terça-feira, 1 de março de 2011

A castidade na obra do Frei Ovídio Zanini

Há tempos venho lendo sobre o assunto sexualidade para melhor orientar os alunos onde trabalho. Nas minhas buscas por bibliografia, encontrei quase na totalidade obras que falam da sexualidade no seu aspecto unicamente biológico - anatomia e fisiologia. Mas de repente, me deparei com uma obra aparentemente simples, com um vocabulário até coloquial em alguns pontos, porém, o autor eu conheço, conversei uma vez pessoalmente e senti o impacto de sua força psíquica, de sua vocação em fazer o bem, em libertar as pessoas de suas amarras. Ele merecia que eu lesse esse seu livro: "Como viver a sexualidade".

Que encanto.

Trago aqui um dos temas apresentado no início da segunda metade do livro: a castidade.

O título que ele dá para o capitulo é: "Castidade, como forma de vivência da sexualidade"

Opa! Ele fala em vivência.

Nesse título já dá pra entender a advertência forte na contracapa do livro: "Castidade, sim! Castração, não!

Mas, afinal, o que é a castidade?

Olha que explicação belíssima.

Começa por onde um filósofo, um cientista deve começar... "castidade vem do verbo latino candeo, que significa "purifico, torno cândido, alvejo com esplendor".

Casto é um ser alvinitente, que produz alvura, e lembra que alvinitente é melhor que imaculado porque exprime o conceito dinâmico da castidade, enquanto imaculado confere caráter estático ao que não é.

Conceitua Continente, Puro e Casto.

Continente: que se abstém de atos genitalistas, em pensamento e em obras.
Continência é uma questão de genitalismo.


Puro: contempla a realidade como ela é, sem deformações, sem associações negativas. E a realidade como tal espelha sempre algo divino. O puro sempre a Deus em tudo.
Pureza é uma questão de visão, de percepção.

Casto: aceita a polaridade sexual. Rejubila-se com ela. Agradece ao Criador. Desenvolve-a. E torna-se um HOMEM.
Castidade é uma questão de exercício correto da polaridade sexual.

Frei Ovídio ainda pontua que prefere mil vezes um puro incontinente (embora isto seja vício ou doença) do que um continente impuro (que acha sexo coisa feia, suja e nojenta). E ainda sugere, que é bom ser continente e puro, mas é ótimo ser continente, puro e casto.

Ele vai além sobre a castidade...explica que o casto não somente evita ações contra a realidade do sexo, mas deixa-se abençoar e completar por essa realidade. Traz a citação de André Alsteens: "O valor da castidade está na sua vocação a tornar-nos perfeitamente humanos, a saber encontrar o nosso lugar no encontro com os outros, no respeito em todos os sentidos, da nossa dimensão de homem e mulher." e também sua advertência veemente: "A castidade não pode mais servir de álibi para a ausência de masculinidade ou feminilidade".

Mais abaixo na sua nota de rodapé cita Vidal: "O fato do pecado sexual reside na não-realização da própria sexualidade pessoal, que exige doação de si à pessoa amada. Enfim, pecado sexual é fazer da relação dialogal do sexo um monólogo (prazer e realização egoísta)".

Agora , o melhor estava por vir, Frei Ovídio se atreve a falar sa sexualidade de Jesus, da sua castidade:

Inicia dizendo que Jesus foi o perfeito exemplo de castidade. Jesus é Deus. Deus assumiu a sexualidade humana e a tornou divina. A sexualidade de Jesus é sexualidade de Deus. "...Deus humanado, Cristo Jesus realizou o casto poema de sua sexualidade. Só uma vez nos Evangelhos se diz que Jesus amava alguém, e nesse texto há meninas queridas: "Jesus amava Marta, a irmã de Lázaro"(Jo 11,5). Jesus fazia-se acompanhar por mulheres em sua vida pública, e por muitas (Lc 8,3) , numa época em que era proibido falar com mulher em público, nem que fosse a própria esposa. Conhecemos os nomes de algumas dessas mulheres bem-aventuradas: Maria Salomé, Maria mãe de Tiago, Joana de Cusa, Maria Madalena e outras. Até mesmo com mulheres pecadoras teve carinho e misericórdia infinitos. Uma de suas maiores amizades foi com uma prostituta, "porque muito ela amou"(Lc 7,47). Esta foi também a primeira testemunha de sua ressurreição, segundo João (Jo 20, 1 . 16,-18). Deixou-se ungir com óleo perfumado e enxugar com os cabelos por esta mulher que o amava profundamente (Lc 7, 36-46)."

Termina fazendo uma correção ácida: "Se Jesus é o modelo ideal para todos os filhos de Deus, especialmente para os que se esforçam nos caminhos árduos da santidade, não será ele também modelo a ser seguido nos caminhos da sexualidade? É heresia dizer que Jesus amava de maneira assexuada."

Eu sempre que li a passagem bíblica de Maria perfumando os pés de Jesus e enxugando com seus cabelos vi um profundo amor, um profundo cuidado, um profundo zelo, uma profunda entrega, um exemplo de carinho extremo, mais tocante do que seria qualquer outro contato físico, até porque muito mais incomum, mais significativo até. E o mais bonito... Jesus não fugiu disso, porque isto é bom, é bonito, é verdadeiro e é muito mais que genitalismo, é a troca, é a doação.

Fiquemos com isto: a sexualidade é linda. Ser Homem e ser Mulher é lindo. Nossas trocas são lindas.

Referência: ZANINI, O. Como viver a sexualidade. 6ª ed. São Paulo. Loyola. 1997. p. 56-58.

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