quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
Firma-se contrato com um (a) novo (a) Chefe!
Critérios:
- Bons antecedentes infantis (que não tenha sofrido privações sérias na satisfação de suas necessidades básicas, estes podem ter desenvolvido a síndrome da vingança do mundo);
- Maturidade, independente da idade (que não sofram da síndrome de Peter Pan)
- Bons antecedentes educacionais (que não tenham sido mimados, estes podem ter desenvolvido a síndrome do "Umbigo do mundo")
- Atestado de sanidade mental (que não sejam fronteiriços, caso sejam, tenham sido medicados com "semancol" para evitar o desenvolvimento da síndrome do Zagalo: "Vocês vão ter que me engolir"!)
- Livre de paranóia (mania de perseguição)
- Bem resolvido (a) sexualmente (atração assumida e vivência ou canalização da energia vital adequada e satisfatória)
- Baixo índice de insegurança (índices maiores desativam o uso da razão e do equilíbrio)
- Participar de provas práticas de trabalho em equipe (que saibam dialogar, ou seja, ouvir, falar, procurar o consenso e aceitar a decisão da maioria entendida no assunto)
* Paga-se com muito trabalho sério, comprometido, de excelência, inclusive de humor.
* Garante-se contribuir muito e significativamente para o crescimento do sucesso de seu empreendimento.
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
Compensação e transferência: uma questão de alívio!
Não é preciso ser psicólogo pra saber que as pessoas passam a vida tentando compensar as perdas, principalmente as da infância. Do auge dos meus 43 anos é facilmente observável o jogo compensatório, meu, seu, e de todos.
Queremos a qualquer preço o que nos faltou: comida, afeto, dinheiro, calor... pena que isto não aconteça com o conhecimento. É como se a falta de algo importante, básico em dado momento da vida, ficasse latejando, determinando as ações. Alguns de nós foram bem "envernizados", disfarçam bem. Outros nem isso. Mas todos queremos ganhar. E se assim não acontece, queremos arrancar, com jeitinho ou sem jeitinho.
Alguns querem ver no outro o mesmo sentimento de perda que tiveram, o mesmo sofrimento, querem saber que o outro teve a mesma perda e se o outro não teve querem causar-lhe e mais do que isso, causam e com isso se comprazem, por "puro senso de justiça". Ou seria "vingança" com endereço errado?
Por duas vezes fiz um experimento com uma pessoa que insistentemente quer ver as outras abatidas, como se assim fosse possível uma tranferência de seu estado. Humilhei-me, mostrei que seu jugo, seu poder, sua ação é que me colocava "de joelhos", "curiosamente" ou não, nas duas vezes vi seu semblante expressar prazer: seus olhos brilharam, os cantos dos lábios abriram-se mesmo que contidos pelo pouco verniz, o queixo ergueu-se e o peito...o peito inflou. "Ela ganhou", ela conseguiu não estar sozinha na sua dor insuportável, só não sabia que eu observava e livremente oferecia-me em sacrifício para seu deleite, ou melhor, para minha maior clareza de sua condição tão instintiva, tão pouco controlada, tão pouco iluminada pela razão, tão mal intencionada.
Pobre espírito, aprisionado às desventuras situacionais, reproduzindo seu cárcere na vida dos outros, agora intencional. E como intenção é o elemento que define o pecado e o crime doloso, os carentes de coisas básicas na infância são pecadores e/ou criminosos em potencial.
Demos de comer, beber e vestir às criancinhas antes que elas crescidas vivam a tentar nos devorar e com isso, no mínimo nos cansem do exercício de defesa de sua voracidade.
Qual será a nossa fome, a nossa sede, a nossa carência latejando a nos mover?
Quais as curas dessas faltas que podemos nos dar, que já nos demos e que nos daremos?
Queremos a qualquer preço o que nos faltou: comida, afeto, dinheiro, calor... pena que isto não aconteça com o conhecimento. É como se a falta de algo importante, básico em dado momento da vida, ficasse latejando, determinando as ações. Alguns de nós foram bem "envernizados", disfarçam bem. Outros nem isso. Mas todos queremos ganhar. E se assim não acontece, queremos arrancar, com jeitinho ou sem jeitinho.
Alguns querem ver no outro o mesmo sentimento de perda que tiveram, o mesmo sofrimento, querem saber que o outro teve a mesma perda e se o outro não teve querem causar-lhe e mais do que isso, causam e com isso se comprazem, por "puro senso de justiça". Ou seria "vingança" com endereço errado?
Por duas vezes fiz um experimento com uma pessoa que insistentemente quer ver as outras abatidas, como se assim fosse possível uma tranferência de seu estado. Humilhei-me, mostrei que seu jugo, seu poder, sua ação é que me colocava "de joelhos", "curiosamente" ou não, nas duas vezes vi seu semblante expressar prazer: seus olhos brilharam, os cantos dos lábios abriram-se mesmo que contidos pelo pouco verniz, o queixo ergueu-se e o peito...o peito inflou. "Ela ganhou", ela conseguiu não estar sozinha na sua dor insuportável, só não sabia que eu observava e livremente oferecia-me em sacrifício para seu deleite, ou melhor, para minha maior clareza de sua condição tão instintiva, tão pouco controlada, tão pouco iluminada pela razão, tão mal intencionada.
Pobre espírito, aprisionado às desventuras situacionais, reproduzindo seu cárcere na vida dos outros, agora intencional. E como intenção é o elemento que define o pecado e o crime doloso, os carentes de coisas básicas na infância são pecadores e/ou criminosos em potencial.
Demos de comer, beber e vestir às criancinhas antes que elas crescidas vivam a tentar nos devorar e com isso, no mínimo nos cansem do exercício de defesa de sua voracidade.
Qual será a nossa fome, a nossa sede, a nossa carência latejando a nos mover?
Quais as curas dessas faltas que podemos nos dar, que já nos demos e que nos daremos?
sábado, 12 de novembro de 2011
A medida de um homem
Qual seria a melhor forma de estabelecer a grandeza de um homem?
Quilates?
Centímetros?
Kilogramas?
Cifrões?
O que inconscientemente nos diz que estamos diante de um grande homem?
A largura de seus ombros?
O timbre de sua voz?
Os calos de suas mãos?
O status de sua função, cargo, profissão?
Os títulos acadêmicos ou políticos antes de seu nome?
Obviamente não. Eu sei que lendo você se viu em "lugar comum". Mas que resposta se deu?
O que afinal faz de um homem um "homem de verdade", um homem com "H maiúsculo", um homem e "não um rato", um "deus grego", um homem digno, inesquecível, admirável, desejável, modelo, perfeito?
Cada cultura, cada época, cada lugar tem seu modelo...força, beleza, conhecimento, sensibilidade.
Ah! A sensibilidade!
Perspicácia!
Fino trato!
Gentileza!
A gentileza torna o feio lindo.
A gentileza torna o franzino robusto.
A gentileza torna o pobre rico.
A gentileza torna o inculto sábio.
A gentileza torna o tímido extrovertido.
A gentileza torna o simples sofisticado.
A gentileza torna o sapo príncipe.
A gentileza torna o predador protetor.
A gentileza torna a potência ato.
A gentileza torna o pequeno gigante.
A gentileza seduz, convence, persuade, encanta porque traduz...
...cuidado!
...respeito!
...reconhecimento!
...e por que não...
...amor?
A melhor forma de estabelecer a grandeza de um homem pode ser então a percepção de sua capacidade de amar! De dar de si em gentilezas! Pequenos e constantes gestos de respeito! Oportunidades que aproveita para satisfazer necessidades alheias! As surpresas agradáveis que faz! A honestidade de seus cuidados! O olhar afetuoso! O silêncio acolhedor! A presença criativa!
O homem com esta grandeza, com este quilate, com este peso, com esta extensão, imprime seu nome em alto relevo na história do seu tempo.
Quilates?
Centímetros?
Kilogramas?
Cifrões?
O que inconscientemente nos diz que estamos diante de um grande homem?
A largura de seus ombros?
O timbre de sua voz?
Os calos de suas mãos?
O status de sua função, cargo, profissão?
Os títulos acadêmicos ou políticos antes de seu nome?
Obviamente não. Eu sei que lendo você se viu em "lugar comum". Mas que resposta se deu?
O que afinal faz de um homem um "homem de verdade", um homem com "H maiúsculo", um homem e "não um rato", um "deus grego", um homem digno, inesquecível, admirável, desejável, modelo, perfeito?
Cada cultura, cada época, cada lugar tem seu modelo...força, beleza, conhecimento, sensibilidade.
Ah! A sensibilidade!
Perspicácia!
Fino trato!
Gentileza!
A gentileza torna o feio lindo.
A gentileza torna o franzino robusto.
A gentileza torna o pobre rico.
A gentileza torna o inculto sábio.
A gentileza torna o tímido extrovertido.
A gentileza torna o simples sofisticado.
A gentileza torna o sapo príncipe.
A gentileza torna o predador protetor.
A gentileza torna a potência ato.
A gentileza torna o pequeno gigante.
A gentileza seduz, convence, persuade, encanta porque traduz...
...cuidado!
...respeito!
...reconhecimento!
...e por que não...
...amor?
A melhor forma de estabelecer a grandeza de um homem pode ser então a percepção de sua capacidade de amar! De dar de si em gentilezas! Pequenos e constantes gestos de respeito! Oportunidades que aproveita para satisfazer necessidades alheias! As surpresas agradáveis que faz! A honestidade de seus cuidados! O olhar afetuoso! O silêncio acolhedor! A presença criativa!
O homem com esta grandeza, com este quilate, com este peso, com esta extensão, imprime seu nome em alto relevo na história do seu tempo.
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sexta-feira, 4 de novembro de 2011
O meu amor
O meu amor me disse:
Espere mais um tempo.
E eu esperei um tempo de plantar.
O meu amor me disse:
Espere até o sol raiar.
E eu esperei até a próxima estação do sol.
E vi chover.
E inundou minha casa.
Perdi tudo, a água levou.
Composição de 30.09.89
Espere mais um tempo.
E eu esperei um tempo de plantar.
O meu amor me disse:
Espere até o sol raiar.
E eu esperei até a próxima estação do sol.
E vi chover.
E inundou minha casa.
Perdi tudo, a água levou.
Composição de 30.09.89
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
Cicatrizes! Tão minhas e tão nossas?
Eu sei o que é uma cicatriz porque tenho uma muito grande no corpo. Outras menores. E outras emocionais. Como todos nós.
A cicatriz diz que tudo que foi ruim um dia se foi.
A cicatriz diz para o portador: "Você venceu!"
A cicatriz diz para o observador: "Ele (a) passou por algo ruim!"
A cicatriz diz ao portador e ao observador: "A dor foi grande!"
A cicatriz não deixa esquecer. Pode ter sido ressignificada, superada, mas nunca será esquecida. Fica ali justamente pra isso.
