Depois de um vinho tinto, ouvindo uma música - densa, com uma base pulsante de duas notas no piano, ora na escala aguda, ora na média, acompanhadas por outras notas graves, com o choro das cordas do violoncelo ingressando no corpo da música já em andamento, introduzindo a voz feminina que começa suave e em tom confortável, logo descendo, aparentemente, ao que parece ser o limite de seu registro mais grave, retornando em seguida já embargada, contida, falha, como quem decepcionada lamenta muito, para no momento seguinte puxar o ar entre os dentes como faz quem sente dor e está cansada de sentí-la, invadida pela caixa da percussão que vem atrás dando ares de glória à marcha pesada da angústia enfeitada pelo sopro de um dos metais, na qual depois entra um coro masculino seguido de outro feminino sublimando a tormenta com uma simbólica harmonia, a partir do que tudo cresce ritimado pelo pulso das duas notas que reaparecem e suavizam, com uma notação de ralentando, fazendo parecer que tudo termina bem - volto pra casa.
Assim, no retorno, fixando o olhar em perspectiva na estrada toda iluminada, vejo o que não queria...só luzes artificiais pretenciosas, de pouco alcance, incapazes de mudarem noites em dias, oferecendo apenas um trânsito "evitativo" de colisões. Ora, é preciso maior luminosidade para que sob o efeito prolongado do vinho, eu ouça uma música densa e não sofra suas reações no rítmo dos saltos sanguíneos no interior dos dutos que insistem em funcionar. Ora, é preciso visão de uma grande extensão do horizonte, é preciso visão das cores das coisas, é preciso visão de um futuro belo, quente e bom logo ali pra "evitar" que a água do mar não seja a única a salgar a pele do rosto.
Para não depender da imaginação, a música ouvida há pouco foi esta:
Have to drive, de Amanda Palmer
Fonte:
http://www.youtube.com/watch?v=ea18wSkrK5g
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