdade e gerado crescimento dos meus liderados?


2. Ser servo
Há diferentes modos de exercer a autoridade e dar ordens: o do chefe militar, o do chefe de uma empresa e o do responsável por uma comunidade. O general tem em vista a vitória; o chefe de empresa, o lucro; e o responsável por uma comunidade, o crescimento das pessoas no amor e na verdade.
O responsável por uma comunidade tem uma dupla missão: deve conservar seus olhos, e os olhos da comunidade, fixos no essencial, nos objetivos fundamentais e mostrar sempre o caminho, para não deixar a comunidade perder-se em histórias, em coisas secundárias e acidentais.
Mas o responsável por uma comunidade tem também por missão criar uma atmosfera ou um ambiente de paz e de alegria entre os membros. Pela relação com cada um, pela confiança que lhes manifesta, leva cada um a ter confiança nos outros. O terreno propício para o crescimento humano é um meio ambiente sem tensões, feito de confiança mútua. Quando há rivalidades, ciúmes, suspeitas, bloqueios de uns em relação a outros, não pode haver comunidade, nem crescimento, nem testemunho de vida.
O essencial, para qualquer responsável, é que ele seja servo mais do que chefe. Quem assume uma responsabilidade porque quer provar alguma coisa, porque, por temperamento, tem tendência para dominar e mandar, porque precisa aparecer ou porque quer privilégio, será sempre um mal responsável, porque não procura ser, antes de tudo, ser servo.
Nunca se deve escolher um chefe por suas qualidades naturais, mas porque ele se mostrou, até então, alguém que coloca os interesses da comunidade acima dos interesses pessoais.
A primeira qualidade de um responsável é amar os membros de sua comunidade e sentir-se responsável pelo seu crescimento. Isto implica que ele carregue suas fraquezas. Os membros da comunidade sentem logo se o responsável os ama, tem confiança neles, ou se, pelo contrário, está lá para exercer um poder, ou impor sua visão, ou se é um fraco que só procura ser amado por eles.
Para o cristão, Jesus é o modelo de toda a autoridade. Ele, que lavou os pés dos discípulos, Ele, o Bom Pastor, que dá sua vida pelas ovelhas, ao contrário do mercenário que só age em seu interesse.
Um responsável deve sempre preocupar-se com as minorias na comunidade e com aqueles que não têm voz. Deve estar sempre à sua escuta e fazer-se seu intérprete diante da comunidade. É o defensor das pessoas, pois a pessoa, no seu ser profundo, não deve nunca ser sacrificada ao grupo. A comunidade é sempre para as pessoas, e não o contrário.

Uma reflexão:
- Como "Líder" eu crio um meio ambiente sem tensões, feito de confiança mútua? Eu dou vez e voz a todos os meus liderados ou só a alguns? Eu sei quem são os meus liderados, seus nomes, um pouquinho de sua história pessoal? Respeito sua história pessoal como a um mistério, a um tesouro, ou falo das suas coisas em qualquer lugar para qualquer um de qualquer jeito?


3. Dividir as responsabilidades
No fundo, a melhor autoridade é aquela que faz muito pouco, mas que lembra aos outros o essencial de sua função e da sua vida, que os chama para assumir responsabilidades, os sustenta, os confirma e os controla.
Um responsável não deve jamais cansar-se de dividir o trabalho com outros, mesmo se sentir que não fazem tão bem o trabalho quanto ele, ou diferente dele. É sempre mais fácil fazer as coisas do que ensinar os outros a fazê-las. Um responsável que cai na armadilha de querer fazer tudo ele mesmo corre o risco de se isolar.
Uma das qualidades essenciais de um responsável é saber escutar todos (e não só os amigos e os admiradores) compreender em que ponto está cada um, criar com eles laços verdadeiros, se possível laços calorosos. O mau responsável esconde-se atrás do prestígio, do poder, da palavra, da ordem: só escuta os amigos. Fala muito, mas preocupa-se pouco com saber como é que os outros recebem a sua palavra e, sobretudo, não procura conhecer suas necessidades profundas, suas aspirações, suas dificuldades, seus sofrimentos, e o apelo de Deus para eles.
Um responsável que não sabe escutar o contestário para captar o grão da verdade escondido entre as ervas daninhas do descontentamento, vive na insegurança.
Seria bom se permitisse aos membros de sua comunidade que se expressassem livremente diante de uma terceira pessoa, – um olho de fora – sobre seu modo de exercer a autoridade.
Um mau chefe só se preocupa com regulamentos e com a lei. Não procura saber como vão as pessoas. É fácil esconder sua incapacidade de compreender e de escutar atrás da imposição de uma lei. Impõe-se uma regra quando se tem medo das pessoas.

Uma reflexão:
- Como "Líder" eu sei ouvir e refletir sobre as críticas que geralmente surgem?


4. Não se esconder
O perigo para um responsável, é criar uma barreira entre ele e aqueles por quem é responsável. Dá a impressão de estar sempre ocupado. Este tipo de chefe tem medo e provoca medo. Está na insegurança. Um verdadeiro responsável é disponível.
É importante que um responsável se mostre tal qual é e partilhe suas dificuldades e suas fraquezas. Se as esconder, as pessoas correrão o risco de o ver como um modelo impossível de ser imitado. É importante que o vejam falível e humano, mas ao mesmo tempo, confiante e fazendo esforços para progredir.

Uma reflexão:
- Como "Líder" eu divido, às vezes, algumas histórias de superação minha para que eles vejam que outras pessoas passam por esse processo?


5. Uma relação pessoal
A verdadeira autoridade é aquela que trabalha por uma verdadeira justiça para todos, sobretudo para os mais pobres, os que não podem defender-se, que fazem de uma minoria oprimida. É uma autoridade pronta a dar a vida, que não aceita compromisso algum com o mal, com a mentira, com as forças de opressão que esmagam as pessoas, sobretudo os menores. E quando se trata de uma autoridade familiar ou comunitária, além de ter o sentido de justiça e de verdade, deve ser muito personalizada, feita de delicadeza, de escuta, de confiança e de perdão. Isto não exclui, evidentemente, momentos de firmeza.
Mas a autoridade é antes de tudo, uma referência, uma segurança, uma pessoa que confirma, sustenta, encoraja e guia.

Uma reflexão:
- Como "Líder" eu sei e costumo transitar entre a firmeza e a ternura, entre a firmeza e a delicadeza, entre a firmeza e a correção fraterna?
- Como "Líder" eu sei ouvir, mais do que falar? Eu sei encorajar, motivar, estimular a criatividade ou quero colocar “camisa de força” (no sentido de rigidez de modelo) na forma dos meus liderados fazerem todas as coisas?



Referência
VANIER, J. Comunidade, lugar do perdão e da festa. 3ªed. Sào Paulo: Paulinas, 1982, p.178-195.


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