Hoje um amigo de longa data, primeiro assoprou, depois tocou numa das cicatrizes emocionais. Será que dói mais nele do que em mim? Eu ressignifiquei, mas acho que ele que assistiu inativo e só pode assistir não ressignificou. Eu superei, mas acho que meu amigo ainda não. Ou não é isso? O que realmente aconteceu com minha cicatriz? O que ela disse aos amigos comuns do agressor e da vítima? O que minha cicatriz provoca ainda nas pessoas da época em que ela foi causada? Para quê minha cicatriz foi permitida? O que ela deve lhes ensinar? O que ela me ensinou não ensinará a quem não lhe foi "cortada a carne". Ou o que me aconteceu lhes cortou a carne e eu, ensimesmada, não percebi? Será a prova de que realmente somos todos parte de um todo, que o que me acontece, acontece, reverbera no todo? Mas então, meu ressignificar, meu superar, meu curar deveria tê-los curado também. Alguns amigos seriam menos resistentes? Ou nostálgicos? Ou as duas coisas? Depois de onze anos do fato ocorrido, ainda hoje este amigo me perguntou como se fosse no dia seguinte: "O que aconteceu?" Ainda com a mesma surpresa de onze anos atrás, com a mesma indignação, com a mesma decepção de que o que parecia perfeito e eterno não era. Ainda me disse não acreditar. Onze anos depois. Estou estupefata. Todas as decorrências do fato já estão postas e outras hão de vir. O que tudo isso quer dizer? Seremos sempre, o agressor e eu, questionadores, inquietadores, provocadores? Ou o agressor teria dito alguma coisa a esse amigo que ele não me revelou? O que quer que tenha dito, pode reverberar e mudar sutilmente o futuro, mas nunca a história já vivida. O sonho ainda continua vivo nalguns poucos amigos? O da perfeição? O que os amigos ficaram sabendo naquela época, ou souberam depois, ou agora que os faz não conseguir ressignificar?
Fico com a simplicidade, com a obviedade: o agressor foi e é um fraco. Incapaz de dominar seus próprios instintos. Incapaz de fazer suas escolhas. Incapaz de manter suas escolhas feitas na fragilidade do seguir a correnteza. Incapaz de reconhecer-se. Incapaz de reconsiderar. Ou, simplesmente, tardiamente, fez a escolha que sempre quis. Embora há indícios de que mais uma vez não escolheu.
Meu amigo tocou na pele ressequida da cicatriz, sensível demais, pouco flexível como é natural que seja. O que pretendia meu amigo?
Por um instante, um só, senti o que ele tentava me dizer que sentia.
Mas nada resgatará minha inocência perdida. Nada fará apagar da lembrança. Nada reconstruirá o meu olhar ingênuo. Minha infância foi perdida. Mas ganhei outras coisas: "Olhos de Lince"; uma sede maior ainda, do que a que já existia, pela beleza das coisas; uma sagacidade multiplicada; uma capacidade que se aprimora de trazer à luz o que é verdadeiro; um atrevimento vigoroso de construir Homens; uma coragem infinita para correr mais riscos que antes na tentativa de descobrir o que há de bom nos Homens e de encontrando, fazê-los assim perceber; uma loucura controlável para pisar a realidade e o futuro, de onde trago a energia e a vitalidade da certeza para o que tem que ser feito hoje; medo também; fragilidade também; desconfiança também; só pra não deixar de ser gente.
Meu amigo! Não troco nada do que sou hoje pelo antes da cicatriz que você fez questão de tocar hoje. Sou melhor. Sou maior. Sou mais. Sou tudo que não seria sem essa cicatriz. Sou para que outros acreditem que podem ser. Sou erro. Sou pecado. Sou imperfeição. Sou miséria. Mas sou também impulsão. Sou compreensão. Sou sabedoria. Sou menos arrogante. Sou menos prepotência. Sou gente. Sou boa. Sou o que posso ser. Sou o que me permitem e me permito ser. Sou, metade eu querendo acertar, e metade de todos os erros da humanidade. Sou o que tenho coragem de aceitar, logo, sou minhas cicatrizes todas, aquela dos 80 pontos cirúrgicos entre externos e internos no tórax e inclusive essa que meu amigo acaba de lembrar.
Cuidarei melhor dos meus amigos e suas cicatrizes, não posso evitá-las, mas posso mostrar-lhes como convivo com as minhas. Um detalhe importante: essa cicatriz não me impede de acreditar que há Homens bons. Outro detalhe importante: sei quando jogam comigo e só entrego o ouro ao bandido se isso me interessa ou se o bandido me interessa...rs. Mas por favor, jogue bem, pra que eu o admire ao menos por isto...rs.
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
Perspectivas do mundo
Alguns têm uma perspectiva do mundo do sofá. Outros da janela. Outros da rua. Outros do céu. Outros da sarjeta. Alguns de todos esses lugares.
Alguns têm uma perspectiva de mundo dos livros lidos.
Alguns leem a vida dos outros.
Alguns vivem o que leem ou só o que leem.
Alguns só leem.
Alguns só vivem.
Alguns nem leem, nem vivem.
Alguns leem e vivem.
Eu sempre gostei das duas coisas integradas, circunscritas, permeáveis, a leitura e a vivência como temperos uma da outra.
E por mais que saiba que não é preciso por a mão no fogo pra saber que ele queima, tenho queimado a mão.
Talvez eu leia algo sobre curar queimaduras.
Talvez não encontre um médico.
Talvez sucumba apesar dessa leitura.
Talvez eu só esteja no processo da curvatura da vara, tendendo agora para outro lado até voltar ao centro.
Será que os livros explicam isso?
Será que a vida é mesmo isso?
A sua, a minha e a de todo mundo?
O que será o mundo?
O que li sobre ele?
O que vivi no pico da montanha e na sarjeta?
O que alguém já leu ou viveu?
Minha perspectiva tem se tornado cada vez mais humana e menos angelical.
Minha humanidade tem sobrevivido às letras mortas,
tomara minhas letras mortas sobrevivam à humanidade.
Tomara minhas perspectivas de mundo se dilatem ainda mais.
Tomara minhas leituras escrevam sempre nova história,
vivida, enriquecida, perfumada de realidades e fantasias,
e minhas idiossincrasias sirvam de luneta e de tinta de caneta
para ver além e escrever, o que talvez seja um dia
uma das perspectivas de mundo de alguém
que lê sentado no sofá.
Alguns têm uma perspectiva de mundo dos livros lidos.
Alguns leem a vida dos outros.
Alguns vivem o que leem ou só o que leem.
Alguns só leem.
Alguns só vivem.
Alguns nem leem, nem vivem.
Alguns leem e vivem.
Eu sempre gostei das duas coisas integradas, circunscritas, permeáveis, a leitura e a vivência como temperos uma da outra.
E por mais que saiba que não é preciso por a mão no fogo pra saber que ele queima, tenho queimado a mão.
Talvez eu leia algo sobre curar queimaduras.
Talvez não encontre um médico.
Talvez sucumba apesar dessa leitura.
Talvez eu só esteja no processo da curvatura da vara, tendendo agora para outro lado até voltar ao centro.
Será que os livros explicam isso?
Será que a vida é mesmo isso?
A sua, a minha e a de todo mundo?
O que será o mundo?
O que li sobre ele?
O que vivi no pico da montanha e na sarjeta?
O que alguém já leu ou viveu?
Minha perspectiva tem se tornado cada vez mais humana e menos angelical.
Minha humanidade tem sobrevivido às letras mortas,
tomara minhas letras mortas sobrevivam à humanidade.
Tomara minhas perspectivas de mundo se dilatem ainda mais.
Tomara minhas leituras escrevam sempre nova história,
vivida, enriquecida, perfumada de realidades e fantasias,
e minhas idiossincrasias sirvam de luneta e de tinta de caneta
para ver além e escrever, o que talvez seja um dia
uma das perspectivas de mundo de alguém
que lê sentado no sofá.
sábado, 10 de setembro de 2011
Falha congênita
Hoje eu vi os olhos da aberração!
Vi o condenado que abrigava esses olhos.
Mas você não vai saber reconhecê-lo.
Você não conhece.
Você não sabe.
Você dá outro nome para esses olhos.
E parecem sempre doces.
Aliás você não gostaria de saber.
E eu nem lhe desejo que conheça.
Conhecer esses olhos é descobrir que alguns nascem condenados.
Condenados a nunca sentir o que o outro sente.
Castrados da empatia.
Incapacitados de aprender a se por no lugar do outro emocionalmente.
Mas extremamente hábeis intelectualmente para forjar todo e qualquer sentimento.
Não fossem perversos, poderiam servir bem à dramaturgia.
Não fossem perversos, poderiam servir bem à medicina.
À primeira, por exigir perfeita simulação das emoções humanas.
À segunda, por exigir extrema objetividade para cuidar da tão delicada e frágil vida humana.
Eu, que já tinha experimentado as manobras ardilosas de algumas dessas aberrações ao longo do tempo, na forma de homem e na forma de mulher, ainda assim não percebi de imediato quando este se me apresentou.
Mas as experiências foram acendendo as luzes de alerta.
Em dois meses foi possível fechar o "diagnóstico" e à duras penas, abandonar a proximidade.
Medida de sobrevivência, de proteção e objetivamente de abandono também.
Não há o que fazer para "salvar", para "curar", para "corrigir", para alterar o quadro clínico inorgânico de um psicopata antissocial.
A ciência ainda não descobriu a saída.
As últimas investigações se debruçam sobre o sistema límbico e a possibilidade de "ligá-lo", de "acioná-lo", de "startizá-lo" e quem sabe assim transformar essas aberrações em gente.
Não estou falando de deformação física.
Estou falando de deformação da personalidade, ou melhor, impossibilidade de formação.
Muito mais difícil de perceber.
Muito mais desconhecida.
Muito mais negada.
Muito mais à vontade, portanto, em meio ao desconhecimento, para deleitar-se com os feitos.
São pessoas aparentemente dóceis, aparentemente generosas, aparentemente gentis, aparentemente corretas, aparentemente sensíveis.
Mas são ao mesmo tempo sedutoras, manipuladoras, criativas, perspicazes, rápidas, habilidosas com as palavras principalmente na construção de histórias, e notem...as histórias são sempre mal explicadas, há sempre falhas nas justificativas de seus atos, caem frequentemente em contradição, e quando cobradas pela incoerência "engatam" nova tentativa de explicar por meio de outra história mal construída, e se "pegas" e cobradas novamente sobre a incoerência, vão dissimulando, seduzindo, ou saindo de cena.
