domingo, 5 de junho de 2011

Dia dos namorados

Aproxima-se o Dia dos Namorados. As vitrines tentam atender ao impetuoso desejo de dar algo ao outro além de si, ou simplesmente, no lugar de si. Vemos coisas básicas, convencionais e tentativas de inovação. Mudam apenas a cor, o formato, mas a idéia, a concepção das coisas parece não mudar muito.

Vemos canecas, almofadas, almofadões e almofadinhas, eletrônicos, lingeries, perfumes, promoções de preços, bichinhos de pelúcia e, surpreendentemente livros, ou apenas uma vitrine com coraçõezinhos vermelhos.

Tenha namorado, namorido ou namorante, qualquer dia é dia de dar.

Qualquer dia é dia...

De agradar. De agradecer. De retribuir. De tocar a sensibilidade. De fazer guardar. De fazer lembrar. De surpreender. De mesmices boas. De reforçar o sentimento bom. De aquecer a alma do outro. De alimentar a confiança. De garantir um bom momento. De fazer a festa que só dois são capazes de fazer. De planejar a perpetuação, não só da espécie, mas da sensação de amparo. De elevar a temperatura interna. De provocar o êxtase mútuo. De acalmar nos braços do outro. De vibrar com a presença. De desejar que seja eterno. De fazer tudo pelo outro. De fazer o outro se sentir bem. De ser gentil com o outro. De sacrificar-se pelo outro. De ver brilhar os olhos do outro. De ver o outro subir pelas paredes e acalmá-lo com jeitinho. De brindar o sucesso da dupla. De degustar o sabor do olhar, do toque, da voz, do movimento do outro. De curtir um silêncio coladinhos. De trocar coisas simples ou sofisticadas. De dar colo. De dar ombro. De dar as mãos. De relevar mediocridades. De superar dificuldades. De crescer junto. De fazer o outro se perceber grande e bom.

Essas coisas não têm em lojas, não se compram, não se vendem. Essas coisas se constroem.

Construir um relacionamento amoroso envolve engenharia, planejamento estrutural, escolha acertada de materiais e procedimentos, estudo do caso, aplicação de conhecimentos técnicos, cálculos precisos e inventividade.

Alguns relacionamentos pretendem-se mais sérios, elevados, profundos e, geralmente, isto quer dizer que não pretendem se sustentar apenas na atração, desejo e volúpias da carne. Outros pretendem-se mais ardentes, leves, concretos e, neles está implícito que o que vale é o momento presente, a sensação física, o que pouco exige.

Seja num caso ou outro, namorados, namoridos, namorantes, casais enfim, só se justificam pela troca de intimidade física, sem ela trata-se de relação fraternal ou profissional apenas.

E como intimidade física é ainda tratada, paradoxalmente, de forma escrachada ou com tabus, devo dizer que a intimidade precisa ser vista como ela é, em sua natureza, em sua realeza, a intimidade é bela! A intimidade física entre duas pessoas tem uma função mística de promover o encontro do homem com Deus, da criatura com o criador, e é só por isso que a sensação é de tanta plenitude. A sensação de êxtase, de prazer não é só descarga de energia física contida, convulsionada, é mais que isso, é o êxtase do encontro com o divino. Isto me lembra a sabedoria oriental que diz numa saudação: "Deus em mim saúda Deus em você!" Estou lendo sobre isto numa referência respeitável porque alicerçada em argumentos científicos e teológicos, mas isto se lê devagar, numa fonte dessas se bebe aos poucos, e se volta muitas vezes até que se tenha compreendido muito e então trarei um pouco desse entendimento para cá, por ora, fiquemos com isto, a intimidade entre um homem e uma mulher é bela, é mística, é boa.

A intimidade entre um homem e uma mulher sempre foi provocada de diversas formas e nos últimos dias me dei conta, que uma das provocações existentes é a literatura erótica. Eu nunca fui de procurar literatura com erotismo, até porque é bem difícil encontrar boa obra, com linguagem mais insinuante do que direta e escancarada. Mas andei procurando há dois dias e encontrei uma indicação num site da internet, isto me levou às livrarias da cidade, uma delas com uma vitrine preparada para o Dia dos Namorados onde não encontrei a obra indicada, mas encontrei outras. Visitei mais uma livraria onde encontrei a obra procurada e outras também, mas não muitas, ao contrário do que se podia imaginar, no entanto, nessas outras opções a linguagem e a forma do texto apresenta-se muito aquém do que merece o tema, exceto na obra que fui procurar, já estou lendo e estou admirada, mas ainda não li toda, falarei dela aqui no blog também com certeza e, se tivesse um namorado, um namorido ou um namorante, provavelmente esse seria meu presente no Dia dos Namorados.

Há que se dar beleza, riqueza, grandeza a quem se quer tão bem, a quem é tão atrativo e desejável, a quem a natureza e Deus uniram, mesmo que por pouco tempo quiçá. Quem cruza o meu caminho merece o melhor de mim. E se sei distinguir o melhor das coisas, devo dar o melhor das coisas, inclusive a melhor literatura. Mesmo sem saber o último terço do conteúdo da obra, posso indicá-la já pela forma provocante não só da libido, mas do intelecto, mesmo encontrando lá algumas expressões àsperas e em si de baixo calão, mas suavizadas pela solicitação exaustiva da atenção ao contexto, trata-se do livro: "Um copo de cólera" de Raduan Nassar, um paulista apesar do nome. Não se arrependerão da beleza que há nas fortes linhas impressas.

Que todos os intimamente ligados aproveitem bem as horas e não só os dias, pra se alimentarem de pão, de graça, de afeto e de erupções emocionais, por que não? Mas também pra se nutrirem, na calmaria dos intervalos das impetuosidades da química que corre nas veias, com a certeza de ser amado pelo outro, por um tempo mesmo que curto, na quantidade e forma que o outro é capaz e tem condições.
Guardar o que é bom é o segredo de ser feliz nos relacionamentos, ou mesmo depois deles.

Nenhum comentário:

Postar um comentário