Geralmente seu comportamento é manso na maior parte do tempo, sua voz é muitas vezes suave, lança sempre mão da manobra de presentear e "agradar" com coisas e/ou elogios o escolhido para a dominação e usurpação. E os desavisados caem sempre na rede desses astutos, por carência, pouca instrução e/ou pouco discernimento. Até por acharem "feio" pensar "mal" dos outros.
Algumas pessoas acham que eu vejo coisas que não existem...rs. Algumas pessoas quando eu falo disso, estampam nos seus olhos que acham meu comentário improcedente, exagerado ou até descabido, seus olhos dizem que estão questionando meu conhecimento do assunto.
Não é preciso ter um CRP ou CRM pra conhecer, pra saber, pra entender, pra perceber as características presentes numa pessoa.
Basta que você tenha sofrido a convivência com um portador e lido um pouquinho sobre o quadro clínico preocupado em efetivamente conhecer para precaver-se.
Não se iluda, você já cruzou com alguém assim.
Sabe aquela pessoa de quem você se refere dizendo..."ela é ruim!", "ela faz tudo e qualquer coisa pra conseguir o que quer, é inescrupulosa!", "ela age sempre sorrateiramente!", "ela vive a dar golpes!", "ela engana bem!", "ela vai levar os pais à loucura!", "ela nunca construiu nada!", "ela sempre se aproveita dos outros!" (qualquer semelhança com alguns políticos é mera coincidência...rs.)... a probabilidade dela ter personalidade antissocial é bem grande.
Entenda e abandone o estereótipo de que psicopata antissocial é sempre um assassino. Alguns são assassinos, outros não, isto no sentido denotativo, porque no sentido conotativo todos são assassinos por matarem aos poucos a confiança e a tranquilidade daqueles que com eles convivem.
Não se superestime quanto a saber lidar com uma pessoa dessas.
Só há dois caminhos: abandoná-la a própria sorte e assim permitir que siga a vida prejudicando os outros ou "derrubá-la" numa cama com psicotrópicos para evitar que cause prejuízos de toda ordem (leia-se material, financeira, social, emocional) a outrem. A segunda opção é consideravelmente recomendável, por ir além da própria proteção e estender-se à proteção da sociedade.
Pais e mães façam um esforço de não superprotegerem esses filhos e não negarem-se a enxergar os fatos como eles são para que possam intervir antes que os danos sejam graves e muitos. Sim. Vocês podem ter gerado uma pessoa dessas.
Não sejamos ingênuos, ignorantes desta realidade humana. É fato. Existe. E muito mais ao nosso redor do que imaginamos ou gostaríamos. Eu hoje tenho clareza de ao menos seis pessoas dessas terem cruzado meu caminho, algumas por muitos anos, outras de passagem, mas sei que outras virão.
Admitam a possibilidade antes que sejam uma das vítimas.
Muitas vezes as perdas e danos são irreparáveis.
E quando existirem, que isto não seja por negligência sua com o conhecimento e a autoproteção.
A sua vida é respondabilidade primeiramente sua. Cuide dela. Proteja-se. Identifique. Aja nestes casos em duas direções, a sua e a da sociedade, mas sempre de forma a proteger e evitar novas investidas do psicopata que sempre pensará, planejará e agirá somente para obter para si status/poder, prazer ou dinheiro.
Você já emprestou muito dinheiro e várias vezes à mesma pessoa?
Você já foi exibido ao lado dessa pessoa uma ou várias vezes para conferir-lhe empréstimo da sua reputação e valor na comunidade?
Você já foi seduzido a atender os caprichos compulsivos de alguém?
Cuidado!
Investigue.
Seja objetivo.
Seja assertivo.
Sob pena de você não ser capaz de dimensionar o mal que um ser humano é capaz quando seu sistema límbico não funciona adequadamente e sofrer as consequências disso.
Agora vou tomar um banho para lavar os olhos do que vi, tomar água para limpar o organismo do veneno que as lembranças intoxicaram, depois ouvir música agradável que me traz boas recordações, preparar uma comida com aromas e têmperos pra perfumar a alma enquanto repõe o fluxo energético do corpo.
Esta é uma das estratégias para depurarmos o impacto de coisas ruins.
Os olhos que eu vi desviaram-se uma, duas, três vezes, mas não conseguiram desviar pela quarta vez ao meu olhar fixo que os prendeu, que os amarrou. Com isto o fiz lembrar da história enganosa em que me envolveu, e isto é o máximo possível - fazê-lo lembrar, porque suas funções cognitivas funcionam muito bem geralmente (atenção, memória, raciocínio lógico, planejamento...), o que não funciona é a sensibilidade, a emotividade. Logo, as armas não devem ser desta natureza, seriam ineficazes. O que o atinge é apenas o físico e o cognitivo. Era necessário deixar claro que eu o vi, que eu sei, que eu conheço, que eu não sou alvo fácil, que ele é que foi descoberto e por isso está fragilizado.
Como saber que a arma cognitiva funcionou?
Ele foge!
Ele olha pra você.
Ele sorri pra você.
Ele cumprimenta você.
Mas ele fica perturbado (cognitivamente e não emocionalmente), inquieto e "cria" uma fuga rápida e nobre.
Ele se foi, mas ele sabe que dele mesmo não pode fugir.
Isso o faz um condenado.
O que o criador quer com essa criatura?
Deixar-nos mais espertos? Desconfiados? Ensinar-nos o que? Fazer-nos sentir privilegiados? Estimular-nos a pesquisar e descobrir o gatilho e a cura?
Deixar-nos mais espertos? Desconfiados? Ensinar-nos o que? Fazer-nos sentir privilegiados? Estimular-nos a pesquisar e descobrir o gatilho e a cura?
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
Aprendizagem direta e indireta
Enquanto diretamente aprendo sobre Direito - Previdenciário, Administrativo, Constitucional; Língua Portuguesa de novo; Raciocínio Lógico outra vez; Noções de Administração; Conhecimentos Matemáticos; indiretamente aprendo sobre desumanização, sobre limites, sobre neuroses, sobre injustiça social, sobre "energiatomia" (neologismo pra indicar incisão na energia), sobre cultura objetivante em detrimento da cultura subjetivante, sobre priorização, sobre impossibilidade humana, sobre o poder do ginseng e da cafeína, da indiferença e do descaso alheio, sobre a imperatividade dos modelos de infância como o da inquietude, sobre ganhar o pão com o "suor" do rosto e com o "sangue" da alma, sobre vale quanto pesa, sobre a tão comum incapacidade empática - típica dos psicopatas antissociais (sem cura ainda), sobre incapacidade pessoal de planejamento, sobre volubilidade, sobre ineficiência e ineficácia, sobre doenças da vontade - menos a obstinação e a procrastinação, sobre excitabilidade excessiva para a vida e a incapacidade corpórea de correspondência, sobre estar e não estar numa situação ou estar em duas ao mesmo tempo, sobre estar no mundo e não ser do mundo (não estou falando de esquizofrenia), sobre preferir ter menor consciência para menos impacientar-se, sobre subutilização das competências humanas, sobre estratégias suicidas de uma organização de pessoas ou de uma delas, sobre a preciosidade do sono e a incrível ineficácia da ciência para suprí-lo com alguma droga, sobre o mérito do pão e a concessão da migalha, sobre a resistência a servir-se do que sobra, sobre isto poder significar sintoma da megalomania típica de um quadro clínico psíquico específico ou não, sobre experiência de exaustão, sobre ensimesmamento próprio e alheio em crescimento exponencial, sobre generosidade rara mas possível, sobre presentes que surgem, sobre desfrutar o que é possível, sobre se agarrar ao que se tem, sobre rever todos os valores em função das contingências e necessidades básicas, sobre o jogo da Pollyana não ser de todo mal ou enganoso, sobre ser feliz apesar de, sobre sempre querer mais, sobre ter sede insaciável de absoluto, sobre reconhecer a perfeição de algumas atitudes, sobre superação mesmo que isto arranque um riso irônico de mim mesma, sobre lutar em vão, sobre esperar a morte chegar com os ares da falsa nobreza de quem finge não se cansar, sobre minha incapacidade de tergiversar para sobreviver ou mesmo para morrer. Por isso ainda vou atrás de outras aprendizagens diretas, mais comuns, mais aceitáveis, mais louváveis, mais óbvias, mais úteis, mais pragmáticas agora. Ah! Antes tivesse eu escolhido melhor - a aprendizagem direta a ser realizada em outros tempos. Quero dizer com isso que poderia ter sido uma aprendizagem que gerasse mais rentabilidade, afinal, tanto estudo, tanto saber para pouca justiça quanto ao retorno do empenho. E como se espera deste blog algo mais picante, não posso deixar de dizer que teria sido sobejamente melhor dedicar-me à aprendizagem direta da sofisticação da arte de Maria Madalena, que na pior das hipoteses garantiria um prazer mais palpável e não tão etéreo, tão somente intelectual. Acredita que penso mesmo nisso? Não? Apenas coisa da idade: escrachar as possibilidades já que as realidades são insuficientes, insatisfatórias, incapazes de arrancar um riso, mesmo que irônico. E a ironia é a arte dos fracos, mesmo que momentaneamente. Livra-me Deus, então, dessa fraqueza, dai-me a força para não brincar com coisa séria ou dai-me alguma coisa que não seja séria pra eu poder brincar um pouco e ficar leve como os infantes despreocupados e esperançosos. E pra quem não entendeu nada, vou traduzir: muitas horas de trabalho não reconhecido e mal pago, acrescidas de muitas horas de estudo pra concurso, pra tentar ao menos ser bem paga e com isso dar-me o que gosto e mereço. No meio desse processo, impossível não "ler" a realidade das relações humanas, das minhas relações humanas. Não gostei dos dois últimos períodos do texto, tiram toda a graça da dúvida, da pergunta, da investigação, mas satisfazem o leitor mais desatento, menos perspicaz ou, tão somente que não me conhece ou não me acompanha neste momento (sinta-se desculpado). Então, hoje darei uma chance a esse, mas registro que prefiro a incógnita gerando infinitas possibilidades de interpretação. Generosidade? Não mesmo. Acho que é só mais uma forma de acentuar o escracho da vida.
terça-feira, 30 de agosto de 2011
Aniquilamento
Quando tudo parece nada. Quando tudo que foi um dia deixa de ser. Quando tudo que veio foi. Quando tudo que foi não voltou. Quando tudo não é percebido. Quando tudo é jogado pra baixo do tapete. Quando tudo é negado. Quando tudo é subjugado. Quando tudo está sob as nuvens. Quando tudo vira cinzas. Quando tudo faz calar. Quando tudo faz enrijecer. Quando tudo faz vitrificar. Quando tudo é esquecido. Quando o nome soa esquisito. Quando tudo é perdido. Quando tudo é querido. Quando nada é vivido. Quando perde os sentidos. Quando nada assusta. Quando nada encoraja. Quando tudo é inverno. Quando nada é estio. Quando tudo se apaga. Quando tudo é sede. Quando tudo é fome. Quando tudo é sono. Quando tudo é ausência. Quando nada arde. Quando tudo é tranquilo. Quando tudo é paz. Quando tudo é despreocupação. Quando tudo comprime. Quando tudo esmaece. Quando tudo é tempo. Quando nada é hora. Quando tudo é delírio. Quando tudo é volátil. Quando tudo é retrátil. Quando tudo jaz. Pra que escrever?
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
Eu já devia ter aprendido
As pessoas vêm e vão.
Já compus sobre isso há muitos anos atrás, falando de alguns padres que vinham e íam da minha convivência, que traziam grandes contribuições, que me ensinavam muito, que espelhavam coisas do alto que não se vê todo dia, que não se vê facilmente.
Eu já devia ter aprendido a dessensibilizar. Acho até que aprendi um pouco. Ou talvez só construí uma couraça nas tantas ídas das pessoas.
Mas foi inevitável que a couraça caísse com a visita tão vibrante que tive. Inevitável me permitir contagiar com a leveza, com a alma cantante de minha hóspede. Ah! Sua voz tão bonita. Seu sorriso tão sincero. Ninguém é perfeito. Ninguém é anjo, mas algumas pessoas são boas. E a gente fica vulnerável perto delas. A gente se olha, se gosta, depois, elas vão.
Que pena!
Tão pouco tempo pra tantas coisas.
Que bom!
Em tão pouco tempo tanta luz nesta casa.
Algo havia em comum mais do que uma herança étnica já tão diluída em mim.
Algo ficou pra sempre: o carinho, o afeto, a sensação boa.
É bom receber as pessoas. É bom vê-las livres em nossa casa. É bom ver que o mundo é uma aldeia. É bom mudar as coisas.
Há algumas poucas horas que se foi, a saudade é inevitável. E eu que pensei que não sentiria mais isso. Que me treinei pra deixar ir. Que há muitos anos não pegava numa mão com a tensão de quem segura.
Foi tudo que podia ser. Ficou tudo de bom.
Felicidades! Bênçãos multiplicadas eu lhe desejo por toda a sua vida, menina linda!
Já compus sobre isso há muitos anos atrás, falando de alguns padres que vinham e íam da minha convivência, que traziam grandes contribuições, que me ensinavam muito, que espelhavam coisas do alto que não se vê todo dia, que não se vê facilmente.
Eu já devia ter aprendido a dessensibilizar. Acho até que aprendi um pouco. Ou talvez só construí uma couraça nas tantas ídas das pessoas.
Mas foi inevitável que a couraça caísse com a visita tão vibrante que tive. Inevitável me permitir contagiar com a leveza, com a alma cantante de minha hóspede. Ah! Sua voz tão bonita. Seu sorriso tão sincero. Ninguém é perfeito. Ninguém é anjo, mas algumas pessoas são boas. E a gente fica vulnerável perto delas. A gente se olha, se gosta, depois, elas vão.
Que pena!
Tão pouco tempo pra tantas coisas.
Que bom!
Em tão pouco tempo tanta luz nesta casa.
Algo havia em comum mais do que uma herança étnica já tão diluída em mim.
Algo ficou pra sempre: o carinho, o afeto, a sensação boa.
É bom receber as pessoas. É bom vê-las livres em nossa casa. É bom ver que o mundo é uma aldeia. É bom mudar as coisas.
Há algumas poucas horas que se foi, a saudade é inevitável. E eu que pensei que não sentiria mais isso. Que me treinei pra deixar ir. Que há muitos anos não pegava numa mão com a tensão de quem segura.
Foi tudo que podia ser. Ficou tudo de bom.
Felicidades! Bênçãos multiplicadas eu lhe desejo por toda a sua vida, menina linda!
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
Composição
Se a lei da atração está correta, se as técnicas da programação neurolinguística produzem seus efeitos quando usadas, se o conhecimento da parapsicologia fundamenta cientificamente que o inconsciente se constitui como nosso real e eficientíssimo condutor, vale a pena tentar cantar o que se segue com todo o controle do diafragma, com toda a energia da vontade, com toda lógica do pensamento, com toda força da emoção:
Tudo que eu sei
Tudo que eu sei
É que aos quarenta e três
A gente pode ser feliz.
1. Pode ganhar orquídeas,
Pode ganhar coelhinho,
Pode ganhar um vinho
Pode ganhar coroa,
descobrir a realeza
de um mouro.
Não é meu,
Não é de ninguém,
Este homem é do bem. (2X)
Tudo que eu sei
É que aos quarenta e três
A gente pode ser feliz.
2. Pode fazer loucuras,
Pode fazer "docinho",
Pode ser "Chapeuzinho",
Pode brincar com fogo,
Conhecer a boa alma
de um lobo.
Não é meu,
Não é de ninguém,
Este homem é do bem. (2X)
Tudo que eu sei
É que aos quarenta e três
A gente pode ser feliz.
3. Pode mandar "Bom dia!"
Pode mandar beijinho,
Pode ficar juntinho,
Pode viver um sonho,
Desfrutar o gosto
deste tesouro.
Não é meu,
Não é de ninguém,
Este homem é do bem. (2X)
Tudo que eu sei
É que aos quarenta e três
A gente pode ser feliz. (2X)
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
Mística e eros - Introdução
Este é o título do livro que acabo de ler e ainda o estou "ruminando" como dizia um amigo meu, isto no sentido de que ainda é preciso "mastigá-lo" de novo e depois mais uma vez e outra na tentativa de mais absorver seus conceitos, assimilar, internalizar a ponto de descobrir caminhos para viver a integração entre Mística e Eros.
O autor do livro, Anselm Grün, OSB, monge e sacerdote benedito, é nascido em 1945 (acho que ter mais idade conta muito em algumas situações), doutor em Teologia, assessor espiritual e autor de vários livros como: "O céu começa em você", "Se quiser experimentar Deus", "Cada pessoa tem um anjo", O céu começa em você", "Os sonhos no caminho espiritual".
A tradução me parece dificultar a compreensão em alguns pontos ou é o texto original que não é tão claro. No entanto, temos que agradecer o que temos em mãos, algo necessário e sobre o que quase nada se lê, ouve ou se discute, constitui o tema do livro, antes, uma angústia velada que encontra nele muito alívio e entendimento. O autor fala de que os místicos que escrevem suas experiências têm um grande problema em achar as melhores palavras para se exprimir. Talvez more aí a causa de algumas dificuldades que encontrei na leitura.
O que apresento aqui é um resumo do texto do autor, recortes pinçados na verdade.
O livro nos propõe vencer a dicotomia corpo e alma, sexualidade e amor a Deus, e mais do que isto, aprender dos místicos que "a sexualidade é uma fonte de espiritualidade e que o eros tem a tarefa de conduzir a pessoa a tornar-se uma só realidade com Deus."(p. 1 e 2).
Comecemos por rever o que é mística e o que é eros.
Mística (p. 1 - 10)
Diversos são os conceitos. Abaixo segue alguns apresentados na obra, alguns de maior complexidade que outros, mais amplos:
1. Mística equivale à espiritualidade.
2. Refere-se somente à experiências extraordinárias de Deus.
3. "tornar-se uno pela pessoa (pela sua consciência) com um princípio divino". (Bierwaltes, 1987, p. 39).
4. "a tomada de consciência direta da presença do divino"e...o fenômeno originário de maior intensidade e da interioridade mais vital" (L. Richter, RGG, p. 1237).
5. "A experiência mística é um evento cognitivo e/ou de amor entre o ser humano e Deus, orientado ao mistério, dificilmente comunicável, derradeiramente inefável, experimentado pelo ser humano como gratuito e como dom de uma uniào com Deus, sem esforço". (Haas, 1989, p.43).
6. Na mística nào está em jogo uma assimilaçào de Deus (homoiosis), mas de tornar-se uno com ele (henosis)". "O místico nunca é idealista, mas realista". (Struve, 1981, p.124). Nào está em questào a perfeiçào, mas a realidade.
7. A mística consiste em estar desperto e atento: "A meu ver a mística consiste em estar atentos nào aos porquês muito distantes, mas às raízes vitais das coisas e pessoas totalmente próximas a nós...". (Roeck, 1991, p.88).
8. O termo deriva do adjetivo grego mystikos, correlato ao verbo myo, que quer dizer fechar os olhos e a boca para a transformação interior num mistério, e do verbo myeo, significando introdução aos mistérios.
8.1 Platão desenvolve uma mística filosófica "onde se une a ascese do espírito à visào espiritual mais alta e verdadeira, através do erotismo". (Haas, 1989, p.29).
8.2 A filosofia neoplatônica compreende a mística nào mais em nível cultural, mas espiritual. A mística é conhecimento de uma verdade envolta pelo mistério. Ela se refere ao ocultamento do divino fundamento do ser, que pode ser interiorizado somente por aquele que se separa da multidão, abrindo-se para Deus pela ascese e pela meditação. (Wulf, 1963, p.182)
Considerando a história da mística, temos dois tipos diferentes de mística:
1. Uma está em unir-se a Deus no fundo da própria alma - mística da essência.
2. Outra é a mística do amor.
A síntese integradora dos dois tipos é mais realista: para a mística do tornar-se uno está em jogo o amor a Deus que plenifica o nosso mais profundo desejo, assim como, para a mística do amor está em jogo o tornar-se uno e fundir-se com o amado.
Esta síntese nos libera da impressão de que a mística tem sempre a ver com experiências extraordinárias e com piedosas efusões da alma, além de também libertar da tentadora oposição de alguns teólogos entre uma mística do tu e outra do ser. Na tradição cristã o que se vê é a presença de ambas polaridades:
1. A procura de Deus por parte do amante, o debruçar-se para o amado e;
2. Tornar-se uno com Deus no fundo da minha alma.
Eros (p. 10 - 11)
Também de Eros temos diversos conceitos, que seguem abaixo:
1. Na mitologia grega ora temos que eros é o primeiro dos deuses e une os opostos.
2. Ora nos mitos gregos eros é um garotinho selvagem, independentemente de idade ou classe social, fere o coração dos seres humanos.
3. Para Platão eros é "um ser intermediário entre mortais e imortais".
4. Jung fala da escala erótica das quatro mulheres: Eva, Helena, Maria e Sofia (Jung, 1973, §210), sendo:
4.1 Eva: a mãe originária.
4.2 Helena: eros como predominância sexual, sobre um plano estético e romântico.
4.3 Maria: "eleva o eros à devoção religiosa e depois o espiritualiza".
4.4 Sofia: representa a sabedoria de eros; "revela uma espiritualização de Helena, portanto, de eros simplesmente". Portanto, eros é mais que sexualidade.
Portanto, eros é mais que sexualidade.
"Eros está numa relação com a sexualidade, porém não coincide com ela...Eros pode penetrar a sexualidade, humanizá-la, porém, em definitivo, a supera. É um 'potencial energético' (P.K. Kurz) que não apenas produz atração sexual, mas põe também a pessoaem relação com a língua, o mundo, a natureza, a profissão e os grupos sociais, com a arte. Na ausência de eros, dificilmente dar-se-á uma religião que toque e comova o coração" (Stoeckle, 1988, p. 332s.)
Quando falamos de Mística e Eros, eros:
- pode ser a força motriz - Eva - que nos conduz a unir-nos a Deus.
- pode agredir-nos e ferir-nos - Helena - principalmente como o adolescente selvagem da mitologia grega.
- segundo Sócrates, tem "em si o impulso para a salvação e a cura - Maria.
- é energia psíquica que nos estimula porque se trata de crescer - Sofia - nos abrir a procura do belo e do mais belo, da verdade.
Segundo o Simpósio de Platão, com o qual podemos perceber que a escala erótica de Jung se relaciona:
- eros é o deus que cria, o espírito criativo do homem - Eva.
- eros é aquele impulso em nós que nos faz desejar a uniào com uma outra pessoa num amor sexual ou de outra forma - Helena.
- eros é o desejo pela totalidade, pelo sentido, pela integração" - Maria.
- eros desperta em nós o desejo de saber, faz-nos procurar apaixonadamente a união com a verdade - Sofia. (Müller, 1989, p. 65)
Eros como desejo de fusão com o amado e como procura da verdadeira vida nos impulsiona sempre de novo para:
- o caminho espiritual
- nos tornar unos com Deus
- crescermos além de nós mesmos e podermos respousar no êxtase de amor em Deus.
Mística e Eros (p. 12 a 13)
A ligação da Mística e Eros tem valor para todos, celibatários ou não, que queiram viver a sexualidade de tal modo que, transcendendo-a, possam chegar a Deus.
Referência:
GRÜN, A.; RIEDL, G. Mística e eros. Curitiba: Lyra Editorial, 2002. p. 1 - 13.
O autor do livro, Anselm Grün, OSB, monge e sacerdote benedito, é nascido em 1945 (acho que ter mais idade conta muito em algumas situações), doutor em Teologia, assessor espiritual e autor de vários livros como: "O céu começa em você", "Se quiser experimentar Deus", "Cada pessoa tem um anjo", O céu começa em você", "Os sonhos no caminho espiritual".
A tradução me parece dificultar a compreensão em alguns pontos ou é o texto original que não é tão claro. No entanto, temos que agradecer o que temos em mãos, algo necessário e sobre o que quase nada se lê, ouve ou se discute, constitui o tema do livro, antes, uma angústia velada que encontra nele muito alívio e entendimento. O autor fala de que os místicos que escrevem suas experiências têm um grande problema em achar as melhores palavras para se exprimir. Talvez more aí a causa de algumas dificuldades que encontrei na leitura.
O que apresento aqui é um resumo do texto do autor, recortes pinçados na verdade.
O livro nos propõe vencer a dicotomia corpo e alma, sexualidade e amor a Deus, e mais do que isto, aprender dos místicos que "a sexualidade é uma fonte de espiritualidade e que o eros tem a tarefa de conduzir a pessoa a tornar-se uma só realidade com Deus."(p. 1 e 2).
Comecemos por rever o que é mística e o que é eros.
Mística (p. 1 - 10)
Diversos são os conceitos. Abaixo segue alguns apresentados na obra, alguns de maior complexidade que outros, mais amplos:
1. Mística equivale à espiritualidade.
2. Refere-se somente à experiências extraordinárias de Deus.
3. "tornar-se uno pela pessoa (pela sua consciência) com um princípio divino". (Bierwaltes, 1987, p. 39).
4. "a tomada de consciência direta da presença do divino"e...o fenômeno originário de maior intensidade e da interioridade mais vital" (L. Richter, RGG, p. 1237).
5. "A experiência mística é um evento cognitivo e/ou de amor entre o ser humano e Deus, orientado ao mistério, dificilmente comunicável, derradeiramente inefável, experimentado pelo ser humano como gratuito e como dom de uma uniào com Deus, sem esforço". (Haas, 1989, p.43).
6. Na mística nào está em jogo uma assimilaçào de Deus (homoiosis), mas de tornar-se uno com ele (henosis)". "O místico nunca é idealista, mas realista". (Struve, 1981, p.124). Nào está em questào a perfeiçào, mas a realidade.
7. A mística consiste em estar desperto e atento: "A meu ver a mística consiste em estar atentos nào aos porquês muito distantes, mas às raízes vitais das coisas e pessoas totalmente próximas a nós...". (Roeck, 1991, p.88).
8. O termo deriva do adjetivo grego mystikos, correlato ao verbo myo, que quer dizer fechar os olhos e a boca para a transformação interior num mistério, e do verbo myeo, significando introdução aos mistérios.
8.1 Platão desenvolve uma mística filosófica "onde se une a ascese do espírito à visào espiritual mais alta e verdadeira, através do erotismo". (Haas, 1989, p.29).
8.2 A filosofia neoplatônica compreende a mística nào mais em nível cultural, mas espiritual. A mística é conhecimento de uma verdade envolta pelo mistério. Ela se refere ao ocultamento do divino fundamento do ser, que pode ser interiorizado somente por aquele que se separa da multidão, abrindo-se para Deus pela ascese e pela meditação. (Wulf, 1963, p.182)
Considerando a história da mística, temos dois tipos diferentes de mística:
1. Uma está em unir-se a Deus no fundo da própria alma - mística da essência.
2. Outra é a mística do amor.
A síntese integradora dos dois tipos é mais realista: para a mística do tornar-se uno está em jogo o amor a Deus que plenifica o nosso mais profundo desejo, assim como, para a mística do amor está em jogo o tornar-se uno e fundir-se com o amado.
Esta síntese nos libera da impressão de que a mística tem sempre a ver com experiências extraordinárias e com piedosas efusões da alma, além de também libertar da tentadora oposição de alguns teólogos entre uma mística do tu e outra do ser. Na tradição cristã o que se vê é a presença de ambas polaridades:
1. A procura de Deus por parte do amante, o debruçar-se para o amado e;
2. Tornar-se uno com Deus no fundo da minha alma.
Eros (p. 10 - 11)
Também de Eros temos diversos conceitos, que seguem abaixo:
1. Na mitologia grega ora temos que eros é o primeiro dos deuses e une os opostos.
2. Ora nos mitos gregos eros é um garotinho selvagem, independentemente de idade ou classe social, fere o coração dos seres humanos.
3. Para Platão eros é "um ser intermediário entre mortais e imortais".
4. Jung fala da escala erótica das quatro mulheres: Eva, Helena, Maria e Sofia (Jung, 1973, §210), sendo:
4.1 Eva: a mãe originária.
4.2 Helena: eros como predominância sexual, sobre um plano estético e romântico.
4.3 Maria: "eleva o eros à devoção religiosa e depois o espiritualiza".
4.4 Sofia: representa a sabedoria de eros; "revela uma espiritualização de Helena, portanto, de eros simplesmente". Portanto, eros é mais que sexualidade.
Portanto, eros é mais que sexualidade.
"Eros está numa relação com a sexualidade, porém não coincide com ela...Eros pode penetrar a sexualidade, humanizá-la, porém, em definitivo, a supera. É um 'potencial energético' (P.K. Kurz) que não apenas produz atração sexual, mas põe também a pessoaem relação com a língua, o mundo, a natureza, a profissão e os grupos sociais, com a arte. Na ausência de eros, dificilmente dar-se-á uma religião que toque e comova o coração" (Stoeckle, 1988, p. 332s.)
Quando falamos de Mística e Eros, eros:
- pode ser a força motriz - Eva - que nos conduz a unir-nos a Deus.
- pode agredir-nos e ferir-nos - Helena - principalmente como o adolescente selvagem da mitologia grega.
- segundo Sócrates, tem "em si o impulso para a salvação e a cura - Maria.
- é energia psíquica que nos estimula porque se trata de crescer - Sofia - nos abrir a procura do belo e do mais belo, da verdade.
Segundo o Simpósio de Platão, com o qual podemos perceber que a escala erótica de Jung se relaciona:
- eros é o deus que cria, o espírito criativo do homem - Eva.
- eros é aquele impulso em nós que nos faz desejar a uniào com uma outra pessoa num amor sexual ou de outra forma - Helena.
- eros é o desejo pela totalidade, pelo sentido, pela integração" - Maria.
- eros desperta em nós o desejo de saber, faz-nos procurar apaixonadamente a união com a verdade - Sofia. (Müller, 1989, p. 65)
Eros como desejo de fusão com o amado e como procura da verdadeira vida nos impulsiona sempre de novo para:
- o caminho espiritual
- nos tornar unos com Deus
- crescermos além de nós mesmos e podermos respousar no êxtase de amor em Deus.
Mística e Eros (p. 12 a 13)
A ligação da Mística e Eros tem valor para todos, celibatários ou não, que queiram viver a sexualidade de tal modo que, transcendendo-a, possam chegar a Deus.
Referência:
GRÜN, A.; RIEDL, G. Mística e eros. Curitiba: Lyra Editorial, 2002. p. 1 - 13.
sábado, 23 de julho de 2011
Aos casais
Poucos casais vivem bem.
Porque pouco suportam (nos sentidos de ser capaz de segurar ou carregar o outro em certos momentos que o outro necessite e de tolerar um pouco do que no outro não é tão agradável assim).
Porque pouco se doam (tem homem e mulher que não sabe ainda o que agrada o outro e nem procura saber. E ainda pior é quando o homem ou a mulher sabe o que o outro gosta e não oferece, não faz, não se esforça, não tenta, não se supera, não quer aprender o que não sabe, e nesses casos as desculpas e justificativas são muitas, esquecendo que pra isso não tem perdão - estar na relação sem empenho, sem interesse, sem alimentá-la).
Porque pouco sabem receber (digo isso porque tem homem e tem mulher que não sabe aproveitar o que ganha do outro, seja um bem material ou um gesto de carinho, não se permite sentir, degustar, desfrutar daquele momento em que o outro está lhe oferecendo seu melhor. O outro precisa do reforço positivo pra continuar fazendo aquele agrado, o outro precisa saber que você gosta do que ele fez, o outro precisa ver o brilho nos seus olhos com o que ele foi capaz de fazer, o outro merece essa recompensa. E se você não gosta de nada que o outro lhe oferece, o que você está fazendo na relação?).
Ou porque cada um dos dois faz isso em tempos e momentos diferentes.
Ou porque só um dos dois faz o que constrói um relacionamento bom e gostoso.
Ou porque têm perspectivas, sonhos, projeções diferentes e não afinaram as cordas do violão da vida. (É isso! Há muitos casais desafinados. E disso eu entendo...afinação. Um ou os dois quer que o relacionamento se harmonize sem ter que usar o ouvido. Sim! Para afinar um instrumento é preciso ouvir bem, ouvir muito, ouvir com cuidado e atenção. Depois é preciso ajustar o som, corrigir, a exemplo de um violão, apertando ou frouxando a tensão das cordas. E o curioso é que um instrumentista raramente se desfaz de seu instrumento, mesmo que ele não esteja "segurando" a afinação, a primeira coisa que pensa é em consertar e conservar. Haveria mais cuidado com um instrumento musical do que com um parceiro?).
Mas há casais que vivem bem.
Nem sempre na mesma casa.
Nem sempre numa relação assumida.
Nem sempre numa relação de mesmices, como a mesma idade, a mesma formação, a mesma religião, a mesma etnia, as mesmas preferências, a mesma renda, as mesmas posses.
Nem sempre aos olhos dos outros.
Nem sempre alegres ou saudáveis.
Nem sempre com todas as necessidades básicas supridas.
Nem sempre profissionalmente e socialmente bem colocados.
Nem sempre com o acesso aos bens culturais que gostariam.
Nem sempre provocando melhorias sociais.
Mas sempre juntos! Alternando o olhar um para o outro e os dois para o mesmo ponto. Num exercício como diria Teilhard Chardin...de centração e descentração.
Mas sempre procurando fazer bem ao outro.
Mas sempre procurando corrigir o que não foi bom.
Mas sempre desenterrando pequenas gentilezas.
Mas sempre discernindo a hora de calar e de falar.
Mas sempre escolhendo o melhor jeito de fazer ou de dizer.
Mas sempre com a intenção de que tudo dê certo.
E é isso que será medido: o quanto amou. E amar é tudo aquilo que já postei em 12.07.10 com o título "Amar".
Não importa quantos anos durou. Importa quanto amou durante qualquer tempo.
O casal que vive bem ama muito.
E a gente sabe. A gente vê. A gente devia chegar perto e dar os parabéns.
Está no cenho, nos gestos, no tom de voz, na graça...isso mesmo...ela se enfeita...ele estufa o peito.
Aparências só?
Acredita que são só aparências mesmo?
O corpo fala, já dizia Pierre Weil. E eu acredito nisso.
Sim, casais que vivem bem ficam bem na foto a qualquer hora, vem de dentro o que modela o corpo.
Viva os casais que vivem bem, de qualquer geração, de qualquer classe econômica, de qualquer lugar, de qualquer tempo, de uma relação consumada ou sublimada, mas de uma relação que faz cada um dos dois crescer e dilatar até religar com o sagrado.
Porque pouco suportam (nos sentidos de ser capaz de segurar ou carregar o outro em certos momentos que o outro necessite e de tolerar um pouco do que no outro não é tão agradável assim).
Porque pouco se doam (tem homem e mulher que não sabe ainda o que agrada o outro e nem procura saber. E ainda pior é quando o homem ou a mulher sabe o que o outro gosta e não oferece, não faz, não se esforça, não tenta, não se supera, não quer aprender o que não sabe, e nesses casos as desculpas e justificativas são muitas, esquecendo que pra isso não tem perdão - estar na relação sem empenho, sem interesse, sem alimentá-la).
Porque pouco sabem receber (digo isso porque tem homem e tem mulher que não sabe aproveitar o que ganha do outro, seja um bem material ou um gesto de carinho, não se permite sentir, degustar, desfrutar daquele momento em que o outro está lhe oferecendo seu melhor. O outro precisa do reforço positivo pra continuar fazendo aquele agrado, o outro precisa saber que você gosta do que ele fez, o outro precisa ver o brilho nos seus olhos com o que ele foi capaz de fazer, o outro merece essa recompensa. E se você não gosta de nada que o outro lhe oferece, o que você está fazendo na relação?).
Ou porque cada um dos dois faz isso em tempos e momentos diferentes.
Ou porque só um dos dois faz o que constrói um relacionamento bom e gostoso.
Ou porque têm perspectivas, sonhos, projeções diferentes e não afinaram as cordas do violão da vida. (É isso! Há muitos casais desafinados. E disso eu entendo...afinação. Um ou os dois quer que o relacionamento se harmonize sem ter que usar o ouvido. Sim! Para afinar um instrumento é preciso ouvir bem, ouvir muito, ouvir com cuidado e atenção. Depois é preciso ajustar o som, corrigir, a exemplo de um violão, apertando ou frouxando a tensão das cordas. E o curioso é que um instrumentista raramente se desfaz de seu instrumento, mesmo que ele não esteja "segurando" a afinação, a primeira coisa que pensa é em consertar e conservar. Haveria mais cuidado com um instrumento musical do que com um parceiro?).
Mas há casais que vivem bem.
Nem sempre na mesma casa.
Nem sempre numa relação assumida.
Nem sempre numa relação de mesmices, como a mesma idade, a mesma formação, a mesma religião, a mesma etnia, as mesmas preferências, a mesma renda, as mesmas posses.
Nem sempre aos olhos dos outros.
Nem sempre alegres ou saudáveis.
Nem sempre com todas as necessidades básicas supridas.
Nem sempre profissionalmente e socialmente bem colocados.
Nem sempre com o acesso aos bens culturais que gostariam.
Nem sempre provocando melhorias sociais.
Mas sempre juntos! Alternando o olhar um para o outro e os dois para o mesmo ponto. Num exercício como diria Teilhard Chardin...de centração e descentração.
Mas sempre procurando fazer bem ao outro.
Mas sempre procurando corrigir o que não foi bom.
Mas sempre desenterrando pequenas gentilezas.
Mas sempre discernindo a hora de calar e de falar.
Mas sempre escolhendo o melhor jeito de fazer ou de dizer.
Mas sempre com a intenção de que tudo dê certo.
E é isso que será medido: o quanto amou. E amar é tudo aquilo que já postei em 12.07.10 com o título "Amar".
Não importa quantos anos durou. Importa quanto amou durante qualquer tempo.
O casal que vive bem ama muito.
E a gente sabe. A gente vê. A gente devia chegar perto e dar os parabéns.
Está no cenho, nos gestos, no tom de voz, na graça...isso mesmo...ela se enfeita...ele estufa o peito.
Aparências só?
Acredita que são só aparências mesmo?
O corpo fala, já dizia Pierre Weil. E eu acredito nisso.
Sim, casais que vivem bem ficam bem na foto a qualquer hora, vem de dentro o que modela o corpo.
Viva os casais que vivem bem, de qualquer geração, de qualquer classe econômica, de qualquer lugar, de qualquer tempo, de uma relação consumada ou sublimada, mas de uma relação que faz cada um dos dois crescer e dilatar até religar com o sagrado.
segunda-feira, 18 de julho de 2011
Uma sensação na pele
Aproveito de uma reportagem antiga (05.07.07) pra propor uma campanha.
Observe na foto abaixo a postura do macaco, o aninhamento, o aconchego. Ele sabe que não é a mãe? Claro que sabe. Não há calor. Não há movimento. Não há emissão de som. Mas há uma sensação na pele de toque suave, agradável, sutil, mesmo que não o segure, não o agarre, não o enlace. E mesmo sem calor, sem movimento e sem enlace, só pelo toque suave ele busca de novo, ele se agarra.
Quem desconhece essa sensação deveria ficar sozinho uns dias e depois disso experimentar o toque da pelúcia, para além de entender a situação racionalmente poder entendê-la empiricamente. Com isto consegueria imaginar melhor o que passsam crianças, jovens, adultos e idosos em situação de abandono, quer em instituições sociais ou pior, também em suas próprias casas.
A campanha é simples e você já deduziu: "Dê um bichinho de pelúcia a alguém", há sempre uma carência de afeto a ser suprida em algum momento da vida". Isto é pouco frente ao calor humano que lhe é devido e não lhe chega, mas ameniza a ausência. Diriam os céticos que isto é palhativo, é panaceia, é engodo. Como queiram, mas antes experimentem na própria carne.
As creches, os hospitais, os asilos, as salas de espera, as salas de atendimento de alunos em escolas, as salas e os quartos de toda casa deveriam estar recheados de bichinhos de pelúcia, à disposição, para todo e qualquer momento, principalmente nestes tempos de alta modernidade, em que o risco de "reclusão individual patológica" (expressão por mim cunhada quando construía a dissertação de Mestrado) se faz bastante presente.
Se não é a solução, e de fato não, assim como em alguns casos de câncer a quimioterapia e a radioterapia não são, mas apenas prolongam a vida, também o toque suave da pelúcia pode prolongar a vida até que se tenha outra chance de afeto real, através da palavra, do olhar, da empostação e flexão de voz, do toque de pele humana, do abraço.
À propósito, seres humanos têm se utilizado da relação com animais domésticos durante essa espera, eu ainda prefiro os de pelúcia, até porque o risco de provocarem crises alérgicas diminuiu muito com a carcterística de "laváveis".
À propósito, seres humanos têm se utilizado da relação com animais domésticos durante essa espera, eu ainda prefiro os de pelúcia, até porque o risco de provocarem crises alérgicas diminuiu muito com a carcterística de "laváveis".
"Nada substitui o talento" dizia a propaganda do prêmio da Rede Globo "Profissionais do ano" aos melhores publicitários e, assim também os bichinhos de pelúcia não substituem o afeto, a campanha é só um caminho para ele, é um alerta para a falta dele.
Ali, um filhote de macaco-aranha, foi encaminhado para o Hospital Veterinário do Zoológico de Sapucaia do Sul (RS) depois de ser rejeitado pela mãe. Ele tem 7 meses e é "criado artificialmente" na unidade. Segundo o veterinário Claudio Giacomini, Ali fica agarrado a um bicho de pelúcia para se sentir protegido. "É a referência dele. Se tivesse a mãe, ele estaria agarrado a ela", afirma (Foto: Miro de Souza/ Ag. RBS)
Fonte: http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL64260-5598,00.html
quinta-feira, 7 de julho de 2011
Tributo aos educadores
Depois de um episódio de sofrer a ação de extrema falta de civilidade de uma pessoa no trabalho, exorcisei os demônios que me convulsionavam, pegando a estrada à noite, aliás, toda bem sinalizada como requer a modernidade para conforto e segurança da vida humana, e acelerando nos melhores pontos, pra desfrutar calmamente da sinuosidade de outros, enquanto ouvia Rock Light. O destino era a luz no ponto de fuga, que curiosamente coincidia com um lugar que abrigou por algum tempo uma pessoa altamente civilizada, excessivamente perspicaz e visionária, extremamente objetiva e firme, equilibradíssima, amorosa apesar de raramente afetuosa. Acho que fui procurar "colo", como se o lugar guardasse a essência dessa pessoa. Bastou o tempo relativamente rápido de ir e vir, sem parada alguma, para destilar o veneno acumulado no fígado. E aí foi possível pensar no reverso da moeda, no avesso daquela situação inadmissível de deselegância, de selvageria, de curta visão, de ignorância, de descontrole, de amoralidade, de mediocridade a que me obriguei ficar por um tempo.
Não posso deixar de lembrar o que disse-me o ex-marido advogado uma vez, que eu devia fazer o curso de Direito e trabalhar com tribunal de júri, não perderia um. Acho que levei a sério isso sem entrar oficialmente para o campo de trabalho jurídico, mas sim no campo dos embates quaisquer que se nos apresentam, e são muitos no exercício da minha profissão. E fazer um leão que ruge miar como um gatinho demanda muita energia, coisa que salário algum paga, mas paga ao menos a dose pra aliviar o dia...rs.
O reverso do desrespeito, do desconhecimento, da falta de delicadeza com os profissionais da educação, tentei expressar no texto que segue, validando o precioso trabalho do educador, dando-lhe o justo feedback.
Caríssimos Professores, Educadores,
boa noite!
Começarei por comentar esta forma de tratamento que gosto de usar, e em especial com vocês...”Caríssimos”. Talvez para alguns gere até uma desconfiança...”Será que é costume dela usar? Será que ela está sendo sutilmente irônica? Será que ela é assim superlativa, "hiperbólica", exagerada? Será que aprendeu nos livros, achou “chique” e resolveu figurar de “letrada”? Será que realmente ela me acha uma pessoa cara?
Qualquer coisa que eu diga, só se tornará verdade pra você se você sentir, perceber, constatar coerência entre o que eu lhe digo e o que lhe faço no dia-a-dia. Bem, espero mesmo que em nosso cotidiano, em nosso sempre pouco convívio, eu consiga ser coerente com o que de fato quero dizer com “Caríssimos”:
VOCÊ É UMA PESSOA IMPORTANTÍSSIMA!
Primeiro porque é gente. E isso basta. E isso é suficiente para justificar o “caríssimos”.
Mas há outros motivos:
- VOCÊ SE FAZ LUZ NO FUNDO DO TÚNEL DA IGNORÂNCIA!
- VOCÊ É UM GIGANTE EMOCIONALMENTE, SUPERANDO-SE DIARIAMENTE NA CAPACIDADE DE AUTOCONTROLE, COMPREENSÃO E RECONDUÇÃO DOS NÍVEIS DE CIVILIDADE, MUITAS VEZES EM DECLÍNIO À SUA VOLTA.
- VOCÊ ABRAÇOU, APAIXONADO (A) O ÚNICO CAMINHO DE SUCESSO E DE FELICIDADE REAL, O DA EVOLUÇÃO, DO CRESCIMENTO, EM TODOS OS SENTIDOS. Como sei que é apaixonado (a) pela evolução e crescimento? Simples. Você quer que outros sigam o mesmo caminho...por isso é educador...não consegue guardar só pra você o que sabe, o que vislumbra.
- VOCÊ MOVE A HUMANIDADE PARA FRENTE E PARA CIMA, E COM SEU HUMANISMO CRISTÃO OU NÃO, DÁ À GERAÇÃO MAIS NOVA OUTRAS POSSIBILIDADES DE VISÃO DE MUNDO QUE NÃO APENAS A MERCANTILISTA, A DO INDIVIDUALISMO, A DA EXPLORAÇÃO, A EGOCENTRISTA, A UTILITARISTA, A IMEDIATISTA, A REDUCIONISTA. Você sabe “usar as coisas” e “amar as pessoas”.
- VOCÊ TEM O PODER DE SOBREVOAR AS SITUAÇÕES MEDÍOCRES CRIADAS POR QUEM TEM POR HORIZONTE APENAS SEU UMBIGO; VER LONGE AS GRANDEZAS A SEREM ALCANÇADAS E; INCANSÁVEL E ESTRATEGICAMENTE FAZER ALÇAR VÔO OS DE ALMA LEVE E SEDENTOS DE CONHECIMENTO.
- VOCÊ SE FAZ PRÓ-ATIVO (A) ONDE E QUANDO HAJA UMA SITUAÇÃO EXIGINDO DIREÇÃO, MOVIMENTO, RESULTADOS.
- VOCÊ NÃO TEM SIDO RESPEITADO (A) E VALORIZADO (A) DE FORMA JUSTA POR GRANDE PARTE DA SOCIEDADE E TEM SUPORTADO ATÉ CONDIÇÕES FINANCEIRAS E MATERIAIS AQUÉM DO QUE OUTRA PROFISSÃO PODERIA PROPORCIONAR, PELO IDEAL DE UM MUNDO MELHOR.
- VOCÊ É UM EQUILIBRISTA, SEMPRE FAZENDO TUDO DAR CERTO, APESAR DE TANTOS EMPECILHOS E REVESES.
- VOCÊ RESISTE À TENTAÇÃO E ÍMPETO DE EXPLICAR O VALOR DE SEU TRABALHO, OU QUANDO O FAZ, É SEMPRE COM A DEVIDA AUTORIDADE E INDIGNAÇÃO DE QUEM ESPERAVA QUE O OUTRO JÁ SOUBESSE.
- VOCÊ NÃO SE VENDE, NÃO NEGOCIA PRINCÍPIOS, VALORES, NÃO PERMITE QUE AVILTEM SUA INTEGRIDADE, FAZ-SE RESPEITAR E “EXPULSA OS VENDILHÕES DO TEMPLO” QUE SONHAM E TENTAM TRANSFORMAR A ESCOLA EM CASA DE COMÉRCIO ONDE POSSAM COMPRAR PARA SEUS FILHOS APROVAÇÕES, PRIVILÉGIOS, PERMISSIVIDADE E COM AMEAÇAS ESCRACHADAS OU SUTIS. Esses só sabem “amar as coisas” e “usar as pessoas”.
Depois desse começo quero apenas dizer: só mais alguns dias e você professor (a) terá as merecidas férias, para que recupere as energias, as crenças, as perspectivas, os sonhos.
Desejo que a vida lhe presenteie com tudo que há de bom, de belo, de verdadeiro porque você merece receber multiplicado o que dá.
Eu lhe agradeço pelo mundo melhor de amanhã.
segunda-feira, 4 de julho de 2011
Comunhão humano-divina
Todas as comunhões que estabelecemos com as pessoas, ou tentamos estabelecer, são expressões da busca da única comunhão que sacia, que completa, que é plena, a comunhão com o Absoluto. Quando conseguimos estabelecer comunhão com alguém, experimentamos um pouquinho do que é a comunhão com Deus, mas como somos imperfeitos, queremos mais, e de novo, e tudo, e continuamos procurando. Essa é, então, a nossa chance de não nos satisfazendo com o outro, encontrarmos Deus no pão e no vinho.
Sacramento da Comunhão
Fonte:
http://www.youtube.com/watch?v=mK-2D3qo-f8
Sacramento da Comunhão
Fonte:
http://www.youtube.com/watch?v=mK-2D3qo-f8
domingo, 3 de julho de 2011
Os últimos dias
Meu purgatório é molhado, frio e escuro, tal qual os últimos dias.
Opa! Onde estou?
Pagando dívidas? Fazendo novas?
Vivi muitos anos sem dever coisa alguma
e acabei por pagar a conta dos outros.
Agora tenho feito eu alguns "cachorros".
Será que pra eu entender aqueles (aqueles outros)?
Será que pra aqueles se entenderem?
Será que pra eu cortar minhas falsas asas?
Será que me contaminei?
Será que limpei as lentes do meu óculos?
Será que ainda vou ter direito a um dia seco, quente e iluminado de sol?
Faço tudo por isso, ainda.
Mas preciso de luz, de calor, de ordem, de cor, de intensidade, de segurança, de profundidade, de vibração, de brilho, de sonho, de conquista, de espaço, de movimento, de repouso, de dividir o pão, de beber o mesmo vinho, de construir conhecimento, de beleza, de confiança, de colo...de absoluto...Absoluto...Esse...Esse que é tudo...que é maior...mais forte...mais sábio...mais afetuoso...mais belo...mais presente...mais fiel...mais humano...e mais divino...Esse...que olha pra mim...que me vê...que me abraça...que ri comigo...que me segura firme...que me encoraja...que não me larga...e que não me prende...que me quer saltitante...que me tira os óculos...que me chama pra festa...que me espera...que me atrai...que me recebe...que me deixa ir... e que me tem sempre de volta...que me satisfaz...que me suporta...que me inspira...que me faz leve...que me quer...que me respeita...que é explícito...que é corajoso...que me afaga...que me corrige...sem me machucar...que sempre vou amar...que sempre vou buscar...que sempre vou encontrar...em cada um que for um pouquinho do Absoluto...um pouquinho amoroso...um pouquinho verdadeiro...um pouquinho belo...um pouquinho bom...um pouquinho Deus.
domingo, 26 de junho de 2011
Voltando pra casa
Depois de um vinho tinto, ouvindo uma música - densa, com uma base pulsante de duas notas no piano, ora na escala aguda, ora na média, acompanhadas por outras notas graves, com o choro das cordas do violoncelo ingressando no corpo da música já em andamento, introduzindo a voz feminina que começa suave e em tom confortável, logo descendo, aparentemente, ao que parece ser o limite de seu registro mais grave, retornando em seguida já embargada, contida, falha, como quem decepcionada lamenta muito, para no momento seguinte puxar o ar entre os dentes como faz quem sente dor e está cansada de sentí-la, invadida pela caixa da percussão que vem atrás dando ares de glória à marcha pesada da angústia enfeitada pelo sopro de um dos metais, na qual depois entra um coro masculino seguido de outro feminino sublimando a tormenta com uma simbólica harmonia, a partir do que tudo cresce ritimado pelo pulso das duas notas que reaparecem e suavizam, com uma notação de ralentando, fazendo parecer que tudo termina bem - volto pra casa.
Assim, no retorno, fixando o olhar em perspectiva na estrada toda iluminada, vejo o que não queria...só luzes artificiais pretenciosas, de pouco alcance, incapazes de mudarem noites em dias, oferecendo apenas um trânsito "evitativo" de colisões. Ora, é preciso maior luminosidade para que sob o efeito prolongado do vinho, eu ouça uma música densa e não sofra suas reações no rítmo dos saltos sanguíneos no interior dos dutos que insistem em funcionar. Ora, é preciso visão de uma grande extensão do horizonte, é preciso visão das cores das coisas, é preciso visão de um futuro belo, quente e bom logo ali pra "evitar" que a água do mar não seja a única a salgar a pele do rosto.
Para não depender da imaginação, a música ouvida há pouco foi esta:
Have to drive, de Amanda Palmer
Fonte:
http://www.youtube.com/watch?v=ea18wSkrK5g
sexta-feira, 24 de junho de 2011
Antissocial: de comportamento eventual a transtorno
Todos nós convivemos com pessoas mais velhas, aqui ressalto um grupo delas, o grupo das verdadeiramente muito experientes, daquelas que vivem muitas coisas diversas e profundamente, que nao deixam passar coisa alguma em branco, que tudo associam, tudo analisam em busca de conclusões, de sínteses integradoras. Essas constroem sabedoria, sem necessariamente serem diplomadas pela academia. Por essas pessoas sábias é que costumo dizer aos meus pupilos: "A geração que não respeita, não ouve, não considera, não se curva à geração anterior está fadada ao fracasso".
A sabedoria popular dos mais velhos não diplomados tem algo de tosco para alguns, de óbvio para outros, de tácito para muitos, de instigante para os cientistas, de grandioso para os perspicazes, de admirável para os humildes.
Outro dia busquei informações científicas recentes sobre comportamentos inadequados e difíceis na infância, na adolescência, juventude e vida adulta, afim de melhor identificar e orientar a evitação e/ou tratamento daqueles que estão sob minha responsabilidade.
Visitei o site Scielo (Scientific Eletronic Library Online) - uma biblioteca virtual de publicações de artigos científicos internacional, com apoio do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), e nos periódicos da área de Psicologia fiz a busca por "comportamento antissocial", encontrando apenas dois artigos, dos quais comento aqui um deles:
"Estabilidade do comportamento anti-social na transição da infância para a adolescência: uma perspectiva desenvolvimentista"
Obs. O artigo foi publicado em 2005, depois disso veio o novo acordo ortográfico, por isso a mudança na forma de escrever anti-social para antissocial, pelas novas regras do uso do hífen.
Os autores :
Janaína Pacheco é Psicóloga, Mestre e Doutora em Psicologia do Desenvolvimento pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É docente do Curso de Psicologia da Universidade Luterana do Brasil/ Gravataí.
Patrícia Alvarenga é Psicóloga, Mestre e Doutora em Psicologia do Desenvolvimento pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É docente da Universidade Federal da Bahia.
Caroline Reppold é Psicóloga, Mestre e Doutoranda em Psicologia do Desenvolvimento pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É docente do Centro Universitário FEEVALE.
César Augusto Piccinini é Psicólogo, Doutor em Psicologia pela University of London. É docente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Cláudio Simon Hutz é Pós-doutor pela Arizona State University. É docente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Para seu acesso:
O que o artigo faz é trazer as inúmeras pesquisas, muitas norte-americanas sobre o assunto ou periféricas, para estabelecer o "estado da arte" e acabar concluindo o fator desenvolvimentista do comportamento antissocial.
Segue um resumo do artigo, para uma rápida compreensão, mas não deixem de ver o artigo com toda referência das pesquisas.
RESUMO
1. Introdução
Os problemas comportamentais e emocionais podem ser classificados em
a) Problemas de externalização (com o ambiente) e;
b) Problemas de internalização ( com o self)
1.1 Características do comportamento antissocial e/ou problemas de externalização:
- agressividade;
- impulsividade (baixo controle);
- delinquência (roubos);
- desobediência (fugas);
- oposicionismo;
- temperamento exaltado.
1.2 Características dos problemas de internalização:
- depressão;
- ansiedade;
- retraimento social;
- queixas somáticas.
2. Comportamento antissocial pode desenvolver, compor:
2.1 Transtorno de Conduta (TC):
- Padrão repetitivo e persistente de violação dos direitos básico dos outros ou das normas ou regras sociais importantes apropriadas à idade (DSM-IV, p. 84).
- Agressão, destruição de coisas, furtos, violação às regras.
2.2 Transtorno Desafiador Opositivo (TDO):
- Menos severo do que o Transtorno de Conduta.
- Padrão de comportamento negativista, desafiador, impaciente, vingativo e hostil. Atos de teimosia e desobediência, dificuldade em assumir erros, intenção deliberada para incomodar outras pessoas.
- Discute-se ainda a possibilidade de considerar a agressividade como um marcador para o TOD ou TDO (Transtorno Opositor Desafiante).
2.3 Transtorno de Personalidade Antissocial (TPA):
- Padrão anti-social inflexível e duradouro ao longo do desenvolvimento.
- Diagnóstico só a partir dos 18 anos e ter apresentado evidências de TC desde antes dos 15 anos.
3. Associações clínicas
3.1 Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade
- Distúrbio do neurodesenvolvimento
- provoca ao portador prejuízos sociais por:
· Baixa tolerância à frustração e
· Conflitos nos contextos familiar, acadêmico e ocupacional.
3.1.1 Sua relação com o comportamento antissocial é explicada por duas hipóteses:
a) Comorbidade entre TDAH e os transtornos que envolvem comportamento antissocial (Transtorno Desafiador Opositivo e Transtorno de Conduta)
b) TDAH e transtornos que envolvem comportamento antissocial (TDO e TC) compartilham etiologia comum, a saber: interação estabelecida entre uma criança com características de temperamento difícil e cuidadores relativamente não-responsivos.
- Entende-se aqui que o TDAH seria um estágio inicial e o comportamento antissocial, uma manifestação posterior.
· O que favoreceria a evolução de TDAH para comportamento antissocial seriam práticas educativas e disciplinares ineficazes, ambiente que permitiria a ocorrência de atos antissociais.
4. O desenvolvimento do comportamento antissocial
- Segundo pesquisadores (citados na referência do artigo) esse padrão é adquirido na infância, aprendido nas interações sociais, particularmente com membros da família e sofre alterações por exigências do ambiente e do próprio desenvolvimento.
- O comportamento antissocial é um padrão de resposta cuja consequência é maximizar gratificações imediatas e, evitar ou neutralizar as exigências do ambiente social.
- O comportamento antissocial pode apresentar-se em:
· Comportamentos abertos: brigar, desobedecer, xingar e bater.
· Comportamentos velados: mentir, roubar, fugir de casa, trapacear.
- Indivíduos antissociais utilizam comportamentos aversivos para modelar e manipular as pessoas à sua volta.
- Os membros da família treinam diretamente esse padrão comportamental na criança. Os pais não reforçam positivamente as iniciativas pró-sociais e fracassam no uso de técnicas disciplinares para enfraquecer comportamentos desviantes.
- Além disso, usam de disciplina severa e inconsistente, com pouco envolvimento parental e pouco monitoramento e supervisão do comportamento da criança.
- Em algumas ocasiões ainda o comportamento antissocial é reforçado positivamente, através de atenção ou aprovação, mas principalmente é mantido pelo reforço negativo.
- A criança se utiliza de comportamentos aversivos para interromper a solicitação ou a exigência de um outro membro da família.
- A aprendizagem do comportamento antissocial ocorreria paralelamente a um déficit na aquisição de habilidades pró-sociais.
- Os comportamentos aversivos da infância, tais como: chorar, gritar, implicar, ameaçar e ocasionalmente bater podem evoluir para os comportamentos antissociais tais como: brigar, roubar, assaltar e usar drogas. Os comportamentos antissociais da infância podem evoluir para comportamentos deliquentes mais tarde. A delinquência, então, é o agravamento de um padrão antissocial que inicia na infância.
5. Estabilidade do comportamento antissocial
- O que contribui para a manutenção e escalada do comportamento antissocial?
Segundo o Modelo de Coerção proposta pelos pesquisadores Patterson e colaboradores (1992):
1º A criança aprende o comportamento antissocial com os pais por dois fatores quando seu comportamento aversivo (gritar, chorar, bater):
a) Consegue evitar exigências dos pais; e
b) Torna difícil seu monitoramento e os pais acabam permitindo que ela fique mais tempo fora de casa, sem supervisão.
2º A criança apresenta dificuldades de aprendizagem e fracasso acadêmico.
3º A criança liga-se a grupos de pares que também apresentam problemas de comportamento.
Obs. O comportamento antissocial pode ocorrer mesmo em indivíduos que não pertençam a um grupo de pares antissociais.
- Crianças e adolescentes antissociais frequentemente tornam-se adultos com dificuldade de permanecer em um emprego e em um casamento.
- Fatores que favorecem a continuidade ou agravamento dos comportamentos antissociais:
1. Hereditariedade (Pelo menos um dos pais manifesta comportamento antissocial)
2. Intensidade do comportamento
3. Variedade dos atos antissociais
4. Idade de início desse padrão na fase pré-escolar
5. Os atos antissociais ocorrem em mais de um ambiente
- Idade de início e persistência dos atos antissociais são preditores de:
· Severidade dos comportamentos antissociais
· Isolamento social
· Evasão escolar
· Uso de drogas
- Quando o comportamento antissocial aparece na fase pré-escolar como comportamento oposicionista e desafiador.
- Quando há deficiências neuropsicológicas (impulsividade e déficit de atenção) e riscos sociais e familiares (violência cultural, padrões de socialização parental e situação sócio-econômica).
6. Estabilidade do comportamento antissocial da infância para a adolescência: algumas evidências empíricas
- Os problemas de externalização e comportamentos antissociais aparecem mais na infância do que os de internalização e tendem a evoluírem para casos graves na adolescência e vida adulta.
- O padrão antissocial é mais comum no sexo masculino.
- As primeiras manifestações podem ser detectadas aproximadamente aos 18 meses (agredir os pais e destruir objetos).
- Embora ocorram profundas modificações na forma dos comportamentos coercitivos e antissociais na transição da infância para a adolescência, sua função permanece a mesma: maximizar gratificações e eliminar exigências dos adultos.
- Jovens de 18 anos envolvidos com bebida, cigarro, drogas e promiscuidade, aos 14 anos estiveram envolvidos com roubo e outros delitos; dos 12 aos 14 anos mostraram comportamento agressivo e antes dos 12 mentiram.
- O comportamento antissocial tende a apresentar-se como um padrão estável entre infância e adolescência, dadas determinadas condições ou mesmo como agravante.
7. Considerações finais
- O ambiente social do indivíduo pode gerar o comportamento antissocial, sua manutenção e agravamento.
- O comportamento antissocial está presente nos diversos transtornos emocionais:
TDO – Transtorno Desafiador Opositivo
TC – Transtorno de Conduta
TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade
TPA – Transtorno de Personalidade antissocial
- O comportamento antissocial tem a função de:
· Maximizar as gratificações
· Reduzir ou eliminar as exigências dos adultos
- A trajetória do comportamento antissocial pode explicar a progressão do TDO para TC, para TPA.
- As pesquisas devem contribuir para implementar programas de prevenção e intervenção que minimizem o impacto desses problemas sobre o desenvolvimento e que evitem a continuidade e escalada do comportamento antissocial da infância até a vida adulta.
É bonito perceber a sabedoria popular ratificada pela ciência.
Um exemplo: "É de pequenino que se torce o pepino".
Você lembrou de outro ditado popular enquanto lia o artigo? Comente.